Capítulo 16

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Aproveito a minha folga no meio da semana para colocar algumas coisas em dia, enviar um trabalho de cálculo diferencial e assistir a uma aula on-line. Depois, eu arrumo o meu quarto e desço até a área comum para usar a lavadora de roupa. Enquanto aguardo, vou para a varanda nos fundos e ligo para a minha mãe, que atende prontamente.

Ela pergunta se eu estou bem adaptada à cidade e como é o trabalho. Eu conto quase tudo sobre os meus dias, mas escondo sobre o Francisco ser um idiota, assim como não revelo as minhas desconfianças. Se tudo o que pressuponho for verdade, eu não esconderei nada dos meus pais.

E não arrumou nenhum namorado, minha filha? — pergunta e dá uma risadinha.

Eu também dou risada.

— Não tenho tempo para isso, mamãe. Esqueceu que eu uso as horas vagas para estudar?

Você é tão jovem, minha filha, deveria aproveitar mais a vida — diz.

— Se meu pai e meus irmãos ouvirem a senhora, estará encrencada — comento de maneira divertida.

Seus irmãos são uns machistas, isso sim! E quanto ao seu pai, eu me viro com ele — declara com firmeza, apesar de eu sentir o riso em sua voz. E eu só digo isso porque confio em você, minha filha. Sei que não vai sair por aí com qualquer rapaz, você sabe se valorizar.

Eu sorrio.

— Sim, a senhora está certa, sabe o quanto sou seletiva, e não é apenas por causa das ameaças dos meus irmãos — concluo.

Minha mãe dá uma gargalhada, então ficamos relembrando os tempos em que meus três irmãos eram babacas comigo. Os três ficavam no meu pé o tempo todo, não permitiam que os meninos chegassem perto de mim, além de ameaçá-los.

Meu pai adorava, chamava os três de seus soldados, pois defendiam a sua princesa. Eles me irritavam muito, mas não esqueço que, por causa deles, eu não entrei em uma roubada. Um rapaz de uma cidade vizinha me pediu em namoro, e eu, toda feliz, contei primeiro para a minha mãe, que decidiu me ajudar com o papai e meus irmãos ogros. Por sorte, os três seguiram o rapaz e descobriram que o infeliz era casado e tinha dois filhos pequenos.

Eu não quis acreditar quando me contaram, mas sabia que meus irmãos não eram mentirosos. A partir de então, eu passei a dar mais crédito a eles e fiquei receosa de namorar.

Minha mãe dizia que em algum momento eu encontraria alguém, e até meus irmãos, que costumavam dificultar qualquer chance minha de namoro, passaram a me incentivar, embora continuassem vigilantes.

E foi assim que eu me tornei um pouco incrédula quanto aos homens.

Eu sempre disse que na hora certa aparecerá um homem de bem. Só não se esqueça de se prevenir, minha filha. Qualquer coisa, é só conversar comigo, eu sou sua melhor amiga, lembre-se sempre disso.

Eu suspiro.

— É claro, mamãe. E caso alguma coisa mude, eu conto para a senhora — garanto, e antes de desligar, conversamos mais um pouco.

Depois da ligação, eu estendo a minha roupa no varal e subo para o meu quarto, a fim de me trocar e ir ao mercado. Eu não contei para a minha mãe que, no dia do meu aniversário, eu saí para jantar com o Silas, um dos clientes da cafeteria.

E não contei por dois motivos. Primeiro, ela poderia perceber em minha voz como esse homem mexe comigo e me encheria de perguntas, as quais eu não saberia responder. Segundo, porque, se eu contasse, ela iria descobrir a mentira do Francisco, e isso desencadearia mais perguntas e eu terminaria por me confundir, pois mentir não é o meu forte.

Delegado SilasOnde histórias criam vida. Descubra agora