6. Metamorfose

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Nihara Vitti

Desperto em uma nova casa, um novo começo, mas ainda sinto o peso da antiga vida. Olho em volta e tudo é novo: o quarto, a decoração, a vibe. Sinto-me um pouco perdida, mas também animada para o que está por vir.

Abro os cortinados grossos de cor cinza e a luz do dia entra no quarto. Olho para fora e vejo que o tempo está cinzento, assim como a minha alma. É difícil deixar para trás tudo o que conhecia e amava, mas sei que tenho que seguir em frente.

Vou para o banheiro e sorrio surpresa ao ver que Léah organizou meus pertences íntimos nos lugares adequados. Isso mostra o quanto ela se importa comigo e me faz sentir amada. Checo o horário e ainda tenho muito tempo para me preparar.

Caminho pelo corredor iluminado por dois pendentes coloniais externos brancos, admirando as paredes cinzentas decoradas com quadros e pinturas. Muitas dessas fotos mostram Léah sorrindo, em paisagens de diferentes lugares, com amigos.

Passo pelo quarto de Léah e a vejo dormindo tranquilamente. Cubro-a e afago seus cabelos cacheados, sentindo-me grata por tê-la ao meu lado. Um som delicioso me chama a atenção e vou até o berço de Simon. Ele está acordado e brincando com seu elefantinho de pelúcia. Me aproximo e sinto uma onda de amor por este serzinho que agora terei o prazer de acompanhar seu crescimento.

— Oi, príncipe, dormiste bem? — faço afagos na criancinha e ele sorri alto, me fazendo virar e verifica a senhorita Vitti. — Shiiiiu sua mãe está dormindo, não queremos acordar ela, não é?! Você quer vir com a titia, é? Vem cá, vamos preparar um pequeno-almoço delicioso para quando a mama acordar.

Desço em silêncio com o menino ao colo. Já na cozinha ponho-o de frente para mim na sua cadeirinha de refeição, abro a geladeira e tiro uma grande tigela de vidro cheia de morangos, tiro alguns e coloco numa tigelinha de plástico e dou ao pequeno.

— Lembro de sua mãe me dizer que você ama morangos e este é o jeito de te manter quietinho enquanto ela faz alguma coisa, não é verdade?

— Moango — diz batendo palminhas

— Moango? Ah que fofo, eu vou apertar essas bochechinhas lindas. Posso tirar um?

Para a minha surpresa e derretimento, o menino tira um morango da tigelinha e dá-me na boca.

Hum! Obrigada, meu príncipe.

Dou-lhe vários beijinhos e ele sorri sem parar, volta a dá-me na boca, por fim deixo-o e vou concentrar-me na omeleta colorida que decido fazer com café e leite para começarmos bem o dia. É o meu primeiro dia de trabalho em Berlim, quem poderia imaginar isso? Falo alto o suficiente para ouvir minha própria voz.

— Na verdade, eu imaginei. Você é que ficou adiando o inevitável até agora.

Léah surge do nada atrás de mim, ainda de pijama roxo e a cara amassada.

— Que susto! Não te ouvi chegar. — me aproximo e abraço-a.

— O que você está fazendo? Oi, meu elefantinho fofo — indaga ao mesmo tempo, em que cumprimenta a criança com um beijinho demorado na bochecha.

— Senta-te aí, você vai ver. Estou a fazer umas das minhas especialidades. Enquanto isso, você pode começar a me contar primeiro sobre o evento — minha irmã olha atenta ao que estou fazendo —, e depois, se tivermos tempo ainda, o básico que preciso saber sobre a empresa, os funcionários, etc. Fiz algumas pesquisas sobre a empresa, mas acredito que a testemunha ocular é melhor do que uma pesquisa de internet, não é?

Me viro buscando sua confirmação, e vejo-a com uma expressão confusa, ao que acabo de fazer. Juntei aos ovos duas colheres de fubá de milho, tomate, cebola, cenoura ralada, chouriço, bacon, o pimento vermelho, verde, amarelo, cortados em pedacinhos, e o queijo reservei de lado para adicionar por cima quando a omeleta estiver pronta.

NÃO POSSO TE AMAR [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora