Capítulo 36

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Paula e Jair estão hospedados em minha casa. Eu não poderia deixar a família de Júlia por conta própria, eles vivem numa cidade pequena no interior de Minas, não estão habituados à correria da cidade grande. Além disso, era o mínimo que eu poderia fazer, já que Júlia faz parte da minha vida.

Encerrada uma reunião a respeito do "Caso do Café", os agentes saem da sala. Eu sigo para a minha e peço que Rosemary vá até lá.

— Eu preciso terminar um relatório...

— Será rápido, venha comigo — ordeno e subo as escadarias até minha sala.

Ouço seus passos me seguindo, o que prova que Rosemary ainda tem algum juízo. Entro na sala e peço que ela feche a porta. Sento-me em minha cadeira.

— O que você quer tanto falar comigo? — indaga.

Eu a encaro. Rosemary me olha como se eu tivesse feito algo de errado.

— O que você estava pensando ao bisbilhotar o meu celular, Rosemary?

Suas bochechas ficam vermelhas, enquanto seus olhos brilham de raiva.

— Eu não estava bisbilhotando nada!

Estreitando o olhar, eu chego para a frente.

— Não? Você tem certeza de que mentir para mim é uma boa ideia?

Rosemary respira fundo e se levanta.

— Ok, eu realmente bisbilhotei. Mas fiz isso porque gosto de você, Silas. Eu estava desconfiada de que poderia estar envolvido com uma suspeita — confessa.

Eu continuo sentado, encarando-a com determinação.

— Com quem eu me envolvo, não é da sua conta! Mas estou curioso para saber... De que suspeita você está falando?

Rosemary faz uma careta e me olha, chateada.

— Júlia Flores. Eu sei que você anda saindo com ela.

— E como você tem tanta certeza disso?

— Eu não sou idiota, Silas, percebi como falava dela, além de fazer questão de ir àquela cafeteria, mesmo sem necessidade — acusa, como se tivesse razão em alguma coisa.

Cruzo os braços e jogo o corpo no encosto da minha cadeira.

— Eu ainda não entendi aonde quer chegar — declaro, sem tirar os olhos dela.

Rosemary exala forte, espalma as mãos sobre a minha mesa e me olha com raiva.

— Silas, você é um delegado respeitado, envolver-se com uma suspeita poderia acabar com a sua carreira! — adverte.

A calma que eu aparento ter está longe, mas não vou dar à Rosemary o gostinho de me ver perdendo a paciência.

Eu aceno, erguendo as sobrancelhas.

— Rosemary, responda-me uma coisa... Não, melhor, responda-me duas... Onde está a lei que impede um delegado de se relacionar com qualquer pessoa? — Rosemary me encara e aperta os lábios, irada. — A outra pergunta: espionar o celular de outra pessoa, além de ser considerado invasão de privacidade, é crime? Ela respira alto. — Então, quem está errado aqui? — questiono.

Ela volta a se sentar. Sua atitude muda, Rosemary se mostra mais respeitosa.

— Eu não quis invadir a sua privacidade, eu apenas queria entender por que você mudou tanto. Silas, esse não é você, envolver-se com uma suspeita... Isso...

— Isso não é da sua conta, Rosemary! Só para esclarecer os fatos, a Júlia não é uma suspeita. E, mesmo que fosse, eu me envolver com ela não diz respeito a ninguém. Você agiu com imprudência e aproveitou-se de um momento em que eu estava perturbado para xeretar. E, pior, aproveitou-se da confiança que um dia eu depositei em você.

Delegado SilasOnde histórias criam vida. Descubra agora