Enfim, chegou o dia da despedida. Aquele seria o adeus definitivo.
Ísis colocou seu vestido preto de manga longa, que Bóris adorava vê-la usando.
Em frente ao espelho de seu quarto, Ísis passava a escova em seu cabelo loiro para desembaraçar, pois havia dias que não o fazia. Ela prendeu o cabelo em um coque.
Ela fazia tudo com uma certa lentidão. A dor de perder o seu grande amor lhe pesava os ombros.
— Filha, está pronta? - perguntou sua mãe.
Ísis acenou com a cabeça, sem forças nem para falar.
— Então, vamos!
Fátima estendeu a mão para sua filha, que aceitou o gesto e correspondeu, segurando a mão de sua mãe. As duas saíram do quarto.
Todo o trajeto até o cemitério foi em total silêncio. Antônio olhava para Ísis pelo retrovisor do carro a todo momento. Estava preocupado com a sua filha.
Eles chegaram ao cemitério meia hora antes do velório, a pedido de Ísis, que queria passar um tempinho com Bóris. Mesmo sabendo que o caixão seria fechado.
Segundo os guardas, o rosto de Bóris não estava em condições para que o caixão fosse aberto.
Ao subir as escadas que levava a sala que estava o corpo de Bóris, as lágrimas começaram a sair como enxurradas dos olhos de Ísis.
Chegando na sala, Ísis pediu para entrar sozinha, e seus pais respeitaram o pedido. Esperaram do lado de fora.
Ísis se aproximou do caixão, pousou uma das mãos levemente e foi andando até a parte onde estaria a cabeça de Bóris. E ali, parou.
Se debruçou sobre o caixão e chorou. Dessa vez não foi um choro de desespero, e sim de profunda dor. O coração dela doía demais.
— Ô Bóris, por que você está fazendo isso comigo? Você sabe muito bem que eu não sou capaz de viver sem você. - disse Ísis, secando as lágrimas com um lenço que era do Bóris e tinha até o cheiro dele. — Meu amor, me leva junto com você. A vida aqui pra mim não tem mais sentido. Você era meu Sol, minha fonte de vida.
Ísis ficou ali mais um tempo chorando e conversando com o "corpo de Bóris".
As pessoas começaram a chegar para o enterro. Ao olhar para a porta, Ísis se assusta ao ver Mário entrando. Ele corre para abraçá-la.
— Mário, que bom que você veio. - disse Ísis, chorando.
— Ô Ísis, eu não poderia deixar de vim. Sei que tem alguns anos que não nos vemos, mas quando soube que transferiram meu irmão e o que havia acontecido com Bóris, vim correndo. Vim por você, imaginei como estaria sofrendo. Estou aqui pra o que der e vier, pode contar comigo sempre. Não vou mais embora, fui dispensado do serviço.
O que era uma grande mentira, afinal, ele era um dos chefes do regime. Mas comunicou que ficaria afastado por um tempo para não levantar suspeitas.
— Obrigada, meu amigo. Você sempre comigo nos momentos que mais preciso.
Ísis chorou nos braços de Mário. Ao se desvencilhar do abraço, Ísis viu vários policiais armados chegando para acompanhar o enterro. Todos mal encarados.
Após o sepultamento, todos foram para suas casas.
Ísis foi direto para o seu quarto e decidiu que lá passaria o resto dos seus dias. Ela chorava o tempo todo. Sempre se lembrava do sorriso de Bóris, da forma como ele a olhava e beijava. O jeito como ele a amava.
Tudo, exatamente tudo a fazia lembrar de Bóris.
Sua mãe levou uma bandeja com lanche para Ísis, mas ela não quis.
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O Amor que Desafiou o Tempo - Ísis & Bóris
FanfictionNo final dos anos 60 e início dos anos 70, Ísis e Bóris viveram um amor arrebatador e inesquecível. Mas o destino os separou de forma cruel. Boris foi preso e torturado pelos militares, por causa de suas ideias políticas. Isis recebeu a notícia de...