15. Intimação Judicial

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Tobias Bernstorf

Do escritório de casa, observo o pôr do sol através das enormes janelas vidradas, enquanto tento assimilar as informações do documento que acabei de ler. Cada palavra impressa na intimação parece ecoar nos meus ouvidos, aumentando a tensão que já toma conta do ambiente.

    "O senhor está a ser intimado a comparecer ao tribunal judicial na data de vinte e oito de dezembro de dois mil e vinte e um..."

    Daqui a duas semanas.

Um calafrio percorre a minha espinha, e as minhas mãos suam frio ao segurar a nota oficial. Eu realmente achei que ela não faria isso, que fosse apenas os nervos falando, e que quando estivesse mais calma, pensaria melhor. Mas agora a realidade se impõe diante de mim, implacável e cruel.

    Sento-me novamente, os pensamentos em turbilhão, enquanto analiso a intimação com olhos cansados. Respiro profundamente, mas o ar parece escasso, comprimindo o meu peito num aperto angustiante. Aliso a minha barba por fazer, uma prova visual da negligência dos últimos dias, enquanto tento encontrar uma centelha de esperança no meio de tanta incerteza.

    Decido ligar para a advogada, buscando um pouco de alívio nas palavras da profissional que sabe como este processo funciona. O meu dedo treme ao digitar os números no telefone, e a minha mente oscila entre o medo e a determinação. A ligação se arrasta, cada segundo parecendo uma eternidade, até que finalmente a voz profissional da advogada preenche os meus ouvidos.

Enquanto ela fala, tentando tranquilizar-me com o seu otimismo, uma mistura de alívio e apreensão se entrelaça dentro de mim. Não estou com medo do que pode acontecer no tribunal, o meu medo é de como isso afetará a vida da minha filha, uma pequena e frágil flor que já enfrentou adversidades demais curta existência.

    Desligo o telefone, sentindo um suspiro escapar dos meus lábios, como se carregasse um peso insuportável. A solidão do escritório parece mais opressiva agora, e os meus olhos desviam-se para a foto da Sophie, minha filha, sorrindo inocentemente num momento de felicidade.

    A porta do escritório se abre após duas batidas, que me fazem saltar na cadeira, a minha pulsação acelerando.

    — Menino Tobias — Nana olha-me preocupada. — O senhor Steve acaba de chegar, vai recebê-lo aqui?

    — Não, Nana, eu vou descer, conversaremos no jardim. Estou me a sentindo sufocado aqui.

    A mulher de meia-idade, se aproxima, analisa-me por segundos, e logo envolve-me num abraça acolhedor.

    — Vai ficar tudo bem, meu menino. Aquela garota é mais forte do que nós dois juntos, daqui a pouco a voz dela estará a ecoar nesses corredores.

    Nancy dá duas batidinhas no meu peito, e pedi-me para irmos.

    — Obrigada, Nana.

Steve está a conversar com os meus pais na sala de estar, e a tensão paira no ar. A minha mãe parece à beira de um colapso, os seus olhos arregalados refletindo incredulidade, enquanto a suas mãos tremem ao cobrir a boca. O meu pai encara o meu amigo com um misto de choque e negação, como se as palavras que acabou de ouvir fossem simplesmente impossíveis de serem verdadeiras.

Eu aproximo-me e Steve se levanta, cumprimentando-me com um aperto de mão seguido de um abraço rápido. Sinto uma onda de apreensão percorrer o meu corpo, enquanto a minha mente tenta assimilar o que está a acontecer.

    — O que aconteceu? — pergunto, buscando respostas.

Sento-me perto da minha mãe, cujo semblante continua petrificado pelo choque. Seguro a sua mão firmemente, transmitindo o meu apoio silencioso.

NÃO POSSO TE AMAR [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora