56. A carta na manga

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Nihara Vitti

Os jurados e o restante do público sussurram, ecoando as palavras cruéis da avó materna de Sophie. Suas alegações perfuram o ar como lâminas afiadas, deixando Tobias visivelmente abalado. Cada vez que ele lança um olhar para trás, em busca de apoio, encontro seus olhos em busca de conforto.

No entanto, tudo o que posso oferecer no momento é esse olhar solidário. A vontade intensa de envolvê-lo em meus braços e acariciar seus cabelos enquanto sussurro palavras de consolo é quase palpável.

    — Silêncio, por favor — ordena o juiz, batendo o martelo duas vezes, e o tribunal se submete à autoridade da sala.

    A advogada de Tobias se levanta, emanando poder, confiança e segurança em sua postura. Avança em direção ao banco da testemunha, encarando a avó por um momento que parece uma eternidade antes de começar suas perguntas.

    — A senhora questiona a paternidade do meu cliente, baseando-se em um único incidente, ou melhor, acidente que ocorreu. Pode a senhora descrever os primeiros meses da criança após a morte dos pais?

    — Protesto, meritíssimo! — exclama o advogado da parte contrária, interrompendo com veemência. — A pergunta da advogada não tem relação alguma com o assunto em questão.

    — Indeferido. Quero ouvir a resposta da senhora Lehmann. — A ordem do juiz ressoa na sala, impondo um silêncio tenso. A senhora hesita, seus olhos percorrendo a audiência como se a pergunta pesasse fisicamente sobre ela.

    — Depois que perdemos nossa filha — ela começa, lágrimas se formando em seus olhos. Sinto uma pontada de compaixão; nunca é fácil superar uma perda como essa. — As coisas ficaram muito complicadas em casa e...

    — E este homem aqui — a advogada interrompe, apontando para Tobias —, de quem questionamos a paternidade, cuidou, amparou, confortou e tem suprido a ausência pelo menos do pai da menina, apenas com o apoio de sua família. Onde estava a família Lehmann nas horas mais difíceis que este homem passou com a criança?

    A sala inteira afunda em múrmuros ensurdecedor. Alguns cochicham, e os jurados apresentam expressões que sugerem que o veredicto pode estar inclinando-se para o lado dos Bernstorf, mas nada está confirmado. A senhora Lehmann desce do banco da testemunha, lançando olhares ferozes para Tobias e sua advogada. Seu representante se levanta, limpando a garganta de maneira exagerada.

    — Muito bem. Parece que todos aqui já escolheram um lado depois dessas "lindas palavras", não é mesmo? — O profissional usa de sarcasmo, mexendo em sua pasta. — Não posso deixar de notar que talvez ele tenha sido um ótimo tio para sua sobrinha, mas parece ter se perdido no meio do caminho, sentindo o peso dessa responsabilidade.

    — Por favor, senhor advogado, vá direto ao objetivo — pede o juiz, cortando pela burocracia.

    — Sim, claro, me desculpe, senhor juiz. Podem projetar as fotos no ecrã? — o homem do outro lado da sala assente, e as imagens aparecem diante de todos. Não são apenas fotos; são instantâneos de Tobias entrando no hotel com Sienna. Meu coração afunda no peito, e minhas mãos começam a suar frio. Mesmo de costas para mim, eu consigo perceber que o homem que amo está chocado, sem reação. Ele não esperava por esse golpe baixo da senhora Lehmann.

    — Enquanto sua filha ficava aos cuidados da suposta namorada e dos irmãos em algum parque, Tobias Bernstorf se divertia com a ex, Sienna.

    A sala enche-se com um ruído incômodo, uma cacofonia de críticas, defesas e perguntas, e as coisas viram novamente contra os Bernstorf.

    — Protesto, meritíssimo. Meu colega não compartilhou essas informações antes de apresentá-las como prova... Insisto que...

    — Indeferido. Por favor, continue — o juiz recusa o pedido da mulher e devolve a palavra para o "inimigo".

NÃO POSSO TE AMAR [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora