Capítulo 17

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Eu saio da cafeteria sem ver a Júlia que sumiu com o primo, caminho até meu carro que se encontra a dois quarteirões. Eu paro do lado de fora e coloco minhas mãos no teto do carro e fico pensando.

Hoje eu agi mais como um asno, e sei que a Júlia sentiu na pele a minha frieza, tanto que não voltou a me atender. Antes de sair não resistir em perguntar por ela, e Adriana, a outra atendente da cafeteria, disse que ela estava em reunião com chefe.

Eu percebi que a moça estava nervosa, mas ela não deixou escapar nada. Pensei em ficar mais tempo até que Júlia aparecesse, mas não tinha mais o que fazer ali. Sei que no dia anterior houve um carregamento grande de drogas. O que mostra que estão ficando mais confiantes. Isso sugere que teremos alguns dias sem que aja uma movimentação tão grande.

Ingrid, em seu relatório deixou claro que Júlia não estava na cafeteria, e que foi informada que se encontrava de folga. Ela não perde a oportunidade de me convencer da inocência da Júlia.

Um carro de luxo passa do outro lado da rua e eu olho, ele para no posto e quando abaixa o vidro reconheço o Francisco e percebo que está sozinho. Júlia deve ter ficado na cafeteria. Olho em direção onde fica a cafeteria. Eu preciso conversar com a Júlia. Deste modo, me afasto do meu carro e volto pelo mesmo caminho.

Estou me aproximando da cafeteria. Uma chuva fina começa a cair e aperto os passos, então a vejo passar pela porta. Júlia parece fora de si e atravessa a rua sem olhar para os lados.

Eu não penso duas vezes e corro atrás dela. Alguma coisa aconteceu, alguma coisa grave, isso posso apostar.

Júlia chega ao calçadão e não para, corre até a areia. Eu consigo me aproximar e segurar seu braço, a viro para mim, seu rosto está molhado, não somente pela chuva, mas as lágrimas caem por sua bochecha. Meu coração aperta. Essa mulher não é como o primo, a certeza bate em mim como um golpe. Júlia é inocente.

— O que aconteceu? — pergunto.

Júlia me abraça, e eu sinto seu corpo tremer enquanto chora em meu peito.

— Eu estou muito ferrada, muito mesmo...

Levo minha mão até seus cabelos que estão fora do lugar. Tenho um medo insano de descobrir o que ela quer dizer.

Eu respiro fundo.

— O que aconteceu, Júlia? — Minha voz sai mais firme ao repetir a pergunta.

Ela segura minha jaqueta preta e afasta a cabeça do meu peito, então olha para mim, aflita. Abre e fecha a boca. Como ela é linda!

— Eu tenho que tomar a decisão mais difícil da minha vida, e eu não sei o que fazer — confessa e olha para baixo. — Há alguns dias descobri uma coisa horrível e... — Júlia se vira e se senta na areia, abraçando os próprios joelhos. — O meu primo... eu o considerava como o meu irmão.

Eu me sento ao seu lado, não me importo em sujar a roupa ou se a chuva começa a apertar. Passo os braços por cima dos seus ombros.

— Júlia, preciso que fique mais calma. Você pode confiar em mim — digo com sinceridade. Não quero prejudicá-la.

Júlia fica parada e olha o mar, perdida em seus pensamentos e suas lágrimas se misturam a chuva. Minha vontade é pegá-la em meu colo, pois nunca a vi tão infeliz. Essa não é a Júlia que eu conheço.

Eu olho seu semblante triste, e mesmo assim, com o cabelo bagunçado, suja de areia e molhada da chuva, consegue despertar o meu desejo. É um sentimento tão forte que sou incapaz de parar.

Delegado SilasOnde histórias criam vida. Descubra agora