Vinte Sete

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     Era estranho — como dois desconhecidos podiam parecer tão familiarizados um com o outro? A campainha deles parecia tão natural quanto as conversas dos outros universitários no campus, com a diferença de que nenhum deles estava sentado à nossa mesa, mastigando meus salgadinhos com um sorriso bonitinho.

— Disso não tenho dúvida, você é realmente especial. — Responde, tirando os salgadinhos da sua mão. Pedro fez uma careta, mostrando a língua, e eu ri. — Não vou te levar. — Ele parecia genuinamente desgostoso, o que me fez estranhar ainda mais sua reação, pois eu sabia que ele não tinha ideia do que se tratava o evento da minha negativa. Não havia outra "ovelha" por quem ele estivesse interessado? Ou melhor, Maya não estava mais ocupando o suficiente seu tempo. Desviei o olhar para sua mão, tentando disfarçar a curiosidade, mas me surpreendi ao perceber que ele não usava aliança. A surpresa me trouxe um alívio imenso, como se tivesse recebido a resposta para uma pergunta pendente há dias — ou pelo menos desde sábado, e hoje sendo quarta-feira.

Pedro percebeu onde meus olhos estavam, mas tentei disfarçar, coçando a garganta. Meu tom talvez tenha soado mais áspero do que eu imaginava, pois ele ainda me fitava.

— Eu posso te apresentar a alguns dos meus primos. — Mirela sugeriu, e percebi que Pedro cruzou os braços, menos animado do que antes. — Você até conhece um deles. — Ela mencionou, e me lembrei de um primo que buscou Mirela na faculdade meses atrás. Ele tinha um carro lindo, mas parecia que sua personalidade era feita só disso, não sabia falar sobre nada além do veículo. Eu definitivamente odiaria passar três horas em um evento com ele. Não conseguia nem imaginar o que diriam quando o papo sobre rodas e paralamas se esgotasse. — Ou então... pode levar o Pedro. — Mirela completou, e meus olhos se arregalaram, chocada. Como ela sabia o nome dele, sendo que eu nunca o havia apresentado?

— Talvez eu tenha esquecido de te contar, mas coincidentemente, quando fui procurar um veterinário para a Cici, minha gatinha, conheci o Pedro. — Mirela explicou, e minha mente tentou se ajustar àquela nova informação.

— Como eu ainda curso Veterinária, falamos sobre universidades. Você me disse que cursava Letras, então conectei os pontos...

— Eu adorei te conhecer. — Os dois começaram a conversar, depois das devidas explicações, e me deixaram ainda em choque pela coincidência. Essa cidade é um ovo.

— Foi recíproco Mirela. Cici está tomando os antibióticos?

— Sim.

— Ela é uma gata saudável. Mas você fez certo em levá-la ao veterinário.

— Foi o que pensei. Começa silenciosa, como uma gripe, né? — O sentimento de vê-los conversando era como se os personagens da Marvel estivessem em um episódio de Bob Esponja. Jamais imaginaria essa combinação, mas parecia que ambos estavam se saindo muito bem. Peguei minha garrafinha de água e comecei a beber enquanto observava o crossover.

— A pneumonia em gatos é menos comum do que em cães, mas pode ser fatal se não for tratada a tempo.

— Eu não conseguiria viajar para minha lua de mel tranquila sem ir à clínica antes. — Pedro se surpreendeu.

— Não me diga que vai se casar? — Mirela levantou a mão com o anel, exibindo um sorriso alegre.

— Sim! — Confirmou, eufórica. Eu ainda achava tudo aquilo muito estranho, a relação deles, mas estava sem energia para refletir sobre o assunto. — Vai ser no próximo final de semana. O tempo passou voando enquanto eu organizava tudo!

— Meus parabéns, Mirela. Eu não fazia ideia. Você deve estar muito feliz. — Disse, tentando esconder o sorriso enquanto roubava mais um punhado dos meus salgadinhos, que eu havia deixado na mesa para pegar minha garrafinha. Revirei os olhos para aquele folgado. Observei as pintinhas adoráveis ao redor de sua mandíbula. Nunca tinha reparado antes, mas agora, vendo-as, pareciam dar um charme extra à barba que começava a aparecer em seu rosto perfeito.

Corações em Conflito: Romance CristãoOnde histórias criam vida. Descubra agora