60. Uma quente reconciliação.

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Nihara Vitti

Toda manhã, quando abro os olhos neste quarto que não tem o aconchego familiar do meu apartamento, me assalta a sensação de que tomei a decisão errada ao aceitar a proposta de Tobias. A casa Bernstorff é grandiosa, os quartos são impecáveis, mas parece que cada cômodo é um lembrete constante da minha escolha.

Hesito diante da tentação de arrumar minhas malas, retornar ao meu cantinho e recuperar minha tão almejada privacidade. Contudo, a consciência do estado frágil da minha gravidez age como um elo invisível, mantendo-me ancorada aqui. O médico foi categórico: "Monitoramento constante é essencial."

De repente, uma sombra do passado se materializa, e as palavras da empregada ecoam em meus ouvidos:

"Senhora Heide dará um jantar e pediu que você se vestisse com essas roupas." A imposição, ainda que envolta em elegância, ressurge, reforçando a sensação de submissão que detesto.

Na cozinha, a voz da senhora Heide ressoa:

"Menina, o que você está comendo? Isso fará mal ao bebê. A partir de hoje, siga este menu." Cada garfada passou a ser controlada, transformando o simples ato de comer em uma experiência sob vigilância constante.

Sacudo a cabeça, soltando um grito abafado contra a almofada. A frustração ganha espaço, alimentada pela resistência às imposições que nunca soube tolerar.

Apesar das vantagens de viver sob o teto dos Bernstorff, a presença opressora da senhora Heide torna a convivência um desafio constante. Controlando cada movimento, impondo regras de etiqueta e comportamento — onde diabos eu me meti?

Em meu apartamento, eu encontraria refúgio no meu saco de pancadas. Cada golpe me ajudaria a liberar a raiva e os sentimentos sufocantes que parecem crescer dentro de mim. A insônia, cruel e persistente, acentua ainda mais a tortura emocional que venho enfrentando. Minha barriga, agora proeminente, impede-me de dormir de barriga para baixo, como costumava fazer e isso me deixa irritada.

As discussões com Tobias sobre os excessos de sua mãe e outros assuntos deixaram-me exausta. A gravidez amplificou minha sensibilidade, tornando-me chorona e menos paciente, apesar de ainda estar aqui, lutando com todas as forças.

Nos últimos dois meses, uma estranha proximidade entre nós cresceu, impulsionada pela expectativa da chegada do bebê e também pela presença constante de Sophie. No entanto, ainda parecemos, como dois estranhos dividindo a mesma casa.

Resisto aos fortes desejos de estar nos braços de Tobias, de ser sua. O fogo dentro de mim intensifica-se, especialmente nas manhãs, e ele não facilita as coisas, aparecendo no meu quarto trocando olhares ou beijando minha barriga. Estou em conflito. Será hora de perdoá-lo e voltar?

Com um salto, levanto-me da cama, consciente de minha nudez. A insônia não me permite dormir com roupas. Caminho até o banheiro, arrumo meu cabelo e visto uma camisola sexy. Não importa que ainda seja madrugada. Continuo em direção ao quarto dele, pronta para me entregar ao fogo que queima por dentro.

Entro no quarto, minha respiração hesitante, meu coração galopando em meu peito. A luz fraca destaca os contornos do seu rosto sereno enquanto ele dorme. Me aproximo com passos leves, deixando que a ponta dos meus dedos tracem suavemente os fios do seu cabelo.

Sinto a textura macia e sedosa sob meu toque, e ajoelho-me lentamente ao lado da cama, incapaz de resistir ao impulso de tocar aquele homem irresistível. Minha mão desliza suavemente por seu peito, sentindo a firmeza dos seus músculos sob a pele.

Tobias, mesmo em sono profundo, reage levemente ao meu toque, um sutil franzir de sobrancelhas e o meu nome sendo mencionado inconscientemente, indicando que minha presença não passa despercebida.

NÃO POSSO TE AMAR [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora