Seis

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     Acho que talvez não fosse a falta de desejo de trabalhar dos jovens, mas sim a verdadeira necessidade. Eu não via meu tio tentando colocar Maya para trabalhar, por uma razão óbvia: ela não tinha essa necessidade. No entanto, claro que, observando alguns casos específicos, ele tinha razão. Nossa geração valoriza mais a estabilidade mental do que a financeira. Talvez isso seja um ponto positivo ou não, não sei dizer.

- Falando em jovens, seu avô mencionou o novo líder de vocês?

- Sim. - Não, porque depois que briguei com meu avô por não ir à igreja no domingo, ele tomou a decisão mais madura possível: só crianças e nós dois lidam com a frustração dessa forma.

Vovô me deu um gelo mortal; não respondia minhas perguntas e ignorava minha presença.

- Teve a apresentação do novo líder. - Comentei o que sabia.

- Maya e os outros jovens estão bem animados com o ministério dele, mas, claro, depois de terem a Sarah como líder, qualquer um é melhor.

- Eu gostava da Sarah. Ela não fazia questionamentos desnecessários e, por vezes, esquecia que tinha um cargo. Espero que ela esteja muito feliz vivendo esse momento, onde não se consegue dormir uma hora completa sem que o filho recém-nascido chore.

- Ele até já marcou uma confraternização para amanhã para vocês irem. - Constatei que hoje era sexta e precisei segurar a vontade de chorar, pois teria que lavar a casa amanhã com as juntas ainda raladas. - Você vai? Posso pedir para a Maya passar aqui para te buscar e irem juntas. - Pensei na proposta; na verdade, fingi pensar, mas já estava decidida no momento em que meu tio mencionou a confraternização que eu não iria. Pretendia passar meu sábado assistindo a um programa de culinária com meu avô e ouvi-lo reclamar por eu não ter ido a esse maldito evento.

As confraternizações de jovens só prolongavam minha tortura. Eu detestava os assuntos e não me sentia à vontade. Claro que nem sempre foi assim; simplesmente aconteceu.

- Vou pensar. - Menti.

O som do portão se fechando chamou nossa atenção. Meu avô estava voltando para casa e, pela porta da cozinha que dava acesso ao quintal, eu o via trazendo uma sacola com mangas verdes. Sorri.

- Ajude mais o seu avô, Roberta. - Essa foi a última coisa que meu tio disse antes de se levantar da mesa e deixar seu prato sujo do almoço no mesmo lugar.

Meu tio não era um homem ruim, mas às vezes era complicado.

Foi ele quem conseguiu um estágio para mim nos correios. Ele queria preservar a saúde do pai, mas às vezes não percebia o quão hipócrita e egoísta era, pois normalmente não pensava muito em mim. O trabalho que ele conseguiu para mim foi planejado para que meu avô não arcasse com os custos da casa sozinho. E veja só, no final das contas, o senhor José não me permitiu pagar por nenhuma conta com meu salário. Isso irrita meu tio, eu sei que sim.

Nem Maya nem Arthur nunca pegaram um real sequer do meu avô, sendo netos. Mas eu moro com ele desde os doze anos, quando meus pais se separaram, e sempre fui bancada por meu avô. Enquanto, em todos os meus aniversários, meu avô sempre preparou um bolo e me presenteou de acordo com minha necessidade, Maya só ganhou um ótimo presente aos quinze anos, quando meu avô pagou metade das prestações do celular dela.

Isso parece injusto para meu tio e talvez realmente seja.

Talvez eu tenha errado e meu tio tenha conseguido me fazer sentir culpada.

Mas Maya e Arthur tinham pais para lhes darem as coisas. Eu tinha apenas meu avô.

Corações em Conflito: Romance CristãoOnde histórias criam vida. Descubra agora