capítulo 21

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Gabriela acordou se perguntando onde estava.

Demorou um pouco para raciocinar. Estava no purgatório. Também conhecido como Cannes, a cidade francesa dos sonhos. Atualmente: cidade do mas que merda.

Rolou na cama, abrindo um olho. Pelo menos, não ia se virar e dar de cara com Sheilla. Teria sido um desastre monumental. Talvez o seu hábito de não forçar as coisas fosse bom. Ou talvez a aparição de Caroline, Tereza e as outras salvou Sheilla e ela de cometerem o pior erro de suas vidas. Algo que custaria seu trabalho. E que, possivelmente, teria roubado sua sanidade. Porque apesar de nunca ter se encontrado em uma situação dessa, era óbvio como ia acabar. Já tinha visto essa história nos livros, filmes e na vida real.

Regra número um: não seja um romance da despedida de solteira.

Regra número dois: quando alguém com quem se envolve está noivo, as coisas não costumam acabar bem.

Mas nada disso fazia com que seus sentimentos parecessem menos reais. Além disso, quando Sheilla a olhou e disse que não conseguia parar de pensar nela, também pareceu real. Fechou os olhos e sentiu alívio e arrependimento borbulharem dentro de si como uma banheira de hidromassagem. Arrependimento de não ter beijado Sheilla. Alívio por não ter feito isso. Seu celular tocou. Gabriela se virou e pegou o aparelho. Era uma mensagem de Bella.

Como está em Cannes? Espero que tenha usado aquele biquíni sexy. Bella não fazia ideia.

Está indo bem. Interessante. Quase beijei a noiva ontem à noite.

Os dedos pairaram em cima do botão de enviar. Será que deveria? Apertou antes que tivesse mais dúvidas. Recebeu uma resposta instantânea.

Queeeeeeeee? Como? Pq?

Gabriela adoraria poder responder à essas perguntas de forma honesta e clara. Mas não conseguia.

Ela me disse que tem sentimentos por mim. Uma confusão. Estávamos sozinhas na banheira, mas não nos beijamos. Acho que tenho que consertar as coisas hoje. Me deseje sorte.

Alguns segundos se passaram antes de ela receber uma resposta.

Boa sorte. Se lembre disso: não é com ela que você deveria estar. Vá para um bar e pegue uma estranha. Tire isso da cabeça. Só não fique com ela.

Gabriela sentiu as bochechas corarem quando pensou no quanto esteve perto de fazer isso. O quanto deixou suas barreiras caírem ontem, sem ninguém por perto. Chegou a milímetros. Ainda conseguia sentir o toque da respiração de Sheilla nos seus lábios.

Não vou ficar. Preciso ir.

Gabriela jogou o celular do outro lado da cama e então apoiou as pernas no chão. Graças a deus pelo ar-condicionado. Entre o calor de Cannes e seus problemas, estava se sentindo frita. A Operação Contenção de Danos começaria em meia hora. Olhou para a piscina. Não havia ninguém ali. Levantar cedo tinha algumas vantagens. Pegou o biquíni de onde havia deixado para secar e o vestiu. Meia hora na piscina, e ela estaria pronta para encarar o dia. Ou o mais pronta que poderia estar.

Os músculos de Gabriela estavam doloridos quando andou até a cozinha e pegou o prato de frutas que o chef George havia deixado antes de ir embora. O grande relógio na parede da cozinha impecável avisava que ainda tinha uma hora antes que o serviço de café da manhã que contratou chegasse, o suficiente para deixar as frutas na temperatura ambiente e para que ela tomasse um banho e fizesse o café. Separou dez xícaras brancas no balcão ao lado da cafeteira, deixou os talheres e os guardanapos alinhados e empilhou os pratos brancos de porcelana ao lado deles. Satisfeita por ter feito o máximo que podia, Gabriela assentiu para si mesma e saiu da cozinha.

E quase tropeçou em Sheilla. Ela estava usando shorts jeans e uma camiseta branca que deixava pouco para a imaginação. Nem parecia estar usando um sutiã. Gabriela precisava parar de encará-la. Olhou para o rosto de Sheilla. Assim tão cedo, ela nem tinha passado maquiagem. Gabriela gostava disso.

