Capítulo 35

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Minhas pálpebras tremem e eu custo a abrir os olhos. Quando finalmente consigo despertar do que parece um sono profundo, a minha visão está embaçada. Eu pisco algumas vezes até que possa enxergar com nitidez. Meu corpo está dolorido, e eu busco em minha mente as últimas lembranças.

Eu passo os olhos ao redor e me dou conta de que estou num hospital. Olho para o meu braço e vejo que estou no soro. Eu quero tirar essa agulha da minha pele, mas não sei como. Ouço um barulho e olho para o lado. Uma mulher com roupa verde vem em minha direção.

— Finalmente acordou. Vou chamar o médico, aguarde só um pouquinho, querida.

Ela segue em direção à porta. Eu fecho os olhos para me concentrar. A minha última lembrança é de estar servindo na cafeteria; depois, vidros sendo quebrados. Algo me atingiu, e eu não consigo lembrar mais nada.

Escuto passos e abro os olhos. Um senhor de barba e cabelos brancos se aproxima. Ao seu lado, a mulher simpática.

— Júlia? Como se sente? — pergunta o senhor.

Eu tento falar, mas a garganta está seca, então dou uma tossida.

— Sede — respondo, e minha voz sai afônica.

Ele acena.

— Eu sou o doutor Aurélio. Pedirei à enfermeira Beatriz para lhe dar água, mas você precisa beber devagar — diz, apontando para a mulher ao seu lado, e eu aceno. — Antes, vou examiná-la, apenas por precaução. Mas acredito que esteja tendo uma boa recuperação.

O médico e a enfermeira me examinam. Em seguida, sinto o colchão se elevar e fico com a parte de cima do corpo erguida.

— Vou te dar água aos poucos — diz a enfermeira.

Ela coloca o copo na minha boca e eu bebo devagar. Então, ela se afasta e o médico examina meus olhos.

— Você sente dor em algum lugar?

— Meu ombro está dolorido, mas é uma dor suportável — respondo em voz baixa.

Ele faz mais algumas perguntas, as quais eu respondo. A enfermeira toma algumas notas, e eu sei que fazem o seu trabalho, mas não quero falar com eles. Eu logo penso em Silas. Será que ele sabe que eu estou aqui? Eu o queria aqui segurando a minha mão. Com ele, eu não me sentiria tão solitária.

O médico conta que eu fiz uma cirurgia no braço, mas que estou bem e que ainda hoje saio do CTI, assim, poderei receber alta amanhã ou depois. No entanto, ele não diz o motivo de eu ter ido parar numa mesa de cirurgia.

Ele passa para o outro lado da cama e novamente me examina. Eu sinto meu coração bater com força. Movo a cabeça e olho em direção à porta, sentindo uma emoção dentro do peito ao ver o rosto de Silas através do vidro. Dou um sorriso fraco, e sem que eu perceba, uma lágrima solitária escorre pela minha bochecha.

— Esse moço virou assunto nos corredores — conta a enfermeira, e ouço uma risada contida do médico.

— Ah, esse é o delegado. Ele conversou comigo, está muito preocupado — diz o doutor Aurélio.

A enfermeira ri.

— Sim, ele está mesmo.

Enquanto conversam, eu não consigo tirar os olhos de Silas.

— Ele merece ver a nossa paciente. Vou dar quinze minutos a vocês — aponta o médico.

Os dois saem do quarto. Noto que Silas conversa com o médico. Meu coração bate forte, pois eu preciso ouvir a sua voz, eu preciso dele.

Delegado SilasOnde histórias criam vida. Descubra agora