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- A paz seja convosco. - Começou o palestrante de meia-idade, bem vestido e usando terno, em um caloroso domingo pela manhã.

Irmão Elias era um dos presbíteros mais antigos desta igreja e sempre oferecia bons sermões, mas fazia muito tempo que eu não o escutava falar.

O fato de eu não o escutar não estava relacionado à falta de oportunidade do presbítero, mas à minha falta de interesse no que ele dizia. Isso não acontecia apenas com ele; era uma tendência geral. Costumava ser algo involuntário, mas agora não sabia mais dizer.

- Abram suas Bíblias em Salmos 33:4. - Continuou ele.

Em geral, todos começavam suas oratórias com minha atenção e terminavam com eu indo beber água, pensando na agenda da cruel semana ou tendo algum devaneio. Às vezes, queria faltar a esses eventos religiosos para evitar sentir-me culpada por não conseguir absorver nada, mas quem traria meu avô para a igreja? Para seus tão queridos cultos dominicais?

Existiam igrejas muito mais próximas de nossa casa, mas nenhuma delas tinha a afetividade, que está tinha para meu avô. Foi nesta igreja que ele aceitou a Cristo, foi batizado nas águas, consagrado a auxiliar, cooperador e, posteriormente, presbítero. Mesmo um culto na nossa sala de estar não satisfaria aquele velho fiel à Assembleia de Deus. Ele amava o lugar, as pessoas e, acima de tudo, a Deus.

Sendo assim, eu tinha a missão obrigatória de levá-lo de carro aos cultos. As pernas jovens que antes o traziam a pé já não eram mais tão jovens e saudáveis. Eu tinha a teoria de que ele usava isso como pretexto para me fazer ir aos cultos com ele. Mas confrontá-lo não adiantaria, pois ele me faria vir de qualquer forma. Tínhamos uma relação de barganha: eu usava seu automóvel para ir aonde quisesse, mas precisava ser sua motorista particular nas horas vagas.

- Porque a palavra do Senhor é reta, e todas as suas obras são fiéis. Ele ama a justiça e o juízo; a terra está cheia da bondade do Senhor.

Bobagem.

Eu não creio mais na bondade desse mundo. A cada segundo, eu acredito mais fielmente que estamos vivendo em uma espécie de autosabotagem global. As pessoas não são boas.

Há aquela história: "O homem nasce mau ou a sociedade o corrompe?"

Desde o momento em que existimos, agimos principalmente por sobrevivência, sem compreender outras motivações além dessa. Somos egoístas. Bebês pensam sempre em sua saciedade antes da exaustão da mãe; na verdade, eles não se importam com seus progenitores. É apenas depois, com o desenvolvimento da consciência, que, ao se tornarem crianças, começam a ser levemente altruístas. Sabe por quê? É uma sensação de troca. Quando eles dizem "obrigado, mamãe", sabem que receberão um elogio. Não é bondade, é egocentrismo camuflado.

De forma resumida, as pessoas não são boas, nem mesmo na forma mais graciosa, quando chegam ao mundo.

Suspirei frustrada, observando o irmão Elias gesticular enquanto pregava.

Eu havia feito de novo!

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Me distraído dentro de mim mesma e esquecido da palavra.

Corações em Conflito: Romance CristãoOnde histórias criam vida. Descubra agora