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Todo mundo somente fala da parte boa da medicina, ninguém fala do quão é difícil sobreviver a pressão da sociedade pra ser a melhor, sem falhas

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Todo mundo somente fala da parte boa da medicina, ninguém fala do quão é difícil sobreviver a pressão da sociedade pra ser a melhor, sem falhas...omitindo as sombras desoladoras que ela pode lançar sobre as vidas daqueles que buscam alívio e cura. É uma realidade brutal, mas crucial, compreender que por trás dos corredores iluminados e das salas de espera, existe um mundo sombrio de lutas e sacrifícios, de muitas mães chorando ajoelhas pra nós como se fôssemos alguns deuses que tem o poder de da a vida a alguém. Aqui o ateu vira crente, acredita em tudo o que é possível nesse planeta apenas para ter a chance de continuar existindo.

A narrativa que raramente é compartilhada é aquela que revela o peso angustiante que a medicina impõe aos mais jovens, como o impacto devastador de uma doença como o câncer em um adolescente de treze anos. A visão dolorosa de uma vida que mal começou, agora pendendo precariamente sobre a borda da existência, confinada a um ambiente estéril e impessoal de um hospital. É uma imagem que transcende o glamour da cura, mergulhando na dura realidade de uma batalha que pode roubar não apenas a saúde, mas também os preciosos momentos da juventude.

O sofrimento é ampliado pelas agulhas que perfuram as veias, introduzindo medicamentos cujo propósito nem sempre é claro. A esperança, muitas vezes frágil, é sustentada por uma tenacidade que desafia as limitações do corpo, mas há momentos em que a dúvida se insinua nas mentes daqueles que testemunham a luta. O paradoxo doloroso de um tratamento que, apesar de seus esforços, não oferece garantias de cura completa, é uma verdade difícil de digerir.

Estar à beira da morte é uma verdade difícil de digerir, e ele estava...Carlos Eduardo, 13 anos, pardo, anêmico com câncer e de família humilde. O Conselho Federal de Medicina deixa claro que os médicos não podem ter qualquer tipo de vinculo com os seus pacientes, e apesar de eu tentar fugir disso...era difícil fugir de Carlos Eduardo.

-- eu não vou morrer né, tia? -- Carlos perguntou com os olhinhos brilhando de lágrimas, sorrir amarelo e neguei rapidamente

-- claro que não, meu amor -- falei sentindo um nó na garganta

-- sabe a minha irmã me disse que a senhora é boa no que faz e que vai me tirar dessa situação -- ele disse tocando na minha mão e a acaricio por cima da minha -- como está o seu namoro com o Pedro? Ele tem sorte, quando eu crescer quero namorar alguém com você -- ele disse com os olhos brilhando e dessa vez sem lágrimas

-- meu namoro vai muito bem, estou muito feliz ao lado dele sabe porque? -- questionei e ele concordou

-- porque ele te faz muito, muito, muito feliz!-- ele disse animado e concordei rindo baixo tocando com o meu dedo na ponta do seu nariz

-- aham, e obrigada pelo elogio mas você merece alguém melhor que eu -- falei tocando com carinho na sua bochecha de deixei um beijinho lá

-- não existe alguém melhor do que você, tia.

Saio dos meus pensamentos quando Luciana toca na minha mão me chamando a atenção

-- Bella, você consegue -- ela disse sussurrando e concordei suspirando olhando pro crânio de Carlos Eduardo aberto, iríamos realizar a retirar do tumor na cabeça que ele tinha e eu hoje serei a principal responsável por isso e se algumas pessoas ali tivesse noção do meu laço com esse menino jamais estaria dentro do centro cirúrgico agora, era a minha última cirurgia antes da minha formatura como Neurocirurgiã, eu já era médica, estava apenas finalizando a minha especialização.

-- eu quero ter três filhos!

-- três? Você não acha que é muito não, rapazinho? -- falei brincando com ele que negou dando de ombros

-- eu quero formar uma família com a Júlia -- ele disse se jogando na cama com os olhinhos brilhando

-- a Júlia da sala 507? -- questionei com os olhos arregalados e ele concordou suspirando -- uiuiu, tá todo apaixonadinho -- brinquei fazendo cosquinhas nele que gargalhou

-- esse tumor está bem mais complicado do que eu imaginei -- falei observando com a lanterna cada detalhe -- vamos ter que perfurar um pouco esse lado daqui pra poder retirarmos ele e usar outro medicamento mais forte

-- você pensa em ter filhos, tia?

-- penso mas só um, não quero três como você -- falei brincando e ele riu -- mas eu quero que ele seja como você, assim: doce e alegre -- falei dando um beijinho na sua testa

-- pode introduzir? -- o anestesiologista me perguntou e confirmei, ele olhou pro meu orientador que também confirmou e já aplicou a injeção

-- qual a possiblidade de que eu morra nesse cirugia, não minta pra mim, tia!

-- você não vai morrer

-- não temos certeza de nada, tia...por favor me diga, quais a chance de eu morrer?

-- 70%

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Salvation ● Pedro GuilhermeOnde histórias criam vida. Descubra agora