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Simone

Três da manhã e eu ainda não tinha conseguido dormir, mandei mais seguranças fazerem a segurança ao redor da casa e mandei as meninas dormirem aqui; até mesmo Lindbergh está aqui, sem saber o motivo, mas está. Não quis arriscar a segurança de ninguém, principalmente a de Soraya, que se encontra dormindo tranquilamente nos meus braços; minha cabeça não para por um segundo e me pergunto como Janja pôde nos entregar assim. Será isso tudo por uma rejeição e ciúmes? Tantos anos de confiança para ela simplesmente trair todas nós, por puro capricho; isso é o que mais me magoa, a traição, a falta de consideração.

Me levantei com cuidado para não acordar a loira, a deixei ali dormindo e fui para a cozinha em busca de remédio, um chá ou leite morno; qualquer coisa que me ajudasse a dormir pelo menos um pouco. Olhei nos armários, peguei um chá de camomila e fui esquentar a água; quando estava ligando o fogão, levei um susto com a voz atrás de mim.

- Pelo visto, não sou a única que não consegue dormir depois dessa bagunça toda. - Me virei para trás com a mão sobre meu peito.

- Que susto Leila, caramba. E tem como conseguir dormir depois de ter descoberto que a pessoa que você confiava, sempre ajudou em tudo o que ela precisou, te apunhalou pelas costas? Juro que estou tentando entender, mas eu não consigo, é tão difícil assim saber separar as coisas? – Me sentei na banqueta atrás do balcão de mármore da cozinha e deixei que as lágrimas caíssem, Leila se aproximou de mim por trás e me envolveu em um abraço caloroso como quem dizia "você não está sozinha" e deixou um beijo no topo de minha cabeça.

- Olha Si, só posso dizer uma coisa; sei que o que Rosângela fez é algo que.... Não consigo descrever, mas estou tão chateada quanto você, não esperava isso dela; mas permita-se chorar hoje, sofrer hoje e descontar toda sua raiva agora e aqui, amanhã você mais que ninguém, precisa agir como se estivesse tudo bem e ter a cabeça fria. É amanhã que vamos ir para a jaula do Leão e concluir essa missão, vai ser arriscado e não quero você perdendo a cabeça, beba o chá e suba para tentar dormir um pouco; se precisar, sabe onde estou. – Falou deixando um carinho em meus ombros e subiu novamente para o quarto.

Fiz o que ela falou, e quando entrei em meu quarto e vi a loira ali abraçada com meu travesseiro e o semblante calmo, todas as minhas preocupações sumiram. Retirei o travesseiro de seus braços, me deitei ao seu lado, dei um beijo casto em sua testa e a abracei; assim adormeci e acordei horas depois com minha cama vazia. Olhei no banheiro, no closet, quartos, cozinha, sala e não encontrei Soraya e nenhum dos outros que estavam em minha casa; comecei a entrar em desespero e fui procurar nos fundos da mansão, quando atravessei a porta, escutei dois disparos e nessa hora meu coração parou ao imaginar o que poderia estar acontecendo.

Saí correndo em direção ao espaço fechado de onde tinham vindo os disparos, quando me aproximei das portas, mais dois tiros; abri a porta quase a arrancando. Não sabia se suspirava em alívio ou se batia em todo mundo pela cena que eu vi; Leila, Gleise e Eliziane ensinando Soraya a atirar e ela acertando todos os alvos, até bem sexy a cena da minha mulher com a arma na mão, mas não quero ela mexendo com armas. Nenhuma delas tinham notado minha presença por conta dos abafadores, acalmei minha respiração, retomei minha pose e me aproximei; atraindo a atenção delas agora.

- Mas o que é isso aqui?

- Oi amor, que bom que acordou; estou aprendendo a atirar, achamos que seria prudente devido aos fatos. – Falou se aproximando de mim com um sorriso lindo no rosto, passou seus braços em volta de meu pescoço e me deu um beijo; fazendo com que eu me derretesse inteira e esquecesse que iria brigar com elas por conta disso.

- Sim palmito, não se estressa; vai ser bom pra rabetuda aprender, daqui a pouco já pode até ser ela que vai invadir os lugares com você. – Todas caíram na risada com os apelidos ridículos que Leila usou.

- Será que depois de hoje, sai um casamento finalmente? Já quero ser madrinha dos filhos e do casamento, Simonão enrola demais; vê se não fica fazendo a menina de macarrão, que eu estou de olho hein. – Gleise disse e dessa vez até eu ri.

- Mas espera, macarrão? Como assim, gente? – Soraya se afastou de mim e olhou para nós confusa.

- Sim ué, ficar enrolando para depois só comer e pronto. E pelo visto, comer ela 'tá comendo direitinho né?! Esses dias precisei vir aqui durante a noite, tinha calcinha no chão da cozinha e os gemidos que vinham lá de cima, parecia que estava matando a menina. – Elize disse, fazendo Soraya ficar vermelha de vergonha e todas nós rimos.

