capítulo 29

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Nat

O avião era suficiente, apenas, para a cabine do piloto, um banheiro, uma cozinha e um corredor para os passageiros. Como a cozinha estava ocupada com alguns chefes que preparavam o almoço e janta da viagem e a cabine de piloto com, obviamente, o piloto, eu e ele tivemos que conversar no banheiro. Era bem grande, parecia um banheiro normal. Mas não era muito confortável sentar na privada (de tampa abaixada, obviamente) e ouvir Fury falar coisas sobre a Sala Vermelha.

— Olha, Natasha, vou ser bem sincero com você. É perceptível que você não está bem com a situação.

— Quê?

Não pude evitar de ficar surpresa, mas logo tentei disfarçar com uma expressão de indiferença, como se eu estivesse debochando de sua afirmação. Mas ele percebeu e disse:

— Dá pra ver em seu rosto em todas as horas em que discutimos sobre Ivan, Dreykov e a Sala Vermelha. Cansaço, medo. Eu não consigo imaginar o que é passar pelo o que você passou, mas é óbvio o tanto de esforço que você precisa fazer pra reviver tudo, o lugar, as pessoas... e ainda assim conseguir se concentrar e fazer um bom trabalho.

— Eu consigo!

— Óbvio que consegue. E está de parabéns. Sabe, eu preparei os outros Vingadores pra superarem você, porque eu sei que nenhum deles consegue passar pelo o que você passou sem se distrair, nem que fosse apenas um pouquinho.

Outros Vingadores?

— Pois é, é o que eu queria te falar: você é a mais nova Vingadora da IFA. Parabéns.

— Ãhn... Eu tenho opção?

Ele deu um sorriso.

— Tem, sim. Mas pense bem: fazendo parte de uma agência de super heróis, você consegue combater bem mais crimes do que sendo heroína independente.

Eu pensei um pouco, até que não era uma má ideia.

Além disso, eles eram pessoas legais. Muito legais, mesmo. Engraçados, amigáveis, gentis... Tudo o que eu pensei que não fossem. Tirando Yelena, eles poderiam ser a única família que eu poderia ter em toda a minha vida. Ou eles eram apenas amigos? Eu não sabia dizer. Mas algo estava me impedindo, algo em mim dizia que não era uma boa ideia.

— Tudo bem, eu aceito.

Ele sorriu mais ainda, mas logo ficou sério, ajeitou sua postura e disse, fazendo aquele pensamento de hesitação se intensificar mais ainda. 

— Mas antes de irmos, tem mais uma coisa que eu preciso te dizer. Não quero que descubra sozinha, e não quero que eles precisem te contar. Só quero que saiba que a culpa é minha, não fique irritada com nenhum deles.

"Você se perguntou o motivo de eu ter juntado você e Maximoff para uma missão, estou certo?" fiz que sim com a cabeça, surpresa que ele soubesse tão bem como ler meus pensamentos. "Bem, o motivo é que eu sempre soube que Wanda gosta de você."

Eu dei risada.

— Então você quis juntar a gente? Que clichê, Nick.

— Não, não é isso. – Eu fiquei séria de novo, porque ele não tinha rido. – Eu tinha certeza que ela iria saber, ou descobrir, como te fazer se sentir segura. Eu precisava de alguém cuidando de você.

— Cuidando de mim? – Uma raiva repentina tomou conta de mim. – Eu não sou criança, Fury! Eu sei me cuidar sozinha.

— Ah, é? A Wanda não te ajudou em nada? Estou errado, hm?

Pensando bem...

Ele deu um sorriso gentil quando eu corei, mas eu continuei encarando-o ferozmente.

— Natasha, você é muito forte. É talentosa, corajosa e inteligente. Mas ninguém aguenta viver sozinho, nem mesmo você.

— Você está me dizendo... que Wanda se aproximou de mim porque você mandou?

— Não. Ela teve coragem de fazer isso porque eu mandei.

Eu quase dei risada, mas estava com raiva demais pra isso.

— Espera, o Barton... Você também falou com ele pra se aproximar de mim?

— O quê? Não. Eu só falei com Wanda, porque sabia que ela também precisava de você.

Mas aí, eu me dei conta de uma coisa.

— Espera aí, isso tudo aconteceu e agora você me convidou pra entrar nos Vingadores. Fez Wanda se aproximar de mim pra tomar o controle de mim? Pra eu entrar nos Vingadores, só por isso?

— Não, você está sendo paranóica. Foi puramente pra te ajudar nesses momentos difíceis. Eu não sabia que a missão era sobre a Sala Vermelha, mas suspeitava. Sabe, russos. Sem ofensas.

— Não ofendeu – eu disse, entre dentes, ainda muito irritada com o que acabara de ouvir.

Wanda obviamente gostava de mim, isso não dava pra negar. Nem a pessoa mais insegura do mundo olharia pra cara dela e pensaria "Deve ser outra pessoa". E eu também gostava dela, gostava mesmo... Mas eu não sei, a revelação fazia parecer que tudo fora falso, apenas uma missão.

— Natasha, não fique irritada com Wanda. Fique irritada comigo, se quiser. Me odeie pro resto da vida. Mas a Wanda te ama muito, ela já te disse isso?

— Nick, nosso primeiro beijo foi há quase uma semana.

— Eu ouvi falar que no terceiro dia as lésbicas já estão casadas.

— Nós estamos namorando, mas... Por que estou contando isso pra você?

Eu me levantei e tentei sair, mas ele bloqueou a porta e me fez voltar.

— Escuta bem e diga que entendeu: a Wanda te ama, o que eu a mandei fazer foi apenas pra ajudar vocês duas. Eu sei que ela a ama, Natasha, desde o dia em que vocês se conheceram. O jeito que ela te olha, o jeito como ela se distrai às vezes durante uma reunião e eu sei que é por sua causa. Eu conheço essa garota há anos, muito mais tempo que você. E eu sei que ela te ama, então não ouse culpa-la pelo meu erro.

Eu não estava irritada com ela, mas mesmo assim me senti um pouco culpada.

— Não foi um erro, Nick – eu digo, cansada. – Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Só, pelo amor de deus, não fale que eu preciso de proteção na frente de ninguém. Eu não sou criança, entendeu?

Ele assentiu e riu e saímos do banheiro. 

a espiã e a vingadora- wantasha Onde histórias criam vida. Descubra agora