Doce Perdição ( MORRO )

5

Rafaela Siqueira

Quarta - feira 11:57

Jogo um macarrão dentro do molho que eu tinha acabado de preparar misturando bem pra depois jogar na travessa de vidro e acrescentar o queijo ralado, pego na geladeira uma jarra com água gelada jogando o pacote de tang limão dentro, na falta de uma coca gelada vai um suco gelado.

__ Tessa vem come - Chamo ela que secava o cabelo e se arrumava pra ir trabalhar

Como eu não estava fazendo nada da vida eu fazia questão de ficar com as tarefas domésticas já que a Tessa trabalhava, ela dizia que não precisava que era pra nós dividir mais enquanto eu não arrumasse um emprego eu ficaria com as tarefas domésticas, a gente já tinha conversado e eu ajudaria nas despesas com o dinheiro que eu tinha guardado, ela não tinha obrigação nenhuma de me sustentar já tava fazendo muito me ajudando deixando eu ficar aqui.

__ Ai to atrasada - Ela diz pegando um prato e jogando macarrão dentro, pego um copo pra mim e um pra ela e encho de suco

__ Eu vou sair com você, da tempo? - Pego um prato colocando macarrão pra mim também e me sentando junto dela 

__ Se for rápida sim - Maneio a cabeça __ Onde Você vai? 

__ Deixar uns currículos ai pelo morro e passar no colégio, vou voltar estudar - Ganho sua atenção vendo um sorriso nascer nos seus lábios avantajados

__ Jura? - Concordo __ Eu fico tão feliz por você Rafa, vendo você começar por baixo, podendo fazer oque tem vontade sem ter que pedir permissão pra aquele lixo 

__ Acredite, eu também fico mais do que feliz, agora só preciso correr atrás do tempo perdido - Me levanto colocando o prato na pia __ Bora se não dona Olga te mata se chegar mais um dia atrasado 

Enquanto escovo os dentes planejo meu trajeto de hoje iria primeiro entregar os currículos e depois passaria na escola fazer minha matrícula. Como eu já tinha passado protetor com cor apenas passo um rímel e um protetor labial com cor, e dou umas borrifadas de perfume, pego minha bolsa checando se o dinheiro e os meus documentos estavam ali.

__ Amanhã tem baile na Maré, eu vou, bora? - Tessa me pergunta enquanto subimos a rua em direção ao trampo dela

__ Baile em morro vizinho, ta maluca ? - Maré era um morro do ladinho aqui da Penha, fui lá apenas uma vez antes de conhecer Vandal, ele proibia o pessoal daqui frequentar os bailes de lá e os de lá não podiam subir aqui 

__ Idaí? Agora quem comanda lá comanda aqui também - Era verdade e além do mais fazia décadas que eu não encostava em um baile

__Vou pensar 

Ela se despede de mim entrando na farmácia e dizendo que a noite ela levaria pastel de janta pra gente e que não era necessário eu cozinhar, achei bom pois assim eu podia fazer minhas pendências com mais calma, passo em frente uma lan house me lembrando que eu tinha que primeiro imprimir os currículos pra depois entregar.

__ Moço - Chamo ele que tava de costas pra mim __ Sai quanto a impressão? 

__  R$ 1,50 a preto e branco e R$ 2,00 reais a colorida 

caro em

__ e o xerox? 

__ 50 centavos. - Ele responde com a cara de bunda, não sei porque o povo insiste em trabalhar em comércio se é pra atender mal as pessoas.

__ Então eu quero uma impressão, e depois quero 20 cópias dessa impressão - Entrego o pen drive á ele que conecta no computador

Saía bem mais em conta eu tirar xerox da impressão do que gastar mais de 20 reais, eu economizaria mais da metade do valor e daria na mesma coisa.

__ Obrigado - Agradeço pegando minhas cópias e entregando o dinheiro á ele.

O sol tava tão quente que a vontade era de voltar pra casa dormir, mais eu precisava trabalhar né mesmo?

__ Olá boa tarde, eu poderia deixar um currículo ? 

 Pergunto gentilmente pra moça de uma lojinha de lingerie, era por aqui que eu iria começar, rezando que pra receber ao menos uma ligação até o fim da semana, se Deus quiser com uma boa notícia.

17:58

Andei tanto por esse morro que minhas sapatilhas devem até ter feito um buraco por conta do calor, saio do Colégio me abanando com os papéis da matricula depois de fazer um coque nos cabelos, pelo menos a escola tinha dado certo, eu começaria o supletivo na parte da noite na semana que vem, já os empregos não posso dizer que deu certo a maioria das lojas falaram que não estavam contratando no momento, eu forcei minha melhor cara pra esconder o quanto fiquei desapontada.

Viro uma rua afim de passar na bica pra compra um cigarro de maconha, quando ficava nervosa só assim pra me acalmar.

__ Ou Rafinha - Escuto chamarem meu nome e olho pra atrás vendo um rosto familiar

__ Betinho - Sorrir caminhando na sua direção __ Porra achei que tu tava morto cara

__ Também achei que você tava - Fico feliz em ver ele inteiro 

__ Como tu conseguiu escapar ileso? Tessa me falou que os homens que trabalhavam pro Vandal ou fugiram ou foram mortos 

__ Quando o morro foi invadido me deixaram amarrado no galpão, quando me acharam eu contei a história toda pro Mineiro e ele me deu a opção de trampa pra ele ou morrer, como eu já não tinha escolha aceitei - Ele diz dando de ombros 

__ Você é um traíra mesmo em - Digo sorrindo e tirando o baseado da mão dele que ele tinha acabado de bolar e acender

__ Eu prefiro minha vida acima de qualquer coisa tio, queria morrer não - Ele assiste eu levar o cigarro até os lábios __ Mais e tu ta perdida por aqui por quê?

Solto a fumaça pra cima sentindo meus sentidos se acalmarem

__ Vim buscar um 10 ai - Abro a bolsa a procura da nota dentro dela

Uma moto passa rápido ao meu lado fazendo eu me assustar e quase cair no meio fio

__ Passa por cima - Falo entregando o dinheiro pro Betinho

Assisto o motoqueiro parar alguns metros a frente pra conversar com uns caras parado ali, ele tira o capacete e de onde estou consigo ver o tom irônico presente no sorriso que ele dava na minha direção

__ Quero saber de ninguém vendendo fiado não rapaziada, buceta não paga dívida de droga não - Mineiro diz 

Esse cara só podia ter o signo oposto ao meu, porquê olha... Vontade era de socar a cara dele!

Faço de conta que nem ouvi oque ele disse me redireciono pra Betinho de novo

__ Então Betinho eu vou indo nessa, eu te chamaria pra passar lá em casa só que eu não tenho mais casa - Faço questão de olhar pra Mineiro nessa parte e dar o meu melhor sorriso sem mostrar os dentes __ Vou nessa porquê to afim de ficar ouvindo asneira de bandidinho de merda não

Ele se desencosta da moto bruscamente e coloca a mão na cintura tirando uma arma de lá enquanto se aproxima, ele não estava muito longe

__ Repete - Ele se aproximava cada vez mais__ Vem cá que eu vou mostrar o bandidinho pra tu - Ele fala mais algumas palavras mais eu nem ouço, porquê no momento que ele se desencostou da moto eu já tava lá na esquina virando a rua correndo

Sou doida não mais esse cara era, não rasgava nada em me dar um tiro ali mesmo, e como eu ainda pretendia usar muito esse corpinho que Deus me deu eu meto pé. Tenho amor a minha vida!

Se tiver bastante comentários posto mais 1 hoje ! 

BOM DIA