capítulo 35

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Nat

Quando acordei, estava sozinha numa sala familiar.

Eu quis gritar, desmaiar ou vomitar. Mas não fiz nada disso, apenas tentei me mexer, mas percebi que estava presa em uma cadeira. Não conseguia ver minhas mãos, mas pareciam estar presas por algemas.

— De volta ao lar, Romanoff?

Os pelos da minha nuca se arrepiaram ao ouvir a voz áspera e sombria de Dreykov.

A sala em questão era o meu dormitório da Sala Vermelha. Eu estava algemada na minha cama, ou antiga cama. Pela aparência limpa e intocável do quarto, havia sido conservado desde que eu tinha saído. Poderia significar que outra garota estava dormindo lá, ou que eles estavam guardando exatamente para aquele momento.

— Dreykov – foi tudo o que consegui dizer.

— Natasha, Natasha... Uma das minhas melhores alunas, senão a melhor. Soube que tocou o terror nessa... escolinha de amadores. Exatamente como eu te ensinei, estou certo?

— Não. Eu não destruí a vida de ninguém. As pessoas só tinham... medo de mim.

— Ah, então nem isso você tem mais? Elas tinham medo?

— Bem, suponho que não dê pra ter medo de uma viúva negra quando ela está sob os cuidados de seu querido criador tarado de 40 anos.

Ele sorriu e se aproximou. Tentei me afastar, mas só consegui espremer minha espinha contra a cabeceira da cama.

— Você sabe o que eu disse quando te vi pela primeira vez? Quando seu pai, o Alexei, te trouxe de volta quando tinha 11 anos?

— Não me fale de suas fantasias pervertidas com garotinhas, Dreykov. Por que você não está me controlando com a mente? Eu já devia estar no treinamento com as garotas à essa altura.

— Calma, calma. Não precisa se apressar, Natasha. Logo você terá seu treinamento, mas eu preciso te dar um leve lembrete do porquê não pode fugir de mim.

Ele se afastou e outra pessoa entrou no quarto: Ivan.

Pra esse, eu mal tive reação. Só fiquei com ódio, muito ódio. Eu me lembrava com perfeição da vez que esse filho da puta me fez matar um alce. Der'mo...

— Romanoff! Como estávamos com saudade de você.

— Vá direto ao ponto, Ivan.

Ivan sorriu e se aproximou, me fazendo sentir seu cheiro de suor e sangue, o que quase me fez vomitar. Mas mantive a expressão serena de sempre.

— Isso é o que ganha por tentar fugir de nós, como uma rebelde mal agradecida.

Mas antes dele fazer seja lá o que ia fazer, o relógio de Dreykov apitou e ele disse em russo:

— O cara precisa de nós. Prepare ela e vamos logo.

"O cara" parecia ser Fury. Dreykov nunca iria desperdiçar a chance de punir uma aluna, a não ser por motivos específicos e importantes. Como atender um convidado que traz de volta uma de suas alunas e, de brinde, mais 8 jovens "russos" com moletons cinzas e, aparentemente, sem poderes.

É por isso que ele queria que eles me superassem. Eles tinham que parecer saber lutar de verdade, sem poder nenhum. Tinham que parecer lutar como garotos russos treinados.

Mas por que ele não contara nada? Porque eles tinham que parecer muito novos nisso, muito mesmo. A Rússia é famosa por tráfico humano, mas não há outras Salas Vermelhas. Eles não são tão bons quanto nós, só precisam ser parecidos.

Ivan me libertou da cama, mas algemou minhas mãos para frente e me fez seguir Dreykov enquanto me empurrava até onde ele estava indo.

Fomos até um enorme salão de treinamento. Nick estava logo na entrada com os Vingadores atrás.

Tentei lançar um olhar de "Não se preocupe" para Wanda, mas ela parecia entender o que estava acontecendo. Tinha um olhar vazio para frente, como todos os outros.

Ivan me empurrou para ficar ao lado de Wanda enquanto conversava com Fury, que estava com uma máscara digital de disfarce. Agora ele era um homem branco e grisalho com algumas cicatrizes no rosto. Um típico homem russo.

— Tá legal, garotos e garotas – disse Dreykov, em russo, enquanto Ivan e Fury ainda conversavam –, vocês serão levados para a sala de chek-in. Agora levantam-se e me sigam.

Eu me levantei primeiro e, felizmente, os outros fizeram o mesmo logo depois.

Dreykov nos levou até um corredor mal iluminado com portas brancas.

— Esperem aqui – disse em russo e entrou em uma das portas, nos deixando sozinhos.

— Falem baixo – eu disse quase sussurrando e alguns tiveram que se inclinar para ouvir. – Você terão que agir como assassinos russos. Os meninos precisam ser duros e frios, as garotas precisam ser... bem, igual a mim. Entenderam?

Todos assentiram. Senti que Wanda queria falar algo, mas estava guardando para mais tarde. Fiquei orgulhosa dela por isso, mas não pude deixar de sentir a mesma tentação e tentei me conter.

— Por que Fury não disse nada? – perguntou Tony.

— Ele queria que demonstrássemos surpresa de verdade – disse Wanda e eu sorri, assentindo. – Na hora que fomos apresentados, Dreykov deve ter reparado que...

Mas Dreykov saiu da sala onde entrara naquele momento, nos impedindo de continuar conversando. Ele falou, ainda em russo:

— Primeiro o garoto de cabelo comprido. 

Por sorte, Thor estava ao meu lado. Então cutuquei fortemente suas costelas e ele seguiu Dreykov até a sala. Depois de alguns minutos em silêncio, Tony disse, apreensivo:

— Isso é muito ruim – disse Tony, desajeitando a postura para olhar para todos. – Ele não vai levar muito tempo pra descobrir que não falamos russo. Como Fury não previu isso?

Eu tinha uma teoria, então eu disse:

— заткнись, всезнайка

— Cala a boca você, Natasha!

— Foi o que eu pensei – eu disse em inglês. – Não sei o que Fury botou a mais na solução do sono, mas  agora vocês sabem falar russo. Eu acabei de falar em russo e você respondeu em russo, Tony!

Todos olharam pra mim, surpresos. Mas ninguém teve muito tempo para falar mais alguma coisa, porque Dreykov abriu a porta, "devolveu" Thor e olhou para Wanda e disse, também em russo:

— Agora a morena.

Controlei meu impulso de gritar "Não" e ela foi pra sala.  



a espiã e a vingadora- wantasha Onde histórias criam vida. Descubra agora