Passamos o dia repleto de risadas e conversas, somente nós 5; Janja não apareceu durante o dia todo. Somente quando o Sr. Thronicke ligou avisando que havia conseguido o dinheiro, ela apareceu porque Eliziane ligou para ela e avisou que o local e horário já estavam marcados; Janja apareceu para podermos ir juntas. Pegamos armas e escolhemos um dos meus carros para irmos, eu fui dirigindo, Soraya no banco do passageiro com as mãos amarradas; para continuar simulando o sequestro e no banco de trás Gleise, Rosângela, Eliziane e Leila em seu colo.

Chegando no lugar, que era uma fábrica abandonada; tudo estava escuro, víamos apenas um carro preto com um homem já de idade escorado no capô, que julguei ser o Thronicke e mais 4 homens com ele. Estacionamos o carro e eu fui a primeira a descer, dando a volta no carro e puxando Soraya de dentro do veículo enquanto as outras desciam; segurei em um dos braços da minha mulher com força o suficiente para parecer que estava machucando e a levei em direção ao outro carro, as meninas vieram atrás.

- Estava ansioso por esse momento, será que dá para agilizar e devolver minha doce filha; temos assuntos a resolver. – Senti o tom de deboche enquanto ele se referia a Sory.

- Primeiro o dinheiro, depois a troca. – Ele pediu que um dos homens que o acompanhava trouxesse a mala até mim, que abri e fui conferir se realmente eram notas verdadeiras, e eram. Janja tremia igual vara verde e eu já sabia o motivo, só não tinha certeza do que aconteceria a partir do momento que eu entregasse Soraya.

- Tudo certo, pode levar sua filha. Foi bom fazer um acordo com você, pode ir Soraya. – Enquanto eu desamarrava seus pulsos, ele me chamou a atenção com a seguinte fala.

- Antes de ir, queria deixar um recado. Você deveria ter mais cuidado com as pessoas em que confia, não é legal ter uma mulher perturbada por ciúmes e completamente rejeitada ao seu lado; em um segundo as coisas podem mudar drasticamente.

Quando me virei para dar uma resposta, Soraya já estava andando calmamente em direção ao pai; Janja se descontrolou e começou a gritar antes que qualquer coisa pudesse sair de minha boca.

- Esse não era o acordo, seu merda. Você iria sumir com essa mulherzinha ridícula que chama de filha, iria ficar calado e Simone seria minha; você estragou tudo e não pode ficar assim. Se eu não posso ter a Simone por sua culpa, você também não vai ter sua filha. – Janja falou e sacou sua arma, quando pensei em ter alguma reação e impedi-la; três disparos ecoaram no ar.

Só vi Soraya caindo no chão, armas sendo apontadas dos dois lados, muitos tiros e o sangue escorrendo.

- NÃO, NÃO, NÃO. A SORAYA NÃO. – Fui correndo em direção ao seu corpo já estirado chão, sem me importar se iria levar um tiro ou qualquer coisa que fosse; eu só queria ela, queria minha futura esposa, queria a minha mulher e Janja tirou o meu bem mais precioso.

Ela começou a tossir, sangue saia pela sua boca e pelos lugares em que as balas tinham lhe acertado, ela gemia de dor e soltava palavras inaudíveis e indecifráveis.

- Por favor meu amor, aguenta firme. Eu vou te tirar daqui e vamos para o hospital, você vai ficar bem; me espera só um pouquinho, aguenta por mim. Prometo que volto para te buscar! – Deixei um beijo em sua testa e sai em disparada para onde vi Rosângela correr, a alcancei e a puxei pelos cabelos.

- O que você acha que fez, sua puta? Eu te avisei, avisei e você não me escutou; achou que iria acontecer o que? Que você me trairia e eu morreria amores por você correndo para seus braços?! Eu achava que sua traição era o que mais me doía, mas o que mais dói é o que você fez com o amor da minha vida; isso eu não vou tolerar de jeito nenhum. – Puxei ainda mais seu cabelo e a fiz olhar nos meus olhos, com a outra mão, encostei o cano da arma na sua testa e fui seca no que disse.

- Boa viagem no inferno, traíra. – Apertei o gatilho e sangue voou para tudo que é lado, principalmente em mim. Larguei seu corpo ali jogado como um animal qualquer, era isso o que ela merecia pelo que fez.

O barulho dos tiros já tinha parado, voltei correndo para onde minha mulher estava; e quando me abaixei ao seu lado, seus olhos estavam fechados e ela não me respondia mais. Um tiro pegou em seu abdômen, outro na perna direita e o último, Janja errou.

- Soraya, minha vida, meu sol; abre os olhos por favor. Eu amo você, não me deixe; eu imploro, prometo tudo que quiser, só não vai embora. – Vi ela tentando abrir os olhos, a peguei em meus braços e fui em direção ao carro, a coloquei no banco de trás, entrei no banco do motorista e fui em busca de um hospital em uma velocidade absurda.

Eu preciso salvá-la, tenho certeza que as meninas vão entender; mandarei ajuda para elas, mas agora, eu preciso que ela sobreviva, não é possível que quando finalmente eu encontro meu amor, nós não possamos continuar juntas.

APENAS MAIS UM ROUBO - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora