Oito

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     Eu não tinha bons exemplos de relacionamentos excepcionais na minha família, mas acreditava que a relação de Mirela com Roger era um bom objetivo a ser alcançado, caso algum dia a ideia de formar uma família me atraísse.

Sentindo-me insegura quanto a mim mesma, acho que gostaria de viver algo assim. Houve um tempo na minha vida em que Jesus preenchia qualquer vazio meu; tínhamos um relacionamento tão forte. E é engraçado como Mirela conseguiu algo semelhante com Roger.

Jesus costumava ser meu melhor amigo. Eu lhe contava tudo.

Voltei para o interior do edifício da faculdade para beber água, pois sentia minha garganta seca. Ao passar pelo corredor principal, distraída com o celular enquanto mandava uma mensagem para saber se a aula de Maya já tinha acabado, esbarrei em alguém que vinha olhando para algo atrás de si.

O único impacto foi o meu celular caindo no chão. Ajoelhei-me para pegar o aparelho e virei-o. Respirei aliviada ao perceber que a tela estava intacta. Levantei os olhos, sentindo a necessidade de descontar minha raiva na pessoa que causou tudo aquilo, mas, por alguns segundos, ambos ficamos em silêncio, sem saber o que dizer. Meu coração deu um salto assustado, pois realmente não era a pessoa que eu esperava ver. Não que eu tivesse uma lista de pessoas adequadas para jogar meu celular no chão, mas ver a mesma pessoa que me atropelou pela segunda vez não era algo que eu esperava.

Pelo menos, ele parecia mais despojado e confortável hoje, ou talvez mais acostumado, já que era a segunda vez que nos víamos e a segunda vez que me atropelava. Talvez na terceira eu devesse considerar tentativa de homicídio.

- O que, vai me atropelar aqui também? - Perguntei de forma rude, mas ele parecia alheio ao meu humor, surpreso com o encontro.

- O que você está fazendo aqui? - Perguntou, e eu quase ri.

- Bem, aqui é uma faculdade. - Comentei. - Então normalmente eu venho para jogar Banco Imobiliário e às vezes Bingo, depende do meu humor. - Minha tentativa de provocá-lo apenas fez com que ele risse, o que me irritou ainda mais. Por que eu estava descontente e ele, feliz? Suspirei irritada, concluindo que discutir era inútil. Voltei a focar no meu celular, tentando ligá-lo para ver se ainda funcionava. Torcia para que estivesse quebrado, assim ele teria que pagar por outro aparelho.

- Como você está? Pensei em ligar para saber, mas duvido que você atenderia. - Pelo menos em algo concordávamos. Senti quando ele pegou minha mão para ver a palma. Olhei para ele com desconfiança, mas ele ignorou minha irritação. - Parece bem. - Constatou. - E a cicatrização do joelho?

- Bem, também.

- Isso é ótimo. Foram apenas esfoliações superficiais. Você me chamou de médico naquele dia, mas eu curso Veterinária, por isso tentei te examinar. - Juntei as sobrancelhas imediatamente, após ser chamada de "bicho" por ele. Pior ainda era tentar identificar se isso era intencional ou não. - Que curso você faz?

- Não te interessa. - Respondi com naturalidade, voltando ao aparelho já ligado. Senti remorso após responder dessa forma, lembrando que ele havia dito que iria orar por mim. Revirei os olhos, por meu pesar. - Eu digo, se prometer que não vai me atropelar no futuro próximo.

Ele riu pelo nariz e depois concordou.

- Letras. - Maya finalmente me respondeu, informando que já estava no estacionamento. - Agora fique longe de mim. - Despedi-me dessa forma, dando as costas a ele.

- Claro, se você conseguir a proeza de não atravessar meu caminho sem olhar. - Revirei os olhos com sua presunção de achar que estive errada em ambos os casos de tentativa de homicídio da parte dele.

Corações em Conflito: Romance CristãoOnde histórias criam vida. Descubra agora