Era Um Mago

09 FOFOCA

Lucas desistiu de dar conselhos para Luiza. Ela é tão teimosa quanto ele era no passado, pensou. Depois que comeu sua sopa dormiu novamente acordando próximo ao meio dia.

Vendo-se sozinho no quarto conjurou uma magia de cura, tirou a imobilização da perna e conseguiu mexê-la como se nunca a tivesse quebrado. Arrumou a cama e em agradecimento colocou duas moedas de prata sobre a bancada.

Cautelosamente saiu do quarto percebendo que estava no andar de cima que funcionava como residência, enquanto no andar de baixo funcionava um mercado armazém. Discretamente tentou descer as escadas, porém foi pego no meio do caminho.

– Como está de pé? Onde pensa que vai? –, reclamou a senhora Tebec que levava um bandeja de almoço para o quarto dele.

– Não acredito que estava pensando em fugir! Quanta irresponsabilidade! Vocês dois estão pensando em me matar do coração? Se não pode pagar pelas despesas médicas ao menos coloque juízo na cabeça de Luiza! Ela saiu hoje cedo atrás de trabalho. Que tipo de trabalho alguém vai dá para uma mocinha sem referências? Tenho até medo do que farão com essa menina se ela ficar solta por ai. Isso é tudo sua responsabilidade! –

Lucas entendia a situação, mas questionou – Se você tem essa loja, por que não deu um emprego para ela? –

– Ora! Porque não preciso de ajudante e achei que ela desistiria depois de lhe dizer umas boas verdades. Ah... Que cabeça de vento... – ela falaria muito mais, contudo um cliente entrou na loja.

– Aqui segure e sente-se ai mesmo. Não sai da escada, esta me ouvindo?! Vou ficar de olho em você! Nossa conversa ainda não acabou. – ameaçou a senhora Tebec.

O mago escolheu ser obediente, comeu ficando satisfeito e agradecido. Olhando a mulher trabalhar pensou que ela era muito boa, mesmo sendo uma tagarela durona.

Pouco tempo depois ouviu uma carroça chegar, era o velho Tebec descarregando os produtos. Lucas foi ajudar, isso surpreendeu o senhor que achava que ele estava com a perna quebrada. Mas carregou várias caixas e ainda perguntou onde colocar nas prateleiras.

A senhora logo sussurrou para o marido – Parece que ele não é o problema mesmo... –

– Onde está Luiza? – quis saber o velho.

– Saiu atrás de emprego. Oh! O que vou dizer para a mãe dela?... – choramingou a velha.

– Calma mulher, ela não vai conseguir e vai voltar logo. –consolou o marido.

Outros clientes foram entrando. Entre eles muitas senhoras para fofocar sobre o alvoroço da noite passada. Os Tebec pareciam muito interessados nas fofocas. – Muita gente na cidade foi enganada, sabe o dono da mansão? Ele diz que foi forçado a vendê-la e está discutido com a guarda para receber mais dinheiro. –

– Não me diga. Mas a guarda não estava encobrindo tudo? – sussurrou uma mulher escondendo os lábios atrás no leque.

– Vocês não sabem do pior. Era um entra e sai daquele casarão. As filhas dos nobres devem estar todas perdidas, pobres coitadas, nunca vão se casar... – disse a mais fogosa sem disfarçar a voz. 

– Todo mundo agora alega ignorância... Até parece que não estão envolvidos... – sussurrou a com leque olhando em volta com medo de chamar atenção. 

– E esse rapaz? O que ele fez com a empregada? – perguntou a fogosa.

– O Lucas? Ele não fez nada e a Luiza é da vila próxima, eu conheço a mãe dela. – defendeu, a velha Tebec.

– Mas ela fugiu para casar com ele? – quiseram saber todas as fofoqueiras. Tebec se mostrou indignada e não respondeu. Isso não apagou a conversa.

– Você resolveu contratar ele? – quis saber a fogosa.

– Até que ele é bonito, a fazendeira deve ter ficado iludida com as feições nobres dele... – a outra sussurrou por trás do leque.

– Ora cale-se, os pais dela virão resolver isso. Não vieram comprar nada? – inquiriu a velha Tebec.

Constrangidas elas acabaram fazendo pedidos de comidas e materiais de costura. Porém, outras mais ousadas e querendo avaliar Lucas dirigiram seus pedidos especificamente a ele.

O senhor e senhora Tebec viram que ele parecia bem recuperado e sem cerimônias o fizeram trabalhar.

Lucas não reclamava, embora sério, atendia com gentileza fazendo as fofoqueiras enrolarem na loja só para assisti-lo. No entardecer, quando a loja fechou, ele varreu e ajudou no jantar. Deixando os Tebec bem satisfeitos com o trabalho dele.

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