Capítulo 4 💜🌹

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Débora Escobar

Os dias se passavam e a minha situação a cada dia estava mais insustentável. Enrique nos obrigava a acordar às 5h da manhã, quando o sol ainda nem tinha nascido, para limpar toda a casa. Murilo me ajudava, ia para a escola, e depois que chegava em casa terminava os afazeres. Já eu, depois de limpar tudo pela manhã, ia para o trabalho, e em seguida, para o curso. Qualquer pessoa normal ficaria cansada com essa rotina agitada. Eu passei a não sair com a Hellen e o Bruce nas minhas folgas, só para conseguir dormir e colocar o sono em dia, e era justamente nos dias livres que Enrique achava que eu deveria estar trabalhando. Isso gerou mais punições, pois segundo ele, eu estava sendo preguiçosa.

Estranhamente, Murilo era o que menos sofria nessas situações, eu era a pessoa que ele mais descarregava sua raiva, que ele mais pegava no pé. Eu apanhava com cinto ou vara de bambu, e ficava de castigo por qualquer motivo. Eu era acordada cedo na minha folga, e obrigada a comer pão de forma e ovos cozidos até que eu vomitasse, e mesmo assim tinha que voltar a comer, pois segundo ele, eu deveria me esforçar e seguir um padrão adequado de refeição, mesmo contra a minha vontade.

Esses maus tratos somado à negligência da minha mãe,fez com que eu desenvolvesse ansiedade. Vivia constantemente com medo. E como eu conseguia esconder essas coisas de todo mundo?

-Misericórdia, você não para de escrever nesse diário.-Hellen interrompe minha escrita, estávamos em horário de almoço.

-Amiga, eu só tenho esse tempinho pra escrever. Pelo menos eu não fico o dia todo no celular vendo bosta.-Jogo a indireta para ela, mas em um tom bem-humorado.

-É uma chata mesmo.-Ela ri.-E o que está achando do curso?

-Estou apaixonada por essa área.

-Pela área ou pelo professor?-Ergue uma das sobrancelhas.

-Pela área, Hellen!-Fecho o diário e o coloco em minha bolsa.-E pelo professor também, oh homem lindo.

-E o Danny? Gente...se eu tivesse um professor desses na época do colégio eu nunca mataria aula!

-Você é terrível!-Ajeito o uniforme para voltar ao trabalho e retoco o batom vermelho.-Tá bom, eu acho ele lindo, mas vou ficar só na admiração mesmo.

-Não diga isso, você não sabe como o futuro vai ser! E além disso, ele fica todo preocupadinho quando você aparece triste na sala de aula.

-Todos os bons pedagogos são assim, demonstram preocupação com os alunos e...

-Meninas! Vão ficar de papo o dia inteiro? Chegaram dois fregueses.-A nossa supervisora nos chama a atenção.

-Bora, Hellen.-Pego um pequeno caderno e uma caneta no balcão e vou atender um dos clientes, fico com o sorriso na orelha ao ver quem era.-Professor! Como vai?

-Só Michael, querida. Fora do curso não precisa usar esses formalismos.-Ele retribui o sorriso.-E eu estou muito bem, obrigado. E você? Não sabia que trabalhava aqui.

-Estou bem. O que vai querer?-Pergunto rapidamente para não me alongar, pois a super não gostava quando nós ficávamos enrolando com o freguês.

-Eu vou querer uma lasanha com recheio vegetariano e um suco de laranja.

-Ok...-Eu anoto os pedidos, minhas mãos estão trêmulas.-Algo mais?

-Que horas você larga daqui?-Me pergunta baixinho.

-Bem em cima do horário de ir para o curso, às 18:00.-Finjo estar anotando pedidos, para não ser percebida.

-Eu posso te dar uma carona se quiser.

-Fala sério?

-Claro.

-Por mim tudo bem.-Respondo empolgada.

-Ótimo. Então é só isso que vou querer.

-Ok, já anotei tudo. Logo seu prato estará pronto. Até daqui a pouco, Michael.

-Até, Debbie.

-Lasanha vegetariana e suco de laranja!-Grito para os cozinheiros e faço a entrega de outros pedidos.

Eu não parava um minuto naquele trabalho, sempre que finalizava um freguês, chegava outro. Mas eu nunca reclamei, só agradeci por ter o emprego, pois eu nem imagino como seria minha vida naquela casa, desempregada e com o Enrique jogando na cara que era ele quem colocava comida na minha boca. Espero que isso nunca aconteça!

(...)

-O professor Michael vai te dar uma carona??Uaaaau!-Hellen grita e eu tampo a boca dela.

-Fala baixo, disgraça! Sim, ele vai me levar pra dar uma volta...eu tô tão nervosa.

-Pega um preservativo na minha bolsa, vai que rola uma rapidinha.-Ela ri e me provoca.

-Eu não sou dada como você.-Solto meus cabelos e dou uma leve penteada.-Será que ele gosta de mim?

-Não é todo dia que um cliente pergunta que horas você sai do serviço. No meu caso, só escuto alguns tarados me chamarem de gostosa. Vamos embora logo ou tá difícil?

-Vamos, senhorita impaciente.-Passamos pelo restaurante e nos despedimos das outras funcionárias.-Desculpa por deixar você ir andando sozinha, amiga.

-Não tem problema, eu vou tomar um banho rápido, consigo chegar dentro da tolerância. Boa sorte, Debbie!-Ela dá um beijo em meu rosto e me abraça forte.-Até daqui a pouco, me conta os detalhes depois.

-Pode deixar, até mais tarde.-Hellen vai embora e eu ando até o carro que estava com os faróis piscando, e que carro! Michael destrava a porta do banco do passageiro para que eu entre.-Oi...-Digo meio nervosa.

-Olá, pode ficar à vontade.-Michael me dá um beijo no rosto, o que fez eu me estremecer toda.-Podemos ir?

Além de Um ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora