Capítulo 9 💜🌹

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Débora Escobar

O meu choro era um sufocado pedido de socorro. Não aguentava mais guardar pra mim tudo que eu passava dentro de casa, e o pior: sofrer tudo isso calada. Quando o professor me perguntou o que eu tinha, não falei nada, apenas abaixei minha cabeça e desabei.

-Debbie, o que foi?-Michael vem até minha carteira e acaricia meu braço.

-Não estou me sentindo bem...-Respondo com a voz embargada.

-Por causa do trabalho?-Respondi negativamente com a cabeça.-Quer ir lá fora um pouco? Eu vou com você.

-Sim...-Levanto da cadeira e vou até o corredor que dava acesso às outras salas. Michael pega sua caneca que estava em cima da mesa e uma cadeira vazia para eu me sentar do lado de fora.

-Danny, vai sorteando os grupos enquanto isso?-Ouço Michael falar.

-É pra já.

(...)

-Respira...vai ficar tudo bem.-Michael me ajuda com a respiração enquanto me fazia beber água, sentia ele acariciar minhas costas, e isso me ajudava a relaxar.-O que aconteceu? Algum gatilho?

-Sim...-Respondo tomando outro gole de água.-Esse mês é Dia dos Pais, certo? E você acha que eu comemoro essa data? Eu enterrei Dia dos Pais, enterrei Natal, enterrei Ano Novo. Eu enterrei o dia 12 de novembro de 2001, foi quando vi meu pai soltar a minha mão e cair na estrada com 5 tiros no peito...-Minha voz é cortada pelo inevitável choro.

-Sinto muito, Debbie. De verdade. Mas e o seu padrasto?

-Não nos damos bem.-Solto a verdade, mas não entro em detalhes sobre as agressões.-A gente briga por qualquer motivo. Não ache estranho se toda vez que nós sairmos você ir me buscar na casa da Hellen. Eu fico na casa dela porque eu não aguento a presença do Enrique na minha casa! E quando ela ou o Bruce não podem me receber eu durmo na rua, é mais tranquilo do que lá em casa.

-E se eu te disser que já te vi pelas ruas antes mesmo de você entrar para o curso? Ia te perguntar o motivo, mas achei melhor não. Você pode achar que eu sou um intrometido. Mas de qualquer forma, se precisar de um lugar pra ficar e eles não estiverem disponíveis, pode ficar na minha casa. Não é legal uma jovem linda como você passando a noite no relento, você pode ser pega por algum vagabundo na rua. E a sua mãe não diz nada sobre isso?

-Minha mãe nunca está do meu lado.-Respiro fundo.-Primeiro, se ela fosse uma mãe com a cabeça no lugar não se mudaria para outro país com um namorado que ela mal conhece, prejudicando a minha vida e a vida do meu irmão. A adaptação dos adolescentes em uma cidade ou país novo é sempre mais problemática! Segundo, ela já era rigorosa comigo, desde quando meu pai era vivo.-Desabafo.

-Digamos que o meu pai também não foi muito paternal...-Michael ri mas sinto tristeza em sua voz.-Quando era criança eu e meus irmãos chegamos a formar um grupo musical. Meu pai assistia os ensaios com o cinto na mão. Se eu errase algum passo das coreografias, já sabia que ia apanhar. Até em casa era assim, às vezes eu ouvia minha mãe gritar: "Joe, pare! Você vai matá-lo!"Mas não adiantava nada.

-Meu pai também chamava a atenção da minha mãe, ele dizia "Marta! Você é muito radical, ela é só uma criança!" Qualquer arte que eu fazia ela já me castigava ou me dava sermão por horas, isso quando eu tinha menos de 7 anos. Ela tem uma raiva de mim que eu não sei explicar.-Eu seco minhas lágrimas.-Não vejo a hora do Murilo ficar de maior pra gente ir embora desse país!

-Oh...-Michael ficou triste com minha última frase.-Sentirei saudades se isso acontecer. Eu te conheco a poucas semanas mas já te considero como uma amiga...

Além de Um ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora