Na manhã seguinte Sandro levanta-se antes do alvorecer e com o som dele se vestindo Marcela acorda – Aonde vai? –
– Ao celeiro... – diz Sandro em tom baixo e irritado.
– Tão cedo homem... – questiona Marcela aos sussurros.
– A essa altura ele já deve ter fugido... Ou o farei trabalhar tanto que vai sumir... – resmunga o velho.
– Pssssii! Luiza pode ouvir... Quer que ela fuja com ele? – se desespera a mulher.
– Ela não seria tão louca, já contei que é um mercenário e nem nome tem... – retruca ele.
– De qualquer forma eu a manterei longe dele. – disse ela.
Assim ambos seguiram para seus trabalhos. Marcela na cozinha e Sandro no celeiro. O céu estava se tingindo de azul e rosa quando abriu a porta e encontrou Lucas sentado retirado leite de uma das vacas.
– O que esta fazendo? – perguntou Sandro surpreso.
– Ordenhando, imaginei que me pediria isso, já estou na segunda. – disse Lucas de bom humor.
O velho estava realmente surpreso com a disposição do rapaz e seguiu para a terceira vaca. Mas fez a ordenha lentamente para que Lucas tivesse que fazer o máximo possível de esforço. Sem se incomodar ele trabalhou rápido e encheu dois dos latões de leite.
Depois aprontou a carroça para que Sandro pudesse transportar o leite como fazia toda manhã. Mas quando o pai de Luiza foi pegar cordas perto do feno onde o convidado havia dormido viu a ponta de um tecido escondido na palha.
Curioso levantou e encontrou os cobertores da cama de Luiza. Indignado gritou com Lucas. Ouvindo a gritaria as duas correram para o celeiro.
Com desprezo o pai jogou os lençóis aos pés da filha – Eu acreditei em você! Como pôde passar a noite aqui! –
– Não pai eu não passei a noite aqui! Está entendendo tudo errado! – suplicou a mocinha.
– Como errado Luiza?! – gritou Sandro com a face se contorcendo em desgosto.
– Eu só trouxe os lençóis! É verdade! Mamãe você acredita em mim, fale com o papai... – suplicou a moça.
Friamente Marcela recolheu os cobertores do chão e disse a filha para mostrar o anel para o pai – Como conseguiu esse anel caro? – quis saber o velho e Lucas que até o momento se manteve em silêncio respondeu que era parte do dote para Luiza.
– Um presente de noivado... – Sandro, vendo que as coisas não iriam correr como ele planejou, mandou que Lucas subisse na carroça, eles iriam juntos levar o leite. Mantendo-se calmo Lucas obedeceu.
No caminho não trocaram uma única palavra. Logo a carroça se dirigiu a fazenda vizinha. Com o som dos cavalos um senhor de cabelos brancos saiu da casa e logo ao lado dois jovens saíram do celeiro. A primeira coisa que perguntaram foi sobre Luiza, pois já sabiam dos boatos da cidade.
– Não me diga que esse rapaz é... – se assombrou o velho grisalho. Sem gostar dos boatos Sandro respondeu seriamente – Sim, ela já está em casa. Vá logo Lucas ajude os filhos do velho Caesa a trazerem os galões de leite. – disse o homem descendo para conversar em particular com o vizinho enquanto os jovens entravam no celeiro.
Mas Lucas hesitou um pouco, não queria passar pela porta, pois sentia algo maligno. Logo que entrou viu várias das vacas deitadas no escuro.
Só havia um galão de leite, meio cheio, o filhos de Caesa o mandaram carregar até a carroça. Assim que amarrou o galão ao carroção foi dispensado por Sandro – Você fique aqui e ajude o velho Caesa, as vacas dele estão doentes. – assim partiu deixando Lucas entre estranhos que o encaravam com desprezo.
– Rapazes mostrem o trabalho para o visitante. Depois voltem para casa temos algo para conversar... – disse o velho Caesa acenando. Assim, Lucas ficou sozinho naquele celeiro sombrio e logo percebeu pequenas criaturas rondando os animais deitados.
Quando teve certeza do que estava vendo conjurou lanças de luz transpassando alguns deles e com a luminosidade das lanças viu claramente pulgões negros. Os adultos eram do tamanho de dez centímetros, porém os filhotes estavam como carrapatos escondidos no pelo dos animais.
– Uma infestação!... – refletiu o mago e atentamente olhou em volta, se certificando que não havia ninguém. Retirando o cetro de seu bolso fez o circulo de proteção cobrindo uma das vacas e os parasitas se dissolveram como fumaça.
Dessa forma continuou com a magia criando diversos círculos ao redor de cada animal. Isso desencadeou uma fuga de vários pulgões adultos que estavam escondidos nos cantos e Lucas teve que invocar diversas lanças de luz para destruí-los.
~ ~ ~
Horas depois os dois jovens Caesa voltaram ao celeiro e o encontraram com as portas abertas e bem iluminado, aquele ar sombrio de antes havia desaparecido e muitas das vacas não estavam mais deitadas e sim em pé, bebendo água recém colocada. Surpresos encontraram Lucas limpando um dos currais, com uma pá enchendo um carrinho de mão com estrume.
O mais velho dos rapazes ficou impressionado com a melhora do local. Contudo o mais novo só procurava um defeito e vendo o visitante com o rosto vermelho parar e descansar encostado a porta, fez logo um comentário desagradável – Muito fraco... Meu irmão Fernando limpava todo esse lugar sozinho e nem transpirava! – falou em tom de desafio. Ninguém o repreendeu e Lucas fingiu surdez e saiu para descarregar o carrinho de mão.
Foi logo seguido pelo pivete que continuou seu discurso – Pelo menos trabalhou, então vai poder comer... Saiba que se não tivesse feito nada teria ficado sem almoço, porque aqui no campo não gostamos de engomadinhos como você. Quem não trabalha não come. –
Ignorou aquelas provocações e voltou para o celeiro encontrando o mais velho acariciando uma das vacas recém recuperadas. – Pensei que iriamos sacrificá-la, mas agora está até de pé... Vamos forasteiro, o almoço está pronto – disse com um ar de gratidão na voz. Seguindo-o pôde entrar na casa e sentar-se a mesa.
O velho Caesa quis logo saber como encontraram o celeiro e ouvindo o relato de que Lucas trabalhou bem e até mesmo as vacas pareciam mais saldáveis, ficou sem palavras.
A senhora e uma jovem da idade de Luiza logo trouxeram a comida para a mesa e analisaram o visitante – Então tem experiência com fazenda? Por que não parece... –, disse a mãe indelicadamente.
A moça que admirou a beleza de Lucas assim que o viu pela primeira tentou atenuar – O mais importante é ser esforçado, olha como ele está cansado e vermelho, parece até com febre... Não pegou a doença das vacas, não foi?... –
– Esforçado?... Ele não aguenta mais nem um dia... – retrucou o mais novo.
Ao fim da refeição os velhos ficaram sozinhos na casa vendo pela janela os passos dos jovens até o celeiro.
– Ele não é de muitas palavras... Achei que esses malandros eram mais faladores. –, – Não sei qual a dele mulher... Mas vou descobrir e o Bailey pediu minha ajuda. –
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Era Um Mago
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