Nove

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     Bati a porta do carro quando Maya já estava colocando a chave na ignição. Ela parecia muito melhor do que nos outros dias, quando reclamava do caminho de volta para casa. Sem dúvida, ela era neta do senhor José, uma verdadeira especialista em reclamações.

Reconheci a música do seu pendrive quando ela fez uma manobra para sair da vaga. A voz suave de Isadora Pompéu deixou o ambiente mais tranquilo. Hoje, eu era a que estava de mau humor, mas, diferente de Maya, não me afeiçoava à ideia de desabafar quando algo me incomodava. Eu apenas remoía aquilo até parar de ser um problema. Quando passamos da primeira esquina da faculdade, ela puxou assunto.

- Você não foi à confraternização. - Comentou sobre um assunto que deveria ter sido trazido pelo meu tio em várias ocasiões ao longo da semana. - Foi uma bênção. - Continuei alheia, pois o assunto não me interessava. Se Maya queria fazer propaganda, que divulgasse no Instagram; eu não tinha nada a ver com isso. - E também descobri uma fofoca. - Girei o pescoço para encarar o rosto da minha prima. Isso sim me interessava. - Israel terminou o relacionamento. - Deixei escapar um suspiro de contentamento, pois apostava no fracasso daquele namoro desde o início.

Não era uma conclusão baseada nas minhas vontades, mas porque nenhum relacionamento de Israel durou mais que uma semana. Ele era de família evangélica e foi criado na nossa igreja, assim como Maya, mas agia de forma promíscua. Não me importava o que as pessoas fizessem com suas vidas, mas ele era o tipo que flertava com todas as mulheres. Eu não acho errado aproveitar oportunidades, mas se Israel quer se casar e formar uma família um dia, eu seria mais seletiva. Em primeiro lugar, tentaria orar e esperar no Senhor para encontrar a pessoa adequada.

Atirar para todos os lados só faz com que um dia você acabe se ferindo.

- Como você soube disso? - Maya revirou os olhos, sorrindo.

- Porque eu fui à confraternização e, se você tivesse ido, ele teria contado pessoalmente. - Estranhei a insinuação. - Ele perguntou por você. - Suspirei incrédula. - Eu disse que estava em casa, então ele pediu para te trazer na próxima, pois você faz falta. - Maya contou isso com uma expressão debochada e divertida. Eu não podia nem julgá-la, pois Israel se interessou por Maya muito antes, e minha reação foi muito mais divertida quando ela me contou. - Meu pai disse que ele é um bom homem, só precisa de uma boa mulher. - Revirei os olhos com o comentário tolo.

Como se Israel fosse um cachorro, precisando ser adestrado. Não demorei pensando nisso, pois acabaria sem dormir com remorso.

Segundos se passaram em silêncio, pois a música acabara e não tínhamos mais o que falar. Acabei sendo dominada pela curiosidade.

- Mais alguma novidade? - Maya sorriu satisfeita, demorando a responder enquanto pensava nos assuntos que poderiam me interessar.

- A confraternização aconteceu na casa do pastor. O sobrinho está morando com ele agora. Eles são bem parecidos.

- Fisicamente?

- Fisicamente, não muito. Mas nas atitudes, sim. Foi Pedro quem começou fazendo a oração, mas no final chamou o pastor para dar a palavra final. É bom que o novo líder seja próximo do pastor, assim ele pode ter um controle melhor da mocidade para aconselhar.

- Dispenso essa atenção.

- Você nem vai à igreja, Roberta, não tem com o que se preocupar. - Maya disse rindo. - Pedro já até marcou a próxima confraternização. Depois do culto de Santa Ceia, vamos para a casa dos jovens e pediremos pizza. - Eu a encarei com desânimo e Maya voltou a rir. - Você não vai poder fugir dessa, sabe disso, né?

Durante o mês, eu sempre tomei a liberdade de faltar a alguns cultos de domingo, mas o que se referia à Santa Ceia era um assunto decidido entre eu e meu avô. Desde os meus doze anos, antes mesmo de ser batizada, ou depois de ser batizada e deixar de estar em comunhão, nunca deixei de comparecer à cerimônia que reflete sobre o sangue e a carne de Cristo. Mesmo quando minha saúde falhou ou quando meu avô não podia ir.

Eu poderia me recusar a ir à confraternização, mas era óbvio que nem meu avô nem meu tio permitiriam. Eu conhecia bem os dois. Quando eu fosse chamar o senhor José, ele se negaria a entrar no carro e iria com meu tio, abandonando eu, Maya e o Del Rey, fazendo-me sentir culpada por desobedecer e prejudicar minha prima.

- Eu odeio a família. - Maya riu.

- Vai ser legal, garanto. - Insistiu. - Pedro é solteiro e lindo. Eu preciso lidar com as outras candidatas e você vai me ajudar nisso. - Revirei os olhos.

- Eu não sou o anjo cupido, Maya.

- Mas é meu anjo conselheiro.

- Se você realmente segue meus conselhos, ouça o que eu digo: essa confraternização vai ser um porre, e deveríamos pegar o Del Rey e ir a uma lanchonete com música e gente. - Ela discordou com a cabeça em reprovação. Maya era a legítima filha do meu tio, careta e desinteressante. Eu conhecia bem o tipo de diversão dentro da igreja, e as festas fora pareciam bem mais animadas, além de não haver aquela intromissão para saber sobre você.

Minha casa já estava à vista e eu suspirei frustrada com Maya.

- Até amanhã, te busco às sete menos quinze.

- Não. - Ela contrariou, chamando minha atenção. - Amanhã eu vou mais cedo. - Estranhei, mas não me intrometi na sua decisão. Maya era bastante comunicativa; se iria mais cedo ou mais tarde, ela sempre se justificava. Mas dessa vez, não me contou nada, então eu não quis me intrometer.

***

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Corações em Conflito: Romance CristãoOnde histórias criam vida. Descubra agora