Tomo meu leite, pensando nas revelações que fiz a Matteo horas atrás. Eu não costumo falar sobre isso com ninguém, não falei nem mesmo com doutora Wheeler, minha psicóloga. Nós abordamos diversos outros assuntos da minha vida, mas nunca consegui me abrir sobre isso. Falamos até dos pesadelos desencadeados por aquele acontecimento, mas nunca sobre ele especificamente.
Passamos anos rodeando o assunto, mas toda vez que tentava falar sobre tinha crises de ansiedade. Doutora Whelan nunca me pressionou, repetia que em algum momento eu precisaria mexer nessas feridas, mas sempre reforçou que precisaria ser no meu tempo.
Interrompi o tratamento quando fui para a universidade. Eu não costumo fugir de nada, mas, pela primeira vez na vida, fugi de algo que me machucava.
E aí, ontem a noite contei tudo para o Matt, só falei. Me senti leve e percebi que preciso procurar a doutora Whelan e retomar meu tratamento, finalmente me sinto pronta para mexer nessas feridas. Me sinto pronta para enfrentar a única coisa da qual fugi. Minha dor mais profunda. Minha lembrança mais cruel.
O rumo dos meus pensamentos mudam, se voltando para o homem que acolheu minhas dores com tanta sensibilidade.
Ele não está bem. Esteve inquieto por boa parte da madrugada até que levantou e se trancou no banheiro, chamei por ele mas toda a resposta que obtive foi apenas silêncio, o único som era o barulho do chuveiro.
Eu lembro bem de tê-lo encontrado em uma situação bem delicada durante um de seus banhos longos. Ele estava tendo uma crise, mas, naquela ocasião, a porta do banheiro não estava trancada e consegui entrar para o ajudar.
Quanto mais convivo com ele, mais percebo que Matteo tem muitos fantasmas e feridas, o grande problema é que ele parece ter se agarrado firmemente as suas dores e se escondido atrás delas para impedir que o machuquem mais.
Isso não é saudável.
Não é nada saudável.
O som suave dos passos atraem meu olhar. É estranho como um homem desse tamanho consegue andar tão discretamente, um dia preciso perguntar se ele já fez balé ou algo do tipo, porque não é normal seus passos serem tão leves.
Entrego para ele uma xícara com leite — que a essa altura está quase frio. Ele aceita, sentando ao meu lado em silêncio.
Ao terminar deixo meu copo vazio dentro da pia, de braços cruzados, me apoio contra a pia, analisando o homem a minha frente. Os cabelos estão molhados e os olhos frios, ele recolocou a máscara de indiferença que eu não via há semanas, mas são seus braços que me deixam alarmada.
— Matteo — chamo cautelosa —, por que seus braços estão vermelhos?
Olha para a própria pele, em seguida para mim.
— Cuida da sua vida, Genebra.
Levanta abruptamente.
Praticamente joga a xícara dentro da pia e tenta sair. Entro na sua frente, pressionando minhas mãos contra seu peito, ele dá alguns passos para trás, parando apenas quando seu corpo encosta na ilha.
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Raio De Luz - Série Di Rienzo Livro 1
Fiction généraleSLOW BURN + GRUMPYXSUNSHINE + CHEFE E FUNCIONÁRIA Matteo Di Rienzo é calado, reservado, frio, insensível e parece ter uma pedra de gelo no lugar do coração. Ao menos é assim que todos o enxergam. Analice Genebra é como o próprio sol, ilumina todo l...