Rafaela Siqueira
Meu pé estava imundo de eu andar descalço no chão, fiquei com tanta raiva que tirei os dois pés da sandália e joguei na primeira lixeira que eu achei, ta ai mais um motivo pra não usar salto em baile por menor e mais confortável que seja. Fomos o caminho todo conversando até sua casa, eu acabei por contar minha história pra ela e ela disse que eu não seria a primeira nem a última que aconteceu isso, trocamos nossos números de celulares e ela prometeu que iria na minha casa assim que desse. Depois de caminhar por cerca de 5 quadras paramos em frente em um triplex com os muros super altos e portões preto de lata, da frente já era possível ver alguns seguranças.
__ Murilo ta ai Paulinho? - Ela grita pra um cara que tava em cima da casa
__ Ta não - Ele diz, ela abre o portão no controle elétrico
A casa era enorme dava pra ver um pedaço da enorme piscina que tinha nos fundos, o caminho até a grande porta de madeira era trilhado por pedrinhas brancas, a sala era bem ampla com decoração toda no preto e grafite, ela me guiou por uma escada circular que dava pra um corredor com umas 4 portas e entramos na segunda.
__ Que número tu calça? - Ela pergunta abrindo uma porta do enorme guarda-roupas
__ 36, pode ser um chinelo, qualquer coisa que de pra mim chegar em casa - Analiso o quarto que era bem grande e todo em tons claros desde as paredes e cortinas até os móveis e os tapetes, tirando a colcha da cama que era de um vermelho bem forte
__ Por sorte calçamos o mesmo número - Ela me joga uma rasteirinha da Ipanema, calço elas e olho no celular vendo que não havia sinal algum de Tessália
__ Preciso ir, tenho que ir pra casa ver se acho a Tessa - Solto meus cabelos do coque e penteio eles com a mão em frente um espelho que tinha na porta do guarda roupas
__ Bora que eu te levo até o portão e peço pra um dos meninos deixar tu no pé do morro, espera só eu ir no banheiro rapidinho e a gente já vai - Ela diz quando chegamos na cozinha __ Repara a bagunça não, é que eu moro com meu irmão e sabe como é homem né - Ela revira os olhos, olho pra cozinha que tirando uns copos e pratos sujos na pia, não tinha nada de bagunça __ fica a vontade ai se quiser beber alguma coisa, eu já volto
Acabo por pegar um copo e pego água da porta da geladeira mesmo, eu teria que pedir um uber, eu não fazia ideia de como ir embora daqui, era do lado de casa mais eu não costumava vir pra essas bandas então não tinha noção de como chegar em casa, sem contar que pegar ônibus iria demorar e eu precisava chegar em casa, tomar um banho e dormir urgente.
__ Posso saber porque caralhos tu ta na minha casa ? - Me assusto por ouvir aquela voz rouca e acabo derrubando o copo no chão e quebrando todo
__ Ta maluco cara? Vai assustar a mãe - Digo me virando com a mão no peito com a respiração desregular
__ Tu não respondeu minha pergunta - Mineiro cruza os braços me olhando de cima a baixo __ Oque tu ta fazendo na minha casa caralho?
__ Bebendo água não viu não? - Sou abusada mesmo, esse cara vem me brecar desde que me viu pela primeira vez sem eu ter feito porra nenhuma pra ele, da licença né.
__ E ta assustada por quê ? - Ele olha pro copo quebrado no chão, tinha água espalhada pra todo lado, ele se aproxima de mim __ Quem deu permissão pra tu sair da Penha, ou melhor quem deu permissão pra tu subir o meu morro em dia de baile? E ainda por cima ta na minha casa? Tu ta querendo morrer caralho?
Ele só podia ta brincando né, dou risada e olho no rosto dele procurando por vestígios de que aquilo fosse uma piada, não encontro.
__ Vamos deixar uma coisa bem clara aqui Mineiro - Me desencosto da pia passando a língua pelos lábios antes de falar __ Eu faço oque eu quiser com a porra da minha vida, e homem nenhum vai vir me dizer oque eu posso ou não fazer, se eu quiser subir esse morro eu vou subir, e você que aceite, pois eu não passei uma vida aguentando ordens de um bandido pra agora passar pra mão de outro - Olho bem nos olhos deles __ Aquele bandido ao menos me sustentava, já você não, então não te devo nadinha
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Doce Perdição ( MORRO )
FanfictionTem horas que me revolto com a vida atribulada que eu levo, e tem horas que eu me conformo com a minha realidade! Rafaela Siqueira aos seus 20 anos, nunca teve uma vida fácil, nascida e criada na favela tem a rotina que muitas meninas de comunidade...