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Sexta-feira, às oito e trinta e sete da manhã, este foi o horário e o dia em que eu entrei em minha casa, e senti um cheiro de carniça

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Sexta-feira, às oito e trinta e sete da manhã, este foi o horário e o dia em que eu entrei em minha casa, e senti um cheiro de carniça.

Flashback

Eu e Lalisa estávamos dentro do carro dela, a caminho da minha casa. Nos últimos dois dias, nos aproximamos bastante, isso fez com que eu percebesse que ela não é tão má, afinal.

O carro era dominado por uma música do The Weekend. Eu e Lisa cantávamos "Call Out My Name" em voz alta, apenas aproveitando a vibe boa que aquela música traz. Sua voz reinou no veículo, misturando-se com a minha, deixando-nos arrepiadas com a harmonia perfeita que criamos naquele carro.

Nossas vozes combinam. Nós combinamos. Não quero dizer no sentido romântico, mas sim no sentido amigável. Eu só consegui ser eu mesma com a Jisoo, a Rosé e ela. Isso é tão incrível.

No final, Lisa só aparenta ser brava, fria e ignorante, porque quando não tem pessoas ao redor, ela vira outra pessoa. Acho que não me lembro de algum momento em que ela pedisse para eu me afastar dela. Ela sempre queria ficar colada em mim, dizia que eu sou o abraço confortante dela.

— Chegamos. Quer que eu te acompanhe?

— Por quê? Você quer me acompanhar? — perguntei com as sobrancelhas arqueadas enquanto tinha um sorriso malicioso nos lábios.

— Se eu quiser, eu posso? — ela virou sua cabeça para mim e encarou meus lábios, abrindo um pequeno sorriso de canto.

— Pode. Claro que pode. Mas vai ter que ir embora daqui a — olhei o meu celular para ver a hora —  trinta minutos.

— Por quê?

— Meu pai vai chegar daqui a pouco, e ele odeia quando eu recebo visitas, sabe. Ele é bem... introvertido — suspirei enquanto deixava a última palavra ecoar no ar.

— Ok, milady.

— Para de me chamar assim. Eu me sinto uma princesa — fiz beicinho, demonstrando estar triste, pois eu não sou uma princesa.

— Mas você é uma princesa. Hmm — ela demonstrou estar pensativa antes de abrir a porta e sair do carro. De repente, ela apareceu do lado do passageiro e abriu a porta, estendendo a mão para mim. Saí do carro, logo vendo a garota se curvar e beijar as costas da minha mão. Sorri com o seu ato. — Seja bem-vinda de volta à sua casa, princesa Kim.

— Obrigada, plebeia — entrei na brincadeira e respondi a garota, com a minha voz fria e baixa.

— Plebeia? — assenti enquanto tinha seus olhos nos meus. — Eu ia falar uma coisa, mas você vai me achar muito abusada. É melhor eu ficar quieta.

— É melhor mesmo — disse enquanto ria e caminhava até a porta da minha casa, procurando a chave na minha bolsa. — Você pegou o Kuma? — perguntei enquanto me virava para trás e via Lisa tentando não ser mordida pelo o meu cachorro. Ambos pararam de brigar e me olharam, o que me fez rir da cena.

— Tá tudo certo. Seu cachorro é meio bravo pro tamanho dele, sabia? — o Kuma rosnou para Lisa, o que me fez rir mais após ver a cara surpresa dela. — Você me entendeu, peste?

— Não chama ele assim, senão ele vai te morder — avisei enquanto abria a porta.

Assim que adentrei, senti um cheiro forte de carniça, parecendo que alguém tinha morrido. Levei minha mão para o meu nariz e recebi o olhar curioso da Lisa. Kuma ficou agitado assim que entrou dentro de casa.

Lalisa colocou ele no chão, e o cachorro rapidamente correu para a sala-de-estar, começando a latir sem parar assim que chegou no local. Eu e Lisa nos entreolhamos e fomos até onde o cachorro estava. Ela foi em minha frente com o braço esticado para trás, relando em meu quadril, tentando indicar que ela iria me proteger caso tivesse algum ladrão ali.

Logo após chegar na sala, o cheiro ruim ficou ainda mais forte, e eu me deparei com o meu pai largado no sofá, cheio de sangue. Meus olhos lacrimejaram ao ver que seu órgão genital estava arrancado e jogado em qualquer lado da sala. Sua língua e seus olhos não estavam diferentes. Ao tentar me aproximar do corpo, pisei em algo gosmento, quando olhei no chão, era um de seus olhos. Uma ânsia de vomito me atingiu com força, e a única coisa que eu me lembrei, foi de ter caído nos braços de Lisa.

Flashback

— Nini, está melhor? — perguntou Jisoo enquanto me entregava um copo de chocolate quente.

Eu estava sentada na cama da minha amiga, com um moletom grande que eu tinha, usando a toca dele para aquecer as minhas orelhas, de alguma forma. Os cobertores da Hello Kitty que Jisoo tinha, cobria o meu corpo do quadril para baixo, já que eu estava com as minhas pernas levantadas.

Tomei um gole de chocolate quente enquanto olhava para um ponto fixo, recordando de tudo o que eu tinha visto.

— A minha mãe disse que você pode ficar aqui até a sua mãe voltar, ok? — não fiz e nem falei nada, portanto, recebi um abraço da minha amiga, me confortando ao máximo. — Estamos aqui pra você, ok?

— Jennie, eu já liguei pra sua mãe e avisei a ela sobre o que aconteceu. Ela voltará daqui a cinco dias — Rosé disse assim que entrou no quarto de sua namorada, se sentando na quina da cama, e começando a acariciar o meu joelho coberto pelo o cobertor quente da Jisoo.

— Cinco dias? — perguntou Jisoo, indignada e Rosé assentiu. — Inacreditável.

— Ela disse que ainda não terminou as coisas do trabalho dela, por isso não pode vir antes.

— Eu ainda não acredito. Que tipo de mãe é essa?

— Meninas... — ambas me olharam —, eu posso ficar sozinha?

— Claro, amiga. Se precisar de algo, não pense duas vezes antes de nos chamar, ok?

— Pode deixar, Rosie.

Eu estava completamente perdida em meus pensamentos sombrios. Cada lembrança do meu pai era como uma ferida fresca, sangrando emoções cruas. Eu me pegava olhando para o vazio, me afundando em um abismo de tristeza.

Eu sei que meu pai fez muitas coisas comigo, mas ele é o meu pai. Ele não me abandonou por causa do trabalho. Agora eu estou sozinha, sem ninguém.

Por um lado, me sinto feliz em saber que não terei que me preocupar com o meu pai, e poderei dormir sem medo de ele invadir meu quarto e me estuprar enquanto eu estiver inconciente. Mas... pelo o outro, eu me sinto uma total fodida que está se afundando cada vez mais nas sombras de alguém que só quer o meu pior.

O demônio...

Obsession • Jenlisa G!POnde histórias criam vida. Descubra agora