Amanda Linhares
Mesmo aparentemente estando tranquila, tinha algo matutando na minha cabeça. Por que uma mulher estava sentindo liberdade pra ligar pro Diogo? Ao mesmo tempo que eu entendia que aquele conforto dela dizia mais sobre a amizade deles do que qualquer outra coisa, ainda sim sentia minha intuição gritando, tentando me alertar. Eu sabia, no fundo eu sabia, que ela estava interessada nele. E se ela estava interessada, ele estava dando margem pro interesse.
O que atiçou a vontade dela? Será que lá em Brasília ele não estava usando a aliança dele? Será que ele não falava que era casado? Será que ele sequer falava da minha existência? Alguma coisa era, eu sentia, nenhuma mulher se aproximava à toa, sem uma fagulha de esperança de algo dar certo. Eu iria descobrir e eu sabia como: Indo ao terreiro que a Rebeca havia me apresentado.— Ela odeia que façam isso. — disse indo até o Diogo, vendo ele apertando a campainha insistentemente.
— Eu sei. — disse, continuando, enquanto ria.
— Então para. — dei um tapa em sua mão, rindo.
— Quem é?! — sua voz ecoou irritada, enquanto escutávamos os passos altos dela.
Ficamos rindo em silêncio, esperando ela abrir o portão, ansiosos, e quando ela abriu... Seu rosto não escondeu. Era surpresa misturada com dúvida e chateação. Me surpreendi, não sabia que ela nos olharia com essa feição e precisei fazer uma mímica bem disfarçadamente, pedindo pra que ela sorrisse e fingisse que estava tudo bem.
— Diogo? — sorriu amarelo — Que surpresa boa... Veio pro Rio? Você não estava fora?
— É, hoje é dia de folga. — respondeu, aparentemente sem perceber o que tinha acontecido — Quis ver a senhora antes de voltar pra Brasília. Hoje eu tirei o dia pra família. Daqui eu vou pro meus pais também.
— Que bom! — assentiu — E você nem me disse nada, né, Amanda? — me olhou.
— Era pra ser surpresa. — disse rindo, nervosa e com medo da forma que ela poderia o tratar.
— Estou surpresa! Muito! — gargalhou.
— Então! Surpresa! — fiz o sinal das palmas em libras, chacoalhando as mãos enquanto sorria.
— Me desculpa, nem falei com você direito, meu filho. — ela abraçou o Diogo inesperadamente — Entra, o almoço está quase pronto apesar da hora. Eu estava testando uma receita de empadão de frango onde vai um pouco de água na massa. — deu espaço pra nós passarmos.
— Dona Denise, a senhora leu meus pensamentos, eu estava com saudade da sua comida. — disse bem-humorado, a fazendo rir.
— Isso é conexão de família! — brincou.
Ao entrar, prontamente o deixei à mesa, sentado e me esperando aparecer com os pratos. O Diogo era muito prestativo, sem eu precisar pedir, ele ajudava. Mas naquele momento frisei a ele que ele era visita, logo ele precisava ficar quieto e confortável. Colou, ainda bem. Eu precisava de espaço pra conversar com a minha mãe.
— Que cara foi aquela? — sussurrei pra ela, me certificando que ele estava distraído.
— Que cara você queria que eu fizesse? Você estava chorando, mal, triste até semana passada porque aparentemente