Rafaela
Abro os olhos tentando me acostumar com a claridade e quando percebo que não estou em minha cama, me sento rápido notando o quarto ao meu redor.
Cama grande, segundo andar, paredes em tons de azul escuro e cortinas em tom bege que passavam pouco dos raios de sol do dia que já havia amanhecido.Puta que pariu.
Olho ao meu lado tendo a cama vazia e reparando que eu estava na. Porra, eu estava nua
Flashs da noite passada retornam a minha mente, me deito bruscamente na cama tapando o rosto pensando na merda que havia feito.
Me levando vestindo minha roupa, entro no banheiro da suíte para lavar o rosto e escovar os dentes, com a escova pequena que eu sempre carregava na bolsa.
Desço as escadas com meus pertences torcendo pra não encontrar com o imprestável que tinha me fodido maravilhosamente bem a noite todinha. Cretino!
__ Titia - Isadora corre até mim assim que me ver descer as escadas - você veio me ver?
__ Oi amor, a tia veio sim - Digo omitindo que na verdade eu tinha vindo atrás da rola do seu pai - Mais a tia precisa ir tá bom?
__ Mais você não pode me levar no porquinho? - ela pede me olhando com os olhinhos manhoso
Olho ao redor notando sua babá ali disfarçando que não prestava atenção na conversa enquanto juntava os brinquedos pela
__ Podemos marcar pra domingo? - Ela me olha com a carinha tão triste, céus onde eu estava me metendo? - Prometo que levo você pra comer um churros ok?
Saio da casa às pressas depois de prometer que levaria ela ao parque e passaríamos lanchar, ela concorda e eu pego meu rumo pra casa.
As vizinhas piranhas que ficavam de plantão na rua me Olham mais eu nem rendo pra elas.
Desço a rua olhando as mensagens das meninas que pelo visto, já sabiam o que tinha acontecido.
Chego em caso abrindo a porta trancada com a minha chave e me apresso em pegar minhas coisas pra tomar um banho.
Enquanto tomava um banho de água gelada pra ver se apagava esse fogo no meu cu, é impossível não lembrar da noite passada. O que a gente não fazia quando tava com a cachaça na cabeça? Confesso que se não tivesse bebido mais do que devia, não teria acontecido o que aconteceu.
Eu não queria me meter com trafica mais não. O que eu passei com Vandal foi o suficiente pra saber que essa vida não é pra mim.
Não sei que tipo de afeto a filha dele sente por mim mais não posso levar isso adiante. Ela é filha dele e não minha. Problema dele e não meu. O problema é que meu coração sempre foi mole, era impossível não me ver naquela garotinha e não sentir pena. Mais era só isso, pena!
Abro a geladeira a procura de algo pra comer e acabo por não encontrar nada. Tinha que ir ao mercado urgente. Pego um copo enchendo de coca-cola me repreendendo por estar tomando refrigerante a essa hora. Mas era o que tinha.
Me viro assim que escuto a porta do quarto da Tessalia bater e fito com um ponto de interrogação quando pela porta do quarto ao invés de Tessalia, passa um JP que assim que me ver fica trava.
__ Bom dia - Murmurro fitando o mesmo levando o copo na boca
__ Boa - ele responde simplesmente saindo pela porta e batendo a mesma atrás de si
Logo atrás, aparece uma Tessalia apenas de calcinha e sutiã amarrando os cabelos em um coque.
__ Bom dia - Ela diz se jogando no sofá enquanto eu observava ela aguardando uma resposta. Quando percebo que ela não vai me dar uma, eu mesma pergunto
__ O que foi isso hem? - Ela me olha esperando que eu prosseguisse. Sério que ia fazer a Katia e se fingir? - Me explica como esse cara grosso foi parar na sua cama?
__ Bota grosso nisso - Ela responde
__ Vagabunda - Eu dou risada da cara de pau dessa menina - Mais é sério. Ele é um poste de grosso e mau amado. Cara mal da bom dia, como é que vocês desenrolaram isso?