— Oi. — Esteve ensaiando a conversa com Sheilla enquanto nadava. Mas agora que estavam frente a frente, toda a preparação foi por água abaixo. Sheilla tinha esse efeito.

— Oi. — As palavras da noiva não eram exatamente o foco de Gabriela. Estava olhando fixamente para os olhos dela, que percorriam seu corpo.

Merda.

Gabriela achou que conseguiria chegar ao quarto antes que as garotas acordassem. O grupo gostava de dormir até tarde. Estava usando o biquíni vermelho de novo. Mas era como se estivesse nua.

Sheilla parecia ter perdido a capacidade de falar.

Gabriela se inclinou na direção da porta.

— Só estava indo me trocar antes que o café da manhã chegue. — Ela curvou os dedos dos pés enquanto o tempo passava. Sheilla endireitou a postura. — Então talvez eu devesse... — Gabriela tentou passar por Sheilla.

Continuou a andar antes que ela pudesse impedi-la. Passou pelo corredor e subiu a enorme escadaria. Ouviu passos atrás de si. Quando se virou, Sheilla estava ali.

— Continue. — A noiva seguiu Gabriela até o quarto, e então fechou a porta. Apoiou as costas e as palmas da mão na madeira. Respirou fundo, como se aquele fosse o último lugar onde queria estar. — Só queria conversar sobre ontem à noite. Fomos dormir sem falar nada, e não queria que hoje fosse estranho.

O coração de Gabriela se apertou. Ficar ali, com aquele biquíni, na frente de Sheilla não era um bom jeito de começar. Foi até o outro lado da cama para se distanciar.

— É bom que já podemos colocar os pingos nos is. Mas como você disse, nos deixamos levar pelo momento. Nada mudou. Podemos continuar trabalhando juntas do mesmo jeito. — Sheilla assentiu, como se fosse um plano sólido e não só palavras para tapar os buracos. Como se o plano fosse infalível. Sheilla esfregou as mãos no estômago, mordendo a parte interna da bochecha.

— Então estamos bem? Somos amigas? — Gabriela assentiu, cerrando os dentes.

— Claro. Amigas e colegas. Sou sua madrinha profissional.

Ela olhou para Gabriela como se tivesse acabado de levar um soco no estômago. A moça não queria magoá-la, mas talvez fosse a melhor coisa a dizer. Apresentar os fatos para Sheilla, assim cada uma poderia interpretar seu papel. Do lado de fora, ouviram uma porta bater. As duas se sobressaltaram.

— Você deveria ir. — Gabriela cruzou os braços. — Antes que a sua mãe e a Carol entrem aqui e pensem o pior.

— O que é verdade. — Sheilla parecia querer engolir de volta as palavras. Ela balançou a cabeça. — Meu Deus, que confusão.

Gabriela deu a volta na cama.

— Sheilla. — Segurou uma das mãos dela. — Ainda não é uma confusão, e não precisa ser. Daqui algum tempo, você vai pensar nessa história e rir. Por enquanto, precisa me deixar tomar banho, e eu preciso tomar conta das coisas de hoje. Temos um café da manhã para tomar e depois vamos aproveitar um passeio de vinhos. Vai ser divertido. A última coisa que quero fazer é estragar sua despedida de solteira. Você só vai ter uma, então é bom que aproveite. Por você e por todas as pessoas que querem comemorar ao seu lado. — Apertou a mão de Sheilla. — Promete que vai tentar? — Ela assentiu.

— Sim.

Gabriela soltou a mão dela. E no mesmo instante, quis puxá-la para si e arrastá-la para a cama. Mas isso não estava no itinerário do dia. Apaixonar-se pela noiva não estava na planilha. E Gabriela seguia seu planejamento de forma obediente.

— Vou tomar um banho. Você desce e faz o café. Às dez, alguns homens vão chegar de moto para entregar a comida. Não importa o que pareça agora, poderia ser pior.

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iai, será que as queridas vão conseguir manter essa amizade?  🫣

before you say i do - sheibiOnde histórias criam vida. Descubra agora