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Soraya

Eu estava tão chateada e magoada com a forma que Simone falou comigo, que tudo que eu precisava nesse momento era ficar sozinha; eu também não deveria ter entrado na sala dela daquela forma, mas nada justifica a estupidez com que ela me tratou. Saí de lá correndo e vim para o estacionamento, vou para casa, e ainda vou no carro dela para deixar de ser bocó; ninguém mandou deixar as chaves comigo e ainda me tratar daquela forma, ela que se vire para voltar depois. Dei partida no veículo e quando estava prestes a sair, avistei Simone vindo correndo na minha direção; não esperei que ela chegasse até mim, saí logo dali e liguei o som.

Para minha desgraça e para ajudar no meu drama, tocava no som uma música que o choro que eu segurava desde minha saída da sua sala, caiu conforme a música ia tocando.

"Tentei fazer valer a pena, passei, por cima dos problemas. Achei que eu era o bastante, mas não fui pra você. Tentei ser um cara perfeito, eu fiz, as coisas do seu jeito; queria ser mais importante, mas não fui pra você. Até que durou, me diz o porquê, perdeu tanto tempo aqui. Te faço um favor, melhor eu sumir. Fui mais um nas suas mãos, não sei se por carência ou falta de opção; só sei que eu senti amor, que pena só eu senti amor...". – Cantei chorando, sentindo a dor da letra; obviamente não tinha nada a ver com o que eu estava passando com Simone, foi somente uma grosseria, mas ainda assim, doía. Continuei escutando a mesma música até chegar na nossa casa, adentrei a sala com os olhos inchados e nariz vermelho; Leila e Gleise estavam na sala e ficaram me perguntando o que tinha acontecido, não quis responder. Chorei ainda mais e subi as escadas correndo, até chegar no quarto; arranquei minhas roupas e fui para o banheiro, enchi a banheira e fiquei ali mergulhada em meio aquele monte de espumas.

Chorei até não restar mais nenhuma lágrima, agora que a adrenalina passou, estou sentindo as consequências de subir as escadas daquele jeito; meu abdômen dói como se eu tivesse levado outro tiro, minha perna parece que está sendo esmagada. Decidi por sair da banheira e para minha surpresa, quando saí do banheiro, encontrei uma Simone com nariz e olhos vermelhos assim como os meus; ela tinha um buquê de rosas brancas em uma mão e uma caixa do meu chocolate favorito na outra.

- Me perdoa vida? – Me perguntou se aproximando com as rosas e o chocolate, diante do meu silêncio, ela prosseguiu.

- Sei que fui uma estúpida com você, eu não deveria ter agido daquela forma; não posso descontar meus problemas em você, sei que errei. Mas por favor minha vida, me perdoa? – Pediu com aquele olhar de cão sem dono e me entregou meus presentes.

- Fico feliz que tenha reconhecido seu erro, mas já parou para pensar que se você está agindo dessa forma enquanto ainda estamos namorando; como irá ser depois de casadas? Eu não vou suportar isso Simone, sei que sou dramática e sensível, mas não posso passar por isso de novo; não posso ter um relacionamento onde eu fique frustrada como foi o último. – Falei e a única coisa que eu ouvia dela, era soluços e suspiros; essa era a primeira vez que via minha morena chorando e espero ser a última. Estava brava e magoada, mas não pude deixar de me amolecer ao vê-la chorando.

Deixei os chocolates e as rosas de lado, segurei seu rosto com as duas mãos; forcei ela a olhar para mim.

- Eu te perdoo meu amor, mas jamais faça isso novamente. – Sequei suas lágrimas e lhe dei um beijinho.

- Agora vem, deixa eu cuidar de você. – A puxei pelas mãos em direção ao banheiro.

Retirei minha toalha, retirei a roupa de Simone que continuava a chorar silenciosamente; lavei seus cabelos, ensaboei seu corpo e ficamos ali abraçadinhas até ela finalmente parar de chorar. Ela se soltou dos meus braços, segurou meu rosto, me deu um selinho e finalmente depois de tanto tempo em silêncio; falou alguma coisa.

- Eu prometo que isso não irá se repetir, sei que você tem razão em tudo o que disse. E obrigada por cuidar de mim e me perdoar, agora deixa eu cuidar de você. – Disse passando as mãos por meus braços, desligou o chuveiro e fomos para o closet; onde nos vestimos com camisolas.

Ela me carregou no colo até a cama, deixou um beijo no topo da minha cabeça e disse que já voltava. Assim que ela saiu, me encolhi em posição fetal sobre a cama; minha barriga e minha perna doía tanto que essa foi a única posição que aliviou um pouco da dor que eu sentia. Algum tempo depois, Simone entrou no quarto com uma caixa de pizza e duas garrafas de guaraná de 600, ao me ver ali naquela posição, tratou logo de vir ver o que aconteceu.

- O que você está sentindo meu doce? Fez esforço né? Poxa my baby, o médico e eu te avisamos tanto.

- Minha barriga e perna estão doendo, fiz um pouquinho a mais de esforço subindo as escadas correndo.

