Capítulo 1

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17 anos depois.

Desligo a TV e ponho o controle em cima da mesa de centro. Levanto do sofá e com a xícara de café vazia, vou até a cozinha e coloco a mesma no lava-louças. Retorno à sala, junto a papelada que se encontra espalhada sobre uma das poltronas. Com satisfação guardo tudo no envelope pardo.

Mais um caso resolvido!

Infelizmente não são todos os dias que se ouve no noticiário sobre a condenação de um bandido tão perigoso, não estamos nem perto de resolver essa situação. No entanto, cada criminoso que vejo atrás das grades, sinto que fui recompensado, que meu trabalho não foi em vão.

Depois de organizar os papeis dentro do envelope e o colocar em cima da mesa de centro. Vou para a minha suíte e termino de me arrumar. Devo chegar cedo à delegacia e averiguar uma denúncia que recebemos no início da semana. Pelo que tudo indica, uma cafeteria badalada na zona oeste da cidade, é na verdade um centro de distribuição de drogas.

De acordo com relato da testemunha, essa situação tem se desenrolado há algum tempo. E não podemos simplesmente fazer uma busca no lugar, pois a cafeteria é apenas a ponta do iceberg. Há muito mais a ser desvendado, e para isso teremos que elaborar uma investigação sigilosa e bem elaborada, para não despertar os criminosos. Temos que dar corda, até que sejam enforcados.

Com distintivo e arma em mãos desço o elevador até a garagem do prédio, antes de entrar no meu carro observo atentamente ao redor. Desde que me tornei delegado, e depois de vários treinamentos, não consigo simplesmente agir como uma pessoa normal, costumo estar alerta a tudo, e acredito que todos nós, que trabalhamos de cara com o perigo, sejamos assim. Não tem como ser diferente.

Cheguei a pensar que agora seria tudo mais tranquilo, pois assumi como delegado em uma delegacia especializada em combate as drogas, já não é qualquer tipo de ocorrência que transita em meu departamento. Porém, a demanda é muito maior do que eu poderia imaginar.

Claro que como um delegado há dez anos, sei que a criminalidade é uma bola de neve, nunca tem fim. No entanto, no que refere ao tráfico, a coisa toma uma proporção gigantesca, e é muito difícil dar conta de tantas ocorrências, fora as centenas de denúncias anônimas que recebemos todos os dias, as quais nem todas são verídicas.

No carro, ligo um Blues, meu estilo de som favorito, juntamente com o bom e velho Rock. Saio da garagem, e pego a avenida pouco movimentada, dado o anteceder das horas.

Enquanto dirijo, tento estruturar em minha cabeça todos os compromissos do dia, embora, seja desafiador, pois não temos como planejar nada. Na delegacia é tudo muito dinâmico. Porém, devo dar prioridade ao início das investigações junto a cafeteria. Preciso orientar meus policiais e indicar quem irá se infiltrar como um cliente comum.

Pondero sobre designar Rosemary para essa investigação, ela é uma policial formidável e muito fria, e desde que terminamos nosso relacionamento, há alguns meses, evitei maior contato com ela, porém, acredito que a Rosemary tenha superado o noivado desfeito, e como a profissional que é, jamais deixaria algo pessoal atrapalhar seu trabalho, ela tem ciência de suas responsabilidades.

Alguns minutos depois chego a delegacia, estaciono e ao sair vejo um dos meus agentes estacionando ao lado do meu carro. O Belchior é um dos melhores policiais que tenho no departamento. Um homem esperto e muito ágil, ele já atuava nesta delegacia antes que eu fosse recolocado, diferente de outros, que foram transferidos comigo.

Assim que deixa o veículo, se aproxima estendendo a mão.

— Viu o noticiário da madrugada? — pergunta, enquanto nos cumprimentamos.

Delegado SilasOnde histórias criam vida. Descubra agora