46 - Simon

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Alguns dias depois

Saí da sala de cirurgia me sentindo derrotado e impotente, tirei a roupa cirúrgica e vi o sangue que espirrou do paciente nela, descartei no cesto e fui me lavar. Entrei na minha sala e vi que eram quase três da tarde, foi um dia movimentado no hospital e essa última cirurgia me abalou, pensei em Olívia e liguei para a floricultura de sempre e pedi um buquê de begônias rosa para ela, gosto que cada buquê seja único.

- Oi, como está se sentindo? - Lindsay perguntou ao entrar na minha sala.

- Não sei dizer muito bem... Mas estou mal pelo paciente e pela família.

- Você fez o que pôde lá dentro Simon... Tentou de várias formas.

- Eu sei, mas não foi o suficiente.

Fiquei de pé, me sentindo inquieto, Lindsay se aproximou e sorriu.

- Você é um médico brilhante... Sabe disso, não sabe?

- Sei...

- Vai ficar tudo bem... - Lindsay colocou a mão no meu braço - Quer ir tomar um café lá fora?

- Eu tenho uma consulta pré operatória, daqui a pouco...

Seu sorriso de desfez um pouco, aproveitei para me afastar, acho que Olivia tem razão, Lindsay está interessada em mim e eu tenho que manter nossa relação o mais profissional possível.

- Onde está o Scott? - perguntei.

- Foi realizar um exame.

- Certo...

A porta bateu e a recepcionista entrou, eu a encarei.

- Doutor, a paciente do leito dez o aguarda para a consulta prévia.

- Certo, pode mandar entrar.

Lindsay me olhou e depois saiu, logo em seguida a paciente entrou. Quando finalizei a consulta, recebi as flores, aproveitei que tinha um tempo livre e fui até a sala de Olivia, ao chegar lá ela não estava, entrei e fui direto para a mesinha, onde agora estão nossa fotografia que eu dei e uma outra de sua família, coloquei o vaso com as begônias atrás dos porta retratos e olhei o resultado.

- Ah, finalmente te peguei no flagra.  - ouvi a voz de Olívia e me virei.

Olívia se aproximou e eu a admirei enquanto andava, tinhamos nos arrumado juntos mas eu adoro vê-la. Ela sorriu e segurou minha mão, ao olhar em meus olhos sua expressão mudou.

- O que aconteceu?

Essa é uma das coisas que mais gosto na nossa relação, nossa comunicação implícita, basta um olhar e percebemos as emoções um do outro, é um nível de intimidade e conexão surreal.

- Perdi um paciente hoje... Ele teve uma parada cardiorrespiratória.

- Sinto muito.

- Eu devia ter previsto isso, deveria ter me preparado mais... Sei lá.

- Tem coisas que não dá para prever, Simon... Às vezes você faz tudo o que pode pelo paciente mas não é suficiente.

- Como consegue fazer isso? Entregar tantos diagnósticos assim, ver pacientes tendo recaídas e vendo eles partirem?

Perguntei sincero e ela me olhou pensativa, segurei suas mãos com mais firmeza.

- É muito difícil e não dá para dizer que a gente se acostuma, mas gosto do que faço e faço o melhor que consigo por eles. Não fica se martirizando, sei que fez o que poderia naquele momento... Vem aqui.

Olívia me abraçou e o seu calor me envolveu e eu me senti confortado, só ela é capaz de me fazer bem assim e me deixar tranquilo. Ficamos abraçados um bom tempo, depois notei que ela não estava mais usando a echarpe no pescoço.

- Onde está sua echarpe?

- Dei de presente para Júlia, hoje foi sua última sessão de quimioterapia, ela adorou o acessório, então eu dei.

- Ah... Ela vai voltar?

- Sim... Precisa fazer exames para saber se a medicação funcionou, espero muito que sim.

- Vai dar tudo certo. - falei e ela deu um meio sorriso.

- Tomara mesmo.

Dei mais um abraço em Olívia, ela me conforta e me deixa em paz só com sua presença, a forma como ela me entende é única.

- Não sabia que precisava desse tempinho com você, até chegar aqui. - falei e ela sorriu.

- Disponha, doutor Clarkson. - ela foi até o buquê de begônias e começou a cheirar as flores - São lindas Simon... Obrigada... Suas flores iluminam meu dia.

- E você ilumina o meu.

Falei e Olívia se virou para mim e sorriu, se aproximou novamente e eu coloquei os braços na sua cintura.

- Que lindo... Ah... Temos que chegar cedo e ir para o aeroporto.

- Certo, doutora Baker... Agora eu tenho que ir.

- Tudo bem.

Inclinei a cabeça e beijei os lábios de Olívia, era tão bom ficar ali com ela que eu perdia a noção de tempo, aprofundei o beijo e nossas línguas se tocaram, ela me abraçou com um pouco mais de força, puxei sua cintura para que nossos corpo ficassem ainda mais juntos, o beijo estava esquentando até que ouvimos uma batida na porta, nos afastamos imediatamente.

- Pode entrar... - Olivia falou e Sarah entrou.

- Estou atrapalhando?

- Não Sarah, estou de saída... - respondi e olhei para Olívia - Até mais tarde.

- Até mais tarde. - ela respondeu e eu beijei sua testa - Tchau Sarah.

Saí da sala de Olívia e fui de volta para a minha. O restante da tarde se passou rapidamente e eu suspirei aliviado quando encerrei meu expediente, encontrei Olivia na entrada do hospital, estava chovendo então corremos até o meu carro e fomos juntos para casa.

Enquanto eu terminava de me arrumar para irmos para o aeroporto, senti Olívia um pouco tensa enquanto fechava sua mala, me aproximei dela.

- Está tudo bem?

- Está sim, estou só um pouco nervosa. - ela respondeu e tirou a mala da cama e me olhou - É a primeira vez que eu levo alguém pra casa dos meus pais desde o meu casamento.

- Ah... - puxei Olivia pela cintura - Bom, fico feliz que seja eu a ir até lá depois do que aconteceu... Nós vamos tirar de letra esse final de semana, seus pais gostam de mim.

- É mesmo? - ela perguntou sorrindo.

- Com certeza, eles sabem que eu sou um excelente partido.

- E muito convencido também.

- Agora temos que ir.

- Certo... Estou pronta.

Beijei seus lábios e então peguei nossas bagagens, de repente comecei a me sentir animado para chegar em São Francisco, faz anos que fui até lá e eu espero que seja divertido esses dias com Olívia e sua família.

Insistindo no AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora