Capítulo Quatro

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Amanda Linhares

A agitação do Diogo andando pra lá e pra cá dentro do apartamento me incomodou. Primeiro a gente tem uma pequena discussão e depois ele age como se nada tivesse acontecido? De duas, uma. Ou ele estava preparando algo pra me pedir perdão, ou estava planejando algo pra benefício próprio. Não era difícil ler ele. Quando terminei de corrigir as atividades, ele reapareceu no apartamento irradiante, ofegante e perdido, andando de um lado pro outro. Ele olhava a casa meio confuso, parecia procurar algo. Esperei ele ir ao quarto pra ir até a porta e a trancar. Tirei a chave da mesma e quando ele voltou, foi na maçaneta com tudo e a girou.

— Ué? — forçou a porta.

— Que que tá acontecendo? Me conta. — disse o olhando séria — A porta tá trancada, mas se você falar o que tá acontecendo — mostrei a chave —, você sai e fica quanto tempo quiser fora.

— Desculpa. — riu — Tô tão animado que... — respirou alegre, revigorado — Amanda. — disse ofegante — Preciso te contar uma coisa ótima que eu acabei de ficar sabendo.

— Percebi. Conta. — disse virando a cadeira que eu estava em sua direção, mas a minha feição estava extremamente séria.

— Lembra que eu comentei com você sobre a prova da PRF?

— Não. — fui sincera — Você comenta sobre muitas coisas ligadas à polícia, ao mesmo tempo. Eu não consigo guardar todas as informações.

— Tá bom, não tem problema. — disse otimista — Você lembra da minha troca de Posto que eu fui a Capitão? Eu brinquei com você, disse que não queria ser chamado de Capitão e sim de Delegado. Enfim, eu me inscrevi pra PF e pra PRF e...

— Como assim? — franzi o cenho, o interrompendo — Quando que cê vai fazer essas provas?

Obviamente fiquei irritada com aquela mentira descabida. Uma coisa tão pequena precisava ser escondida a sete chaves dessa forma?
Minha feição mudou completamente. Fiquei visivelmente nublada.

— Eu já fiz as provas, na verdade, tem dois meses. Mas não importa, Amanda, o que import...

— Não importa? — perguntei rindo, incrédula — Você literalmente conseguiu esconder uma coisa gigantesca de mim. Uma prova que deve ter demorado o quê? Cinco horas? E eu não desconfiei!

— Amanda, para. Não quero brigar, não tem clima pra briga, só me escuta, é muito importante! — disse animado — O resultado da PF saiu hoje. Eu passei. — disse tentando conter a felicidade — Vou virar Delegado de Polícia Federal!

Não tive reação, apenas fiquei o olhando com uma feição de surpresa. Surpresa ruim. Má notícia. Nunca escondíamos nada um do outro, pra ele ter escondido aquilo, alguma coisa tinha, eu sabia, eu sentia. Eu amava meu marido, mas uma coisa que o Diogo era, era maquiavélico. Não de uma forma ruim, óbvio, mas tudo o que ele fazia era de uma forma estratégica. Não sei se o militarismo havia o deixado assim, mas ele era assim e era inegável. Ele parecia um robô, calculava cada mínimo detalhe dos seus planos. Antes de pô-los em prática, ele já havia estudado cada plano anos antes. Ele era assim.

— Delegado?! — foi a única coisa que saiu de mim.

— Você não ficou feliz? — perguntou ao perceber a minha feição.

— Fiquei, mas... — ri, não era de felicidade e sim de descrença — Me conta mais sobre, como vai funcionar isso? Vai fazer o Curso de Formação aonde? Aqui?

— Em Brasília. Na Academia Nacional da Polícia.

— E vai ficar quanto tempo lá?

— Cinco meses, depois eu me formo e aí eu escolho o estado que eu quero atuar. Não é incrível? — disse sorrindo.

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