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Eu e Charlotte ficamos lá fora, conversando sobre coisas aleatórias. Falamos sobre a época do colegial que eu não estava.

— A Becky tentou se tacar de um prédio?

— Sim. A Nam chegou bem na hora e não deixou Becky se matar.

— Ainda bem, né.

Ficamos um tempo em silêncio, vendo a movimentação que estava na estrada. Vimos Heng voltando, totalmente desamparado, entrando para dentro do hospital.

O garoto estava de cabeça baixa, olhando para o chão, com as mãos no bolso da jaqueta.

— A Becky não tem ideia do quanto vocês amam ela — disse.

— Pra ela querer se matar, só não tendo ideia disso mesmo. O Heng perdeu o chão quando demos a notícia a ele.

— Eu percebi. Ele chegou na minha sala completamente pálido. Ele deve gostar muito da Becky.

— Ele e ela são como irmãos. A Becky é o porto seguro do Heng. A família dele não aceita que seu filho seja gay e modelo. Eles chegaram a expulsar o Heng de casa quando ele tinha 15 anos.

— E, como ele conseguiu se virar. Tipo, 15 anos, em uma cidade grande, deve ser tão difícil.

— Sim. A família da Becky e da Nam abrigaram ele até ele completar 18 anos. Por isso ele ama a Becky. Foi ela que convenceu os pais dela a ajudar o Heng.

— Como podem chamar ela de assassina? Porra! A Becky não tem nada aver com essa merda de apelido — disse um pouco brava e desacreditada.

— Eu sei disso, Freen — ela se endireitou na mureta e me olhou. — Você gosta mesmo da Becky?

— Sim. Eu nunca fui de me apaixonar rápido, mas foi tipo... Amor a primeira vista, tá ligado.

— Você vai fazer o que a gente quer que você faça com a Becky?

Neguei e sorri ao mesmo tempo, colocando as mãos em meus bolsos.

— Eu não sou tão idiota a esse ponto, Charlotte. É melhor vocês pararem de me jogar pra cima da Becky. Tá bem claro que ela não gosta de mim.

— Mas...

— "Mas" nada, Charlotte. Vocês têm alguma dificuldade em entender que eu não vou forçar a Becky a ter algo comigo? — perguntei-lhe e logo me preparei para sair dali.

— Pensa bem, Freen.

— Eu já pensei. E não foi preciso tomar muito do meu dia pra perceber que isso é completamente errado. Vocês não estão pensando nos sentimentos dela, Charlotte.

— Claro que a gente tá. É por isso que queremos que você tire ela desse emprego.

— Não. Se vocês estivessem pensando no que ela sente, estariam mais preocupados em saber o que se passou na cabeça dela pra sair de madrugada, doente, encher a cara e se tacar na frente do um carro, ao invés de estar me forçando a fazê-la se apaixonar por mim — comecei a andar, virei-me para ela novamente e a encarei — E outra: se nem a Nam que é irmã dela, conseguiu tirar ela desse emprego, não vai ser eu, uma completa desconhecida que vai conseguir.

***

Depois de alguns dias no hospital, finalmente recebemos notícias da Becky.

Acabou que Becky teve que fazer mais cirurgias. Não sabemos e nem temos notícias dela há três dias.

— Familia Kim? — todos nós levantamos. — As cirurgias ocorreram muito bem. Nenhum dos dois corre perigo — ele sorriu.

— Dois?

— Becky está grávida.

Segurei meu choro e encarei Nam. Ouvimos um murmuro de Charlotte dizendo: eu sabia.

— Grávida? — perguntei e o médico assentiu. - De quantas semanas?

— Apenas dois dias.

— Ok. Obrigado pela informação! Podemos ver ela?

— Um de cada vez. Ela está desacordada e não temos previsão de quando ela poderá acordar.

Primeiro foi a Nam, depois o Heng, daí foi a Engfa, a Charlotte e por último, fui eu.

— E aí, Patricia Armstrong? — falei animada assim que entrei. — Cara, cê acredita que você engravidou daquele velho? Tipo, o pau dele já não broxou, não? — sentei perto dela. — Eu quero conversar com você e ver o que te machuca. Eu quero ser sua amiga, Becky. Não quero forçar nada com você. Acho importante, muito importante que você saiba que o meu amor por você, pode ser passageiro, eu não sei. Mas, eu não quero antecipar as coisas. Eu não quero te obrigar a me amar. Eu não quero fazer o que todos eles querem.

Encarei mais uns minutos seu corpo desacordado e beijei sua testa, bem onde ela havia machucado quando bateu na parede.

— Eu quero curar as suas feridas, Jen...

Saí da sala, segurando o choro. Nunca fui tão forte na vida.

— Temos que combinar pra ver quem pode ficar aqui com ela — disse Nam. — Eu só posso ficar de noite.

— Todos nós trabalhamos, Nam. Vai ser difícil — disse Engfa.

— Eu posso ficar com ela.

— Certeza, Freen?

— Sim, Engfa. Eu vou conversar com o Non e ele pode ficar cuidando de tudo lá na empresa.

Depois de decidirmos isso, fomos cada um para sua casa, menos Nam, ela ficou, pois já estava de noite.

***

Estou na minha casa, esperando por notícias da Becky.

Já faz uma semana que ela está dormindo e não acorda.

Os médicos estão fazendo muitos exames nela.

Nam não pode ficar todo dia com a Becky, então eu fico com ela o dia todo, e a noite a Nam troca comigo.

Tem vezes que as amigas dela vai lá ficar no meu lugar para eu poder vir tomar um banho, mas elas também trabalham, então é complicado.

Eu sei que não tenho nada com a Becky, e, ao contrário do que todos eles querem, eu não quero forçar nenhum relacionamento com ela.

Estou sim ficando com ela no hospital, mas isso é porque eu gosto dela de verdade, e não porque quero forçar algo com ela.

Deixei que a água gelada caísse sob os meus cabelos. Hoje é sexta, horário de almoço, Nam está com ela enquanto eu estou aqui em casa.

Non está cuidando de tudo lá na empresa para que eu possa ficar no hospital.

Enquanto eu me banhava, escutei meu celular tocar. Na esperança que pudesse ser notícias da Becky, saí do box para atender.

— A Becky acordou, Freen — sua voz de choro e a notícia fez eu chorar também. — Vem pra cá agora!

— Eu já tô indo. Tchau!

Desliguei o chuveiro e fui me vestir rapidamente. Coloquei a primeira roupa que apareceu na minha frente.

Saí do meu quarto e desci as escadas tão rápido, que nem sei como eu não tropecei.

O universo estava ao meu favor e não deixou minha chave sumir.

No caminho, Nam me ligou novamente.

— Eu vou ter que ir embora, a minha chefe vai me matar se eu demorar mais um pouco. Já está vindo?

— Sim. Estou à caminho.

Sempre quando eu venho para casa descansar e depois voltar para o hospital, eu paro em frente à uma casa cheia de flores para roubar uma tulipa e levar para a Becky. Dessa vez não foi diferente, eu roubei a tulipa e ainda passei em uma loja para comprar uma capivara de pelúcia.

The Prostitute | Freenbecky G!POnde histórias criam vida. Descubra agora