capítulo 35

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— Ainda não consigo acreditar que estamos fazendo isso. É como um filme do Richard Curtis. Daqueles estilo sessão da tarde.

Gabriela estava com as mãos firmes no joelho, dentro do carro de Bella quando ela freou o veículo e parou no semáforo. Olhou para o relógio. Era quase uma e quarenta da tarde. O casamento aconteceria às duas. Elas estavam muito perto.

— Bem, talvez seja como um filme. Se a Julia Roberts aparecer, vamos saber que é mesmo.

Gabriela acordou naquela manhã com um nó no estômago e o coração doendo. Remexeu a torrada no prato, encarando o café, e então Bella a forçou a admitir o que queria. Era Sheilla? Porque se quisesse, ela realmente não tinha escolha. Talvez esse não fosse o jeito normal de Gabriela fazer as coisas, assumindo as rédeas de sua vida e declarando seus sentimentos. No entanto, nenhum de seus relacionamentos passados deram certo, então talvez estivesse na hora de mudar de tática.

Bella se ofereceu para dirigir, e ela concordou. Estava correndo atrás do que queria. Precisava saber, sem sombra de dúvidas, que estava tudo terminado. Não queria ficar pensando no "e se". Mas não sabia o que encontraria quando visse Sheilla. Será que ela a ouviria? Ou lhe daria um tapa na cara? De toda forma, qualquer uma dessas ações provaria que havia algo entre elas. O semáforo ficou verde. Algo tremulou em seu peito. Ela engoliu em seco, encarando o celular. De acordo com o GPS, estavam há dois minutos da igreja de São Cristóvão. O padroeiro dos viajantes. Será que Sheilla escolheria se arriscar em uma nova jornada?

— Você está pronta? Estamos bem perto. — Gabriela assentiu, balançando o joelho coberto pela calça jeans.

Pensou em colocar o vestido de madrinha e terminar o que começou. Então Bella a lembrou de que ela não era masoquista e não havia nenhum prêmio por ser assim. Por esse motivo, escolheu jeans, sapatos Oxford, camiseta branca e blazer azul marinho. Porque no fim das contas, precisava parecer uma opção pela qual Sheilla trocaria o seu casamento. Gabriela abaixou o quebra-sol para usar o espelho. A maquiagem ainda estava boa e o cabelo estava no lugar. Só precisava do final feliz que tanto queria. Ou, pelo menos, a possibilidade de um final feliz. Será que estava fazendo a coisa certa? Não tinha ideia. Mas não podia mais ignorar o jeito que seu coração batia cada vez que pensava em Sheilla. Não era uma coisa só sua. Sheilla também tinha um papel nessa história. Só restava saber se ela queria mesmo assumir o papel principal.

— Sabe qual é o carro dela? — Bella olhou pelo retrovisor. — Não é um jaguar branco, é? — Gabriela assentiu.

— Sim, é vintage. Fui eu quem reservei. — Bella fez um gesto com o polegar.

— Tipo o que está atrás de nós? — Gabriela se virou no assento, e então seu coração explodiu. Instintivamente, se afundou no banco.

— Merda. Acho que são elas.

Bella olhou para a esquerda, ligou o alerta e parou na frente da igreja, onde os últimos convidados ainda estavam do lado de fora. Desligou o motor, se virou e apertou a mão de Gabriela.

— Hora do show. Você está pronta? — Gabriela deu um aceno definitivo que provocou um frio enorme no estômago.

— Vamos lá.

Quando olhou para cima, Carol e Thaisa estavam vindo na sua direção. Precisou ignorá-las e se concentrar no que ia fazer. Saiu do carro no mesmo momento em que o jaguar estacionou. Na sua cabeça, os pneus cantavam. O ar quente de junho acariciava seu rosto. Os sinos da igreja ressoavam. Do outro lado da rua, um menino chutava uma bola de futebol em um jardim com a mãe. Era um dia normal para eles. Mas não para Gabriela.

Esse era o dia mais importante da sua vida.

O motorista do carro deu a volta e abriu a porta do passageiro. Tereza saiu primeiro, com uma expressão pensativa. Então o motorista ofereceu a mão, e Sheilla saiu, o vestido elegante acariciando sua forma com estilo. Gabriela engoliu em seco. Sheilla estava maravilhosa. E também estava pronta para se casar com outra pessoa. Talvez ainda se casasse. Mas não significava que ela não deveria fazer o que precisava ser feito. Foi até Sheilla no mesmo momento em que a fotógrafa, Heidi, apareceu, pedindo para que ela posasse na frente do carro. Gabriela reconheceu a moça de outros casamentos que havia participado.

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