03 KHOH

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Luiza dispara pela floresta correndo sem rumo, pensando no azar de encontrar um mago, ela fala consigo mesma – Usuários de magia são banidos, carregam o mal e só trazem catástrofes. Aquela fada... Por que esses seres mágicos não estão mortos? Maldito dia! Onde você está Fernando? –

Enquanto isso o pequeno fada se aproxima do mago perguntando se não deveriam ir atrás dela – Não, nosso trabalho aqui acabou. – e deita na grama para descansar.

Mas logo eles ouvem o som de um urso. O fada fica sem ação, mas o mago se levanta como um raio e corre para salvar a moça desconhecida. Luiza está sendo perseguida pelo urso e acaba encurralada em um precipício do rio que corta a montanha.

Sem alternativa ela salta e fecha os olhos esperando o impacto contra a água. Logo ela os abre e se vê flutuando no ar. Até que percebe o pequeno fada a segurando-a pela alça da bolsa e uma magia circula ao seu redor. Em seguida escuta o som do urso que cai do precipício, ao lado dela, todo transpassado por flechas de luz.

Espantada ela decide não reagir e é carregada para baixo, ao lado da margem do rio. Assim que pousam no chão o fada solta sua bolsa e a rodeia analisando-a por completo. Olhando para cima vê o mago apoiado em um dos joelhos, ofegante. Com a voz brava ele alerta para que ela não entre na floresta – Pode estar purificada, mas ainda existem animais selvagens. Venha Khoh... – e some da vista.

Luiza percebe que Khoh é o nome do fada que continua ali observando-a intrigado. Com olhinhos curiosos e um sorriso infantil, o pequeno fada enche o coração da camponesa de ternura. Ele balança de um lado para o outro, batendo suas asas translucidas, rápido como as assas de um beija-flor.

Observando o rosto de Luiza, ele parecia querer lhe perguntar algo. Mas notando que seu mestre já foi embora, sai sem se despedir dela. Voando para o alto do precipício e ficando inacessível para a moça.

~ ~ ~

Seguindo a margem do rio ela alcança a estrada. Atravessa a ponte e segue com um olhar no caminho e outro na floresta, que não tem mais nenhuma característica mal-assombrada. Mesmo assim ela segue para a cidade vigiando as arvores a cada passo.

Depois de andar até o meio dia ela ouve um pedido por água. Luiza hesita e olha fixo para as arvores de onde veio à voz, que pareceu muito fraca. Tomando coragem ela se aproxima da floresta e vê a ponta de um tecido entre as folhagens.

– Quem está ai?... – mas não houve resposta, apenas um pedido por água que se repete.

– Fernando?... – ela pergunta indo com cuidado até o tecido e ali encontra o mago inconsciente e febril. O chapéu está no chão revelando os cabelos castanhos ondulados e volumosos, contrastando com a pele pálida. As bochechas bem rosadas e o lábio inferior mais carnudo se entreabrindo e tremendo suplicando por água novamente.  

Ela pensa em fugir novamente, mas recordando que foi salva por ele decide retribuir. Luiza pega seu próprio cantil, levanta um pouco a cabeça dele e lhe dá água, que bebe sedentamente sem abrir os olhos. Preocupada com a febre ela retira um lenço, molha com a água do cantil e começa a esfriar a testa e o pescoço dele.

Khoh se aproxima trazendo água, mas ao vê-la cuidando de seu mestre, não interrompe e fica escondido assistindo a cena.

A moça procura por algo em sua própria bolsa, logo retira algumas ervas e sementes, coloca em um copo de metal e com uma pedra, que limpou, começa a amassar as folhas e sementes pra formar um líquido. Mistura com água e serve ao enfermo avisando que vai ajudar a baixar a febre.

Assim que ela tenta fazê-lo beber, o mago acorda e cospe agarrando-a pelo pulso – Esta tentando me envenenar? –, o lenço que estava em sua testa cai em seu colo, mas isso não o distrai. Vendo que a moça está assustada ele a larga e a manda embora.

Mas mesmo tremula, Luiza responde – Não é veneno. São ervas da minha mãe! Os camponeses usam isso para não depender de médicos. –

– Por que vai dar remédios para um estranho? Caia fora. – O mago tenta se levantar, mas atordoado pela febre acaba se sentando novamente.

A menina fica ali, parada, observando aquele homem pálido e bem vestido que parece mais um nobre do que um monstro que carrega o mal e catástrofes consigo. O mago, impossibilitado de sair dali, tenta expulsa-la novamente.

Mas ela finge não ouvir e retirando um sanduiche da bolsa divide ao meio oferecendo a ele – É para fortalecê-lo, em troca me diga se viu meu noivo... Fernando... Ele entrou na floresta... –

Mesmo parecendo contrariado o mago aceita a metade do sanduiche e responde que não viu ninguém além dela. Ainda acrescenta que os camponeses deveriam ser mais cuidadosos.

– Ele deve estar perdido, preciso encontra-lo... – diz ela lançando um olhar como pedido de ajuda.

O mago entende bem o que ela quer e suspirando pergunta quando Fernando entrou na floresta. Mas ao ouvir que foi uma semana atrás junto com outros. O mago fica com o olhar vazio – Não havia sobreviventes... Sinto muito... –

A mocinha fica sem chão se dando conta de que não há mais esperança – É melhor seguir seu caminho, ou será acusada de magia ou compactuar com o mal... –

– Obrigada... Pelo urso... – o mago vê que ela está com dificuldade para articular as palavras e simplesmente vira o rosto desejando que ela não chore e que vá logo embora.

Contudo é surpreendido com a mão dela em sua testa – Sua febre... Você vai ficar bem? –

– Sim... Só aspirei um pouco de miasma. Agora vá embora logo... – o mago fala com uma voz gentil, retirando a mão dela de sua testa.

Luiza recolhe seu copo e seu cantil. Em seguida sai dali sem olhar para trás. Khoh só se aproxima quando ela se foi pela estrada. Intrigado ele pergunta – Mestre por que mandou aquela fêmea embora? Ela não era da sua espécie? –

– Sim era, mas porque isso importa? – e deitou para descansar.

– Porque não acasalou? Disse que a humanidade está morrendo, então deveria procriar para não entrar em extinção como as fadas... –, o mago disfarçou o constrangimento da pergunta – Eu não tenho tempo para família e agora deixe-me descansar... Vá vigiar! –

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Era Um MagoOnde histórias criam vida. Descubra agora