__ Aí Rafa o bofe é babado viu - Ela se senta no sofá sorrindo enquanto lembrava - Ele é um porre. Todo dia me brecava quando eu saia atrasada e pedia pra ele fazer uma e me deixar na farmácia, a gente discutia e ele implicava com tudinho - Ela pega o copo de coca da minha mão dando um gole e quando me entrega eu não aceito. Devia tá com a boca no pau até agora - Então ontem no churras enquanto eu dançava percebi ele me olhando e notei que o que ele tinha na verdade era tesao reprimido por mim. Então comecei joga pra o lado dele e uma coisa levou a outra e quando vi ele tava na minha cama
__ Até ontem tava chorando pelo Heitor e na mesma noite tava com outro? Tu é uma piranha
__ Minha filha eu choro por um sentando em outro - Ela tira uma risada de mim - Mais foi só essa vez. Ele não faz meu tipo. Não sou de ficar com esses favelento - Ela manda essa pra cima de mim e eu finjo que acredito - Mais é tu? - Ela muda o assunto - To sabendo que dormiu lá pela Pietra e não foi na cama dela. Ela fez questão de jogar no grupo que não dormiu a noite inteira porque teus gemido podia ser ouvido até lá da vila Madalena
__ Eu tava bêbada e rolou, mais não vai rolar de novo
Me levanto e dou o papo por encerrado. Ela não me pergunta mais nada mais a sua cara da pra ver que me julgava pelo olhar.
Passamos o resto do sábado em casa dando uma faxina no barraco. Enquanto Tessalia limpava o banheiro eu tirava o pó da sala que era demais aqui. Além de calor, o tempo era seco e entrava muita poeira em casa.
Depois de deixar tudo em ordem e brilhando, recolho as roupas do varal que já tinham secado, dobro elas e deixo pra Tess se virar com o ferro de passar nesse calor. Arrumo todo o meu guarda roupa separando as roupas por tom de cor pois eu tinha toque.
Aproveito pra fazer as minhas unhas e aparar as sobrancelhas e depois de fazer tudo o que eu queria ainda me sobrou tempo pra pegar o caderno e dar uma boa estudada pra prova de Física que eu teria naquela semana.
__ Bora pra o mercado? - Tess chama assim que eu fecho o caderno guardando na minha bolsa
__ Bora que não tem mais nada nessa casa - Calço minha chinela pegando o cartão e colocando atrás da carteira do celular
Subimos o morro até o mercado que tinha lá em cima, no caminho vamos jogando conversa fora enquanto observava o movimento. Sábado dia de baile e o pessoal já tava animado, música em carro e até mesmo nas casas, as crianças na rua jogando bola enquanto outras soltava pipa.
No mercado pegamos todo o necessário, porque lá em casa não tinha nadinha mesmo.
__ O que tu acha de massa de pastel pra fazer a noite? - Tess aparece com duas massas na mão- Andri disse que ia posar lá em cada e pensei em fazer pastel e assistir um filme
__ Pode ser mas quero de queijo - Odiava pastel de carne moída
Vou até a prateleira de produtos de limpeza escolhendo dois tipos de desinfetante antes de seguir até o caixa onde Tess já estava passando nossos produtos.
Saímos de lá carregada e quase morremos carregando as sacolas até em casa.
No caminho, passamos em frente a biqueira que estava cheia de nóia e eu fico de olho pra ver se não enxergava meu pai por ali, e como sempre, nem sinal dele. Mas entre as pessoas ali presente consigo identificar uma cabeleira loira sentada ao chão enquanto ria sozinha olhando para o céu, e reconheço Andressa claramente drogada.
Fiquei sabendo por Pietra que Mineiro não matou ela por pouco, mas que havia tirado a filha dela e olhando ela assim, não parece que ela sente a mínima falta da menina ou se quer se lembra de que a filha existe.
Eu queria tanto achar meu pai. Eu não iria esitar em ajuda-lo. A preocupação está sempre presente dentro de mim. Não saber se ele está vivo ou morto, se está bem alimentado, se passa frio, se tem onde dormir ou até mesmo se possa estar machucado por aí precisando de ajuda, isso acaba comigo. Ele podia ser tudo o que fosse, mas era meu pai.
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Doce Perdição ( MORRO )
FanfictionTem horas que me revolto com a vida atribulada que eu levo, e tem horas que eu me conformo com a minha realidade! Rafaela Siqueira aos seus 20 anos, nunca teve uma vida fácil, nascida e criada na favela tem a rotina que muitas meninas de comunidade...