Aproveito a minha folga no meio da semana para colocar algumas coisas em dia, enviar um trabalho de cálculo diferencial e assistir a uma aula on-line. Depois, eu arrumo o meu quarto e desço até a área comum para usar a lavadora de roupa. Enquanto aguardo, vou para a varanda nos fundos e ligo para a minha mãe, que atende prontamente.
Ela pergunta se eu estou bem adaptada à cidade e como é o trabalho. Eu conto quase tudo sobre os meus dias, mas escondo sobre o Francisco ser um idiota, assim como não revelo as minhas desconfianças. Se tudo o que pressuponho for verdade, eu não esconderei nada dos meus pais.
— E não arrumou nenhum namorado, minha filha? — pergunta e dá uma risadinha.
Eu também dou risada.
— Não tenho tempo para isso, mamãe. Esqueceu que eu uso as horas vagas para estudar?
— Você é tão jovem, minha filha, deveria aproveitar mais a vida — diz.
— Se meu pai e meus irmãos ouvirem a senhora, estará encrencada — comento de maneira divertida.
— Seus irmãos são uns machistas, isso sim! E quanto ao seu pai, eu me viro com ele — declara com firmeza, apesar de eu sentir o riso em sua voz. — E eu só digo isso porque confio em você, minha filha. Sei que não vai sair por aí com qualquer rapaz, você sabe se valorizar.
Eu sorrio.
— Sim, a senhora está certa, sabe o quanto sou seletiva, e não é apenas por causa das ameaças dos meus irmãos — concluo.
Minha mãe dá uma gargalhada, então ficamos relembrando os tempos em que meus três irmãos eram babacas comigo. Os três ficavam no meu pé o tempo todo, não permitiam que os meninos chegassem perto de mim, além de ameaçá-los.
Meu pai adorava, chamava os três de seus soldados, pois defendiam a sua princesa. Eles me irritavam muito, mas não esqueço que, por causa deles, eu não entrei em uma roubada. Um rapaz de uma cidade vizinha me pediu em namoro, e eu, toda feliz, contei primeiro para a minha mãe, que decidiu me ajudar com o papai e meus irmãos ogros. Por sorte, os três seguiram o rapaz e descobriram que o infeliz era casado e tinha dois filhos pequenos.
Eu não quis acreditar quando me contaram, mas sabia que meus irmãos não eram mentirosos. A partir de então, eu passei a dar mais crédito a eles e fiquei receosa de namorar.
Minha mãe dizia que em algum momento eu encontraria alguém, e até meus irmãos, que costumavam dificultar qualquer chance minha de namoro, passaram a me incentivar, embora continuassem vigilantes.
E foi assim que eu me tornei um pouco incrédula quanto aos homens.
— Eu sempre disse que na hora certa aparecerá um homem de bem. Só não se esqueça de se prevenir, minha filha. Qualquer coisa, é só conversar comigo, eu sou sua melhor amiga, lembre-se sempre disso.
Eu suspiro.
— É claro, mamãe. E caso alguma coisa mude, eu conto para a senhora — garanto, e antes de desligar, conversamos mais um pouco.
Depois da ligação, eu estendo a minha roupa no varal e subo para o meu quarto, a fim de me trocar e ir ao mercado. Eu não contei para a minha mãe que, no dia do meu aniversário, eu saí para jantar com o Silas, um dos clientes da cafeteria.
E não contei por dois motivos. Primeiro, ela poderia perceber em minha voz como esse homem mexe comigo e me encheria de perguntas, as quais eu não saberia responder. Segundo, porque, se eu contasse, ela iria descobrir a mentira do Francisco, e isso desencadearia mais perguntas e eu terminaria por me confundir, pois mentir não é o meu forte.
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Delegado Silas
RomansaEM BREVE: Vamos conhecer Silas Mourão Bellucci Matarazzo, o delegado linha dura e muito gostoso.