04 CIDADE

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Luiza alcança a cidade no entardecer. Ela lembra muito bem quando atravessou aquelas muralhas com seus pais e viu ruas agitadas pela primeira vez. A cidade era como uma grande festa ao ar livre, para ela.

Mas ao tentar entrar é impedida por um guarda que vigia o portão – Você está perdida mocinha? –, Luiza recua um passo surpresa com a pergunta, depois nervosa, tenta dizer que não e seguir para dentro. Mas o guarda insiste – Por que está sozinha, não me diga. Fugiu de casa? –

Ela fica ainda mais nervosa e ele percebe. – Isso é muito ruim... Sabe, você não pode confiar em estranhos e precisa de um emprego se quiser ficar... Consegue fazer alguma coisa? –

– Eu posso aprender rápido trabalhei na fazenda então sei fazer de tudo um pouco... –

– Hum... Parece uma garota responsável. Olha, conheço uma casa de nobres que precisa de empregadas... É uma casa de família, um bom lugar para começar... Siga pela segunda rua a esquerda, não tem erro, é o casarão com rosas no jardim. Quando chegar diga que o guarda no portão lhe indicou. Mas trabalhe bem! Não vá sujar minha reputação! –

– Não, claro que não vou sujar! Vou trabalhar bem! – disse a camponesa.

– Está certo, então vá logo. Não perca tempo ou pode perder a vaga. Vá, vá. – falou o guarda gesticulando com a mão.

Luiza agradeceu de coração e seguiu se sentindo a mais sortuda do mundo. Mal chegou na cidade e já tinha emprego em uma casa de família nobre. Quase corria de tão ansiosa para ver o casarão por dentro.

~ ~ ~

Durante a noite o mago sai escondido da floresta e se aproxima sorrateiramente da muralha da cidade. Khoh, que estava escondido em seu bolso, sente que o mestre parou e sai curioso – Já estamos na cidade? Onde estão os humanos? Só vejo pedras... –

– Shhhhi! Fique quieto. – logo conjura uma magia em suas botas e salta alto alcançando o topo da muralha como se fosse um passo.

O fada arregala os olhos ao ver tantas casas iluminadas pelo luar e a rua central toda destacada por postes ornamentados de lâmpadas a óleo – É incrível mestre. Por que nunca entramos em uma cidade antes? –

– Por que não somos bem vindos... Agora esconda-se, só saia quando eu chamar. – dito isso empurrou a cabecinha dele para dentro do bolso do casaco.

Com cuidado desceu da muralha sem ser notado e caminhou pelas ruas escuras até chegar a avenida central que possuía iluminação pública, ali passou desapercebido pelos casais, vendedores e guardas.

Por fim avistou a fachada de um hotel onde entrou e pediu um quarto. Como estava bem vestido e possuía feições nobres e pálidas, foi logo guiado a um bom quarto no primeiro andar. Assim que ficou sozinho retirou o casaco pousando sobre a mesa e avisou a Khoh que podia sair.

Esse disparou de dentro do bolso por todo o quarto, ficando maravilhado com os móveis, as cortinas, a cama e todas as coisas que ele nunca veria numa floresta. O mago apenas se aproximou da sacada, afastando um pouco a cortina para ver o movimento da rua. Imediatamente o fada veio olhar também, imitando o mestre, mas colocando as mãos e encostando o rosto contra o vidro como uma criança.

~ ~ ~

Na manhã seguinte, batidas na porta interromperam o sono do fada que se espreguiçava em um travesseiro gigantesco para ele. O mago sussurrou para Khoh se esconder e foi sozinho abrir a porta. Era o serviço de quarto trazendo um desjejum farto que foi servido na mesa. A camareira recolheu o casaco para pendura-lo, mas o hospede se adiantou e retirou da mão dela. Sem entender direito ela seguiu seu trabalho.

Escondido no casaco Khoh assiste os funcionários, do hotel, arrumarem a mesa de desjejum, trazerem o jornal, roupas de banho, limparem a lareira e forrarem a cama. Quando todos saem ele voa para a mesa, extasiado com tantas comidas diferentes. O mestre já está confortavelmente sentado à frente do banquete, lendo o jornal.

– Isso é incrível mestre! Os humanos sempre lhe tratam assim? Por que nunca vêm para as cidades? – pergunta, o pequeno, de boca cheia segurando um pedaço de bolo com as duas mãos e o rosto sujo de creme.

– Por que é muito arriscado, se eles descobrem que sou mago... Depois eles só me tratam assim por que paguei bem. Coma e aproveite, não vamos ficar muito tempo aqui... – disse impaciente virando uma pagina do jornal.

Algum tempo depois eles saem pela cidade. Khoh fica bisbilhotando descuidadamente o que obriga o mestre a empurrá-lo para dentro do bolso a cada minuto.

Até que o mago interrompe sua caminhada bruscamente, sentindo algo maligno dentro do prédio do teatro. Um anunciante retira sua concentração oferecendo panfletos para o espetáculo daquela noite. Disfarçando interesse, ele pergunta dos horários e nomes dos artistas.

Em seguida retorna para o hotel, deixando o fada muito desapontado por não ver toda a cidade. Mas o mago fica pensativo resmungando que não é comum encontrar criaturas malignas em cidades. Ainda mais algo tão maligno – Preciso descobrir com o que vamos lidar... –

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Era Um MagoOnde histórias criam vida. Descubra agora