Capítulo Sete

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Amanda Linhares

Minha mente estava barulhenta como a sala de aula no primeiro dia atuando como professora. Tentava corrigir algumas atividades em sala, mas não conseguia, era como se eu tivesse desaprendido o que eu havia estudado por anos.

— Posso entrar? — bateu na porta com a falange do dedo médio.

— Lucas. — sorri fraco ao vê-lo, visivelmente desanimada — Pode, fica à vontade.

Havia um mês que o Diogo havia nos deixado, eu e o Hulk, pra ir pro seu Curso de Formação. Após a chegada dele em Brasília, não havia um dia que ele não me mandasse mensagem, mas não era a mesma coisa, estava tudo mudado e não era de hoje. Eu sentia que ele mandava mensagem por obrigação, por pura obrigação, e não por querer. Eram sempre mensagens básicas como "Bom dia. Você tá bem?", eu respondia e dizia que sim, estava bem, apesar de ser claramente e obviamente mentira, então eu perguntava de volta e ele respondia um "Estou bem também." e a conversa ficava pro dia seguinte. Dificilmente ele estendia pra algo como "Estou com saudades." ou coisa parecida, deixando subentendido que saudade era a última coisa que ele estava sentindo de mim.
É claro que eu não estava bem, como eu poderia estar? Uma relação incrível e duradoura estava indo pro ralo enquanto ambos vivíamos vidas diferentes. Apesar de estarmos juntos no documental, depois que eu disse que queria o divórcio era como se estivéssemos divorciados de fato.
Ninguém do meu trabalho sabia a fundo o que estava acontecendo, mas era visível que algo ia mal na minha vida pessoal. Era tão perceptível que meus alunos juntaram dinheiro pra me presentear com uma unidade de girassol. Não nego que achei perfeito, eles se importavam comigo, mas nem a minha flor favorita foi capaz de me tirar do fundo do poço.

— Seguinte, como hoje é sexta, a galera tá marcando de ir lá no Terra Brasilis beber alguma coisa. Cê topa?

— Ai, Lucas. — suspirei — Se você tivesse avisado antes, eu...

— Eu avisei. Ontem, mais precisamente. — me interrompeu — Você não responde no WhatsApp. — riu.

— Desculpa. — ri — Mas sério, sendo sincera, não quero sair. Obrigada pelo convite. — fui gentil.

— Olha, Amanda, sei que a gente não é amigo íntimo, a gente tem o quê? Quase sete meses de intimidade? Por aí. Mas você nunca sai e de um tempo pra cá... Eu sei que tá acontecendo alguma coisa que tá te deixando mal, vamo distrair um pouco essa cabeça.

— Lucas, eu te adoro, mas você não entende, eu realmente não quero ir.

— Tá a fim de bater um papo? A escola tá vazia, daqui a pouco vai dar dezoito horas... Aproveita! Desabafa aí.

— Não quero, só quero... — minha garganta doeu — Tô passando por um momento difícil, quando eu me sentir melhor, eu juro que saio com vocês.

— Então tá bom. — se levantou da carteira, indo em direção à porta mas parando após cinco passos — Quer saber? — se virou — Acho que não vou beber com eles. Tá a fim de comer alguma coisa? Rolê light, sem bebidas alcoólicas e pessoas perguntando o motivo de você estar jururu desse jeito. Já que só eu sei que você tá mal, a gente podia sair, né? — foi simpático — Vai falar não pra sua dupla favorita?

Ri do seu humor e tato para me convidar pra sair e após suspirar, guardei os meus materiais na minha pasta e coloquei-a embaixo do meu braço, levantando e indo em sua direção.

— Tá bom. — sorri.

— Isso! — comemorou de forma caricata, me fazendo rir.

— Ensinou o que hoje? — puxei assunto, começando a andar pelo corredor enquanto ele me acompanhava.

ElãOnde histórias criam vida. Descubra agora