41. Dia da gravação...

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Nihara Vitti

A sala de reunião está preparada, e já estou aqui, imersa no ambiente. Logo antes, ao cruzar o corredor e deparar-me com as minhas colegas, não pude esconder o nervosismo que me tomava. Decidi então fazer uma breve parada na minha própria sala, onde busquei um conjunto de terno feminino do meu armário pessoal, apanhei o meu computador e alguns documentos essenciais. 

Com tudo em mãos, tracei o meu caminho até o penúltimo andar, onde se encontram as salas de reuniões. Tomei um banho revigorante e, finalmente, encaminhei-me para a sala onde realizo o meu trabalho. Buscando um refúgio momentâneo e puder evitar responder a perguntas desconfortáveis.

    A minha tentativa de contacto com Tobias, ligando para o seu ramal, revelou-se infrutífera, pois estava ocupado. Sem outra alternativa, mergulhei profundamente nas tarefas que me aguardavam, desejando afastar pensamentos sobre James, minha irmã, meus pais — tudo parece um turbilhão impossível de controlar. É muita coisa para lidar, e o peso disso está me sufocando.

    Agora, Harrison entra na sala. Não conversamos desde o jantar na casa dos tios dele, e ele tem me evitado desde o incidente com Tobias. Além disso, prometi a Tobias que limitaria os nossos encontros de trabalho, o que nem sempre é possível, considerando que sou diretora de criação e ele é diretor de produção. Precisamos constantemente discutir ideias antes de compartilhá-las com o resto da equipa. O equilíbrio entre a nossa relação pessoal e profissional esta prestes a ser testado novamente.

    — Por favor, entre, Harrison. Por que me deixou à espera tanto tempo? — pergunto, fixando-o com um olhar sério.

    — Se ao menos alguém tivesse-me avisado que você estaria aqui, eu teria chegado mais cedo — ele responde, um tanto rápido.

    — A Natalie não lhe disse que eu… — pauso, observando-o balançar a cabeça em negação. — Tudo bem, vamos direto ao ponto.

Entrego-lhe o rascunho contendo as ideias para o anúncio e observo enquanto ele examina cada detalhe em silêncio, uma das sobrancelhas arqueadas e um leve sorriso. Ele demora mais do que o necessário, e então, limpando exageradamente a garganta, chamo a sua atenção. Harrison encara-me por alguns segundos e finalmente diz:

    — Nihara, isso está simplesmente fantástico. Você é incrível, tem uma mente brilhante. É impossível não ficar apaixonado por você.

Ele diz num tom casual. O meu rosto começa a esquentar com essa declaração. Desvio o olhar brevemente, mas logo o encaro, mantendo uma expressão neutra.

    — Por favor, Harrison, vamos manter o foco no trabalho.

Ele balança a cabeça e se ajeita na sua cadeira. Nesse momento, ouvimos uma batida na porta, e a secretária dele se aproxima com uma bandeja contendo uma xícara de café fumegante e outra com chá forte de ervas naturais de Angola, meu país de origem.

Após ele pegar a sua xícara, a mulher se inclina levemente na minha direção, aguardando que eu faça o mesmo. Fico imóvel, olhando o utensílio, hesitando entre aceitar a gentileza do meu colega ou suspeitar de mais uma das suas tentativas de flerte. Afinal, este é meu chá favorito e difícil de encontrar em qualquer lugar, na verdade, em lugar nenhum.

    — Onde você conseguiu essas ervas? — questiono finalmente, decidindo aceitar a bebida, o que parece aliviar a mulher, que já demonstrava impaciência nos seus olhos azuis-turquesa.

    — Isso não é importante — ele responde, parecendo indiferente à minha desconfiança. — Então, podemos começar as filmagens amanhã mesmo.

NÃO POSSO TE AMAR [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora