Ísis finalmente chegou em casa. Fátima e Antônio estavam na sala quando Ísis entrou. Ela estava visivelmente com as mãos trêmulas, os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar. Ela estava destruída, por dentro e por fora.
— Meu Deus, o que aconteceu com você filha? - disse Fátima, se levantando para receber a filha nos braços. Antônio fez o mesmo.
Ísis desabou no abraço de seus pais. O choro era desesperador, ela caiu de joelhos no chão. Antônio foi buscar um copo de água para ela.
— Fomos pegos na rodoviária, mãe. Foi horrível. - Ísis soluçava.
— Como assim, filha? Tente se acalmar e nos conte o que aconteceu. - disse Antônio, abraçando Ísis.
Ísis começou a contar a história, como eles foram para a rodoviária, o momento em que foram detidos, a luta de Bóris e Fernando, ela sendo arrastada para uma delegacia longe, finalmente, como ela foi misteriosamente libertada.
— Eu não sei o que aconteceu, como nos acharam na rodoviária. Foi tudo tão estranho. - disse Ísis com lágrimas nos olhos, porém um pouco mais calma. — E o mais estranho de tudo, foi que me liberaram assim que cheguei a delegacia. O delegado me disse que eu era sortuda e que alguém estava cuidando de mim.
Fátima e Antônio trocaram um olhar preocupado. Eles levaram a filha para a cozinha. Fátima pegou um calmante para Ísis.
— Não quero calmante mãe. Eu quero Bóris e Fernando de volta. - Ísis voltou a chorar copiosamente.
— Filha, meu amor, você precisa descansar um pouco. Tome isso, por favor. Vai ajudar a acalmar seus nervos.
— Sua mãe tem razão, princesa. Esse calmante vai te fazer bem. Você está segura agora, filha. Nós cuidaremos de tudo. Descanse. - diz Antônio carinhosamente.
Ísis aceitou o calmante, sentindo-se fisicamente exausta e emocionalmente sobrecarregada. Ela suspirou e deitou-se no sofá na sala de estar, já meia sonolenta, dizendo algo embolado, pedindo para que eles fossem contar sobre o que aconteceu com os pais dos meninos. E apagou.
Fátima e Antônio saíram com cuidado para a cozinha, fechando a porta para que Ísis não ouvisse a conversa.
— Meu bem, isso é muito estranho. Eles a libertaram tão facilmente. Deve haver alguém por trás disso. - disse Fátima sussurrando.
— Concordo, Fátima. Alguém a está protegendo, mas não sabemos por quê. Precisamos descobrir o que está acontecendo. Não estou gostando disso. Dependendo quem está fazendo, pode crer cobrar depois de nossa filha.
Enquanto Fátima e Antônio discutiam em voz baixa, eles decidiram que a primeira medida era visitar as casas dos pais de Bóris e Fernando para contar sobre a prisão dos jovens. A incerteza sobre o que aconteceu com eles pesava em seus corações.
— Vamos agora à casa de Bóris e depois à de Fernando. Os pais deles precisam saber.
— Sim, não podemos deixá-los no escuro. Temos que nos apoiar nesta situação difícil.
Fátima e Antônio não perderam tempo. Após contar aos pais de Bóris e Fernando sobre a prisão dos jovens, eles retornaram para casa, trazendo uma notícia que trouxe um raio de esperança para Ísis. Ela já estava acordada, porém ainda um pouco sonolenta.
— Querida, conversamos com os pais de Bóris e Fernando. Eles já sabem o que aconteceu, e contrataram seu pai como advogado para ajudá-los. - disse Fátima com um olhar de alívio.
— Nós não cobramos nada por isso, filha. Queremos ajudar Bóris e Fernando, eles são como filhos para nós. - disse Antônio sorrindo com ternura para a filha.
Ísis, ainda deitada no sofá, deixou escapar um suspiro de alívio. Ela estava grata por ter pais tão solidários e dispostos a ajudar seu namorado e seu amigo.
— Muito obrigada, mãe, pai. Vocês são incríveis. Eu não sei o que faria sem vocês.- disse Ísis novamente com lágrimas nos olhos.
Fátima e Antônio se aproximaram de Ísis, abraçando-a com carinho.
— Não chore querida. Somos uma família, estamos juntos nesta jornada, não importa o que aconteça.
— Vamos fazer de tudo para trazer Bóris e Fernando de volta para casa. Não importa o que seja preciso. - disse Antônio determinado.
***
Duas semanas se passaram desde a prisão de Bóris e Fernando, e a angústia envolvia suas famílias. Antônio estava determinado a descobrir o paradeiro dos jovens, mas os policiais não cediam nenhuma informação. Ele visitava a delegacia todos os dias, fazendo perguntas incansavelmente, na esperança de encontrar alguma pista. Algumas vezes Ísis ia com ele. Ela quase implorava por qualquer informação. Mas não conseguiram nada.
Ísis estava vivendo um verdadeiro pesadelo. A saudade de Bóris e Fernando a consumia, e seus pensamentos estavam sempre com eles. Às vezes, a dor era tão insuportável que ela chorava até passar mal, vomitando e muitas vezes até desmaiando. Ela mal se alimentava. Seus pais estavam preocupados com ela. Ísis chegou a trancar a faculdade. Nada mais tinha sentido para ela.
***
Na prisão, Bóris e Fernando enfrentavam um tormento diário. Eram constantemente espancados pelos guardas e interrogadores, que queriam arrancar informações sobre seus companheiros. As surras ocorriam de manhã, de tarde e de noite, deixando-os exaustos, mas eles se mantinham firmes. Bóris pensava em Ísis, e Fernando pensava em seus pais.
Foi nesse ambiente ameaçador que Bóris e Fernando conheceram um homem chamado José Pereira. Ele compartilhava dos mesmos ideais de luta contra o regime autoritário e, logo, os três se tornaram amigos. José era uma fonte de inspiração e força para ambos.
— Com essa vida que nós temos, quem sabe demais vive de menos. - José, sempre cantarolava essa música.
A canção que José cantava se tornou um lema na prisão, um lembrete de que a coragem e a solidariedade eram necessárias para sobreviver naquele lugar sombrio.
— Bóris, ouça, meu amigo. Hoje eu soube de uma notícia que pode nos dar esperanças. Ísis foi solta no mesmo dia em que fomos presos. - disse Fernando sussurrando.
— Como você soube disse? - perguntou Bóris, intrigado.
— Eu tenho um amigo que trabalha infiltrado na polícia. Ele soube que eu estava aqui e veio fazer um plantão aqui hoje, e conseguiu me avisar na hora do banho de sol.
Bóris olhou para Fernando, seus olhos revelando uma mistura de alívio e preocupação.
— Isso é incrível, Fernando, mas... e se a razão para a soltura de Ísis não for boa? E se a pessoa que a ajudou agora espera algo em troca? Não quero que ela fique em perigo por minha causa.
A preocupação de Bóris era palpável. Ele temia que a ajuda a Ísis fosse de alguém que não fosse de bem, alguém que pudesse cobrar um favor a ela no futuro. A incerteza sobre quem estava por trás da libertação de Ísis e suas intenções o atormentavam.
— Entendo, Bóris. Mas, por enquanto, o importante é que ela está bem. Vamos focar em sair daqui e, quando estivermos livres, cuidaremos de tudo. Não podemos desistir, meu camarada. - disse Fernando o tranquilizando.
— Você está certo, meu amigo. Vamos conseguir sair daqui. - disse Bóris, mais confiante do que antes.
Bóris assentiu, aceitando as palavras de Fernando como um bálsamo para suas preocupações. A incerteza ainda estava presente, mas eles permaneceriam firmes na busca pela liberdade e pela verdade por trás da ajuda a Ísis.
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O Amor que Desafiou o Tempo - Ísis & Bóris
FanfictionNo final dos anos 60 e início dos anos 70, Ísis e Bóris viveram um amor arrebatador e inesquecível. Mas o destino os separou de forma cruel. Boris foi preso e torturado pelos militares, por causa de suas ideias políticas. Isis recebeu a notícia de...