Vi ela pegar algo dentro do móvel que fica ao lado da cama e logo em seguida me entregou um comprimido e a garrafa de refrigerante aberta.

- Bebe isso aqui, é um relaxante muscular; vamos comer e depois vou te fazer uma massagem. – Bebi sem protestos, comemos nossa pizza logo depois e como o prometido, ela veio fazer minha massagem.

- Tira a camisola e deita de costas. – Ela mandou e eu rapidamente obedeci mesmo sem estar usando nada por baixo, só queria relaxar.

Ela despejou um óleo com uma fragrância maravilhosa sobre meus seios, abdômen e pernas; espalhou e começou a massagear pelos braços, depois foi para o colo, foi descendo para os seios, massageou eles também. Massageou a barriga, os pés e foi subindo até chegar na parte interna das coxas; me pediu para abrir as mesmas e assim eu fiz. Ela massageou e em seus toques não tinha malícia, apenas cuidado; me virou e fez as costas e toda a parte de trás também. Fiz uma massagem nela também e agora nos encontrávamos abraçadinhas e nuas sobre a cama; mas eu precisava contar o que tinha acontecido e também tomar minha primeira atitude como "esposa" de Simone. E como se ela conseguisse ler meus pensamentos, falou antes mesmo de eu conseguir encontrar uma forma de iniciar aquela conversa.

- Acho que precisamos conversar, não acha? O que aconteceu para você entrar no meu escritório daquele jeito? – Me perguntou enquanto fazia carinho em meus cabelos.

- Fui te buscar para virmos para casa e jantar, quando fui abrir a porta da sua sala; sua secretária me segurou pelo braço e disse que eu não iria entrar. Lhe acertei um tapa e entrei do mesmo jeito, fiquei extremamente horrorizada com a forma como ela me tratou, principalmente depois do aviso que você deu na frente de todos; e aí quando entrei você ainda me tratou daquele jeito, me senti magoada. – Ela me olhava incrédula ao saber o que Gabriela tinha feito comigo.

- Sinto muitíssimo por isso, garanto que isso não vai se repetir; quem Gabriela acha que é para tratá-la assim? Amanhã mesmo a colocarei em seu devido lugar. – Me desvencilhei de seus braços e a olhei sem jeito.

- Na verdade quero fazer um pedido sobre Gabriela. – Ela assentiu séria.

- Qual seria esse pedido?

- Quero que mande Gabriela embora ou me deixe fazer isso, não quero ela como sua secretária. – Ela me olhou em silêncio por um tempo e eu senti que uma resposta negativa viria, mas me surpreendi com sua resposta.

- Como eu disse essa manhã, você tem total liberdade para fazer o que bem entender dentro daquela empresa; e se essa é sua vontade, pois bem, amanhã pode demiti-la. E se quiser, pode também entrevistar novas secretárias para o cargo; confio no seu julgamento e a que lhe agradar, também irá me agradar. – Selou nossos lábios e isso me tranquilizou, pensei que ela fosse reagir de forma negativa; mas algo ainda me incomoda e irei tirar isso a limpo. Desgrudei nossos lábios e ela me encarou confusa.

- Não estamos bem, meu sol?

- Muito pelo contrário Sisa, estamos sim; mas quero perguntar algo ainda sobre mais cedo.

- Pode perguntar o que quiser, para você, eu sou e sempre serei um livro aberto.

- Por que você chorou tanto e ficou tão frágil daquela forma, mesmo eu tendo te perdoado? – Senti ela ficar tensa e seus olhos se encheram de lágrimas novamente e ela precisou respirar fundo antes de finalmente conseguir juntar palavras para me responder.

- Desde pequena, sempre presenciei minha mãe fazendo com meu pai o que fiz com você hoje; ela era totalmente grossa e insensível com ele e depois fazia a comida preferida dele como pedido de desculpas. Mas não dava nem 1 dia, ela ia lá e fazia o mesmo; mas mesmo assim meu pai continuava com ela pelo amor que ainda sentia e por mim. E quando eu me vi fazendo o que fiz com você hoje, percebi que estava agindo igual ela; e eu não quero ser igual a ela, não quero viver te magoando e nem que se prenda a uma pessoa assim. - Ela começou a chorar incessantemente, a acolhi em meus braços, abracei e a tentei acalmá-la.

- Você não é e nem nunca será igual ela, eu prometo que se ao menos um dia eu sentir esses traços em você, irei avisá-la e não vou me prender a você. Está tudo bem, foi somente um desentendimento, minha princesa. – A deitei em meu peito, a abracei forte e fiz cafuné até ela dormir.

Ali em meus braços eu não tinha a Simone Tebet empresária, nem a ladra e muito menos a assassina fria que sei que ela também é. Ali só tinha minha Simone, uma Simone doce, frágil e falha como qualquer outro ser humano; uma Simone que só precisava de carinho e atenção, e isso eu tenho de sobra para ela.






N/A: Dois cap. em um dia para compensar meu sumiço, perdão pelos erros ortográficos. Mas me digam, Simone não parece um bebê grande? Em breve trarei um pouquinho mais de sofrimento, espero que o coraçãozinho de vcs aguente.

APENAS MAIS UM ROUBO - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora