26. Não vou fugir

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Nihara Vitti

Saio da sala com a sensação de ter dado uma resposta contundente para as insinuações preconceituosas que enfrentei. A atmosfera silenciosa que se seguiu deixou claro que as minhas palavras atingiram o coração daqueles que carregam preconceitos. Respiro fundo, buscando tranquilidade.

    Lá fora, peço à minha irmã que me deixe sozinha. Ela assente, e fica parada, observando-me enquanto sigo em direção ao jardim iluminado do outro lado. O meu coração bate descompassado, e a minha mente está um turbilhão, relembrando cada pergunta e cada fala insinuadora que ouvi naquele salão.

    Olho para trás, verificando se Leandra continua lá, mas, em vez dela, vejo Tobias aproximando-se lentamente na minha direção, o seu olhar transparecendo preocupação. Volto a minha atenção para a bela paisagem à minha frente, abraçando o meu corpo para amenizar o frio que sinto. Tento convencer-me de não deixar que essa situação afete a minha decisão de dar uma oportunidade para nós dois.

    Sinto o calor do corpo dele se aproximar do meu, e ele retira o paletó, cobrindo-me e abraçando-me por trás. Ficamos assim por alguns segundos, envoltos num silêncio carregado de emoção, as nossas respirações aceleradas revelando a intensidade do momento. Até que, de repente digo:

    — Não se preocupe, Bernstorf. Eu estou bem. Apenas precisei de um momento sozinha para processar o que aconteceu lá dentro — Sinto-o balançar a cabeça assentindo, antes de dizer:

    — Estou muito feliz por teres vindo — as suas palavras ecoam na minha mente, causando uma onda de emoções intensas. Fecho os olhos, deixando-me envolver por aquela proximidade única entre nós. Inspiro profundamente, e viro-me para encará-lo.

   — Mas parece que não deveria ter vindo — falo com tristeza na voz, o nó na garganta denunciando o incomodo que sinto

    — Peço desculpas em nome deles — pede, guiando-me em direcção ao labirinto ladeado pelo imenso jardim. — É uma novidade para eles me verem com uma…

    — Mulher preta? — questiono, deixando a minha voz assumir um tom ríspido, parando na sua frente, o seu rosto se endurecendo numa expressão desgostosa.

    — Por favor, Nihara, não é nada disso. Eu diria uma mulher que não faz parte do círculo social que eles aprovam. Mas isso não importa, amo você, e não preciso da aprovação deles. Com o tempo, eles vão aprender a aceitar o nosso relacionamento.

  A convicção e firmeza na voz de Tobias proporcionam-me uma segurança que é difícil de explicar. Sinto que ele é diferente, que jamais faria algo para me machucar. Quando olho para ele, tudo o que consigo enxergar é um homem determinado e apaixonado.

O meu coração e corpo reagem positivamente, sabendo que sou a mulher que ele quer e deseja. Confesso que sinto o mesmo, um frio na barriga sempre que o vejo e o meu coração parece descontrolado toda vez que ouço a sua voz. Eu amo esse homem, de uma maneira assustadoramente intensa.

    No entanto, apesar de sentir todo esse amor transbordar em mim, não sou capaz exteriorizar os meus sentimentos de forma clara e direta, retribuindo aquela pequena frase que ele disse: "amo você". Em vez disso, o que faço é abraçá-lo, o mais forte que posso, tentando fazê-lo perceber que, sim, eu quero-o e sinto o mesmo.

    Continuamos a caminhar pelo labirinto até chegarmos a um pequeno espaço, onde se encontra um gazebo aberto, coberto com plantas trepadeiras. Dentro, há um pequeno sofá de dois lugares e uma cadeira de balanço suspensa no ar. Sigo entusiasmada até a cadeira e me sento com um largo sorriso adornando o meu rosto.

    — Nossa, isso faz-me lembrar do meu quarto em Angola, onde também tinha um lugar de refúgio quando precisava reorganizar os meus pensamentos.

NÃO POSSO TE AMAR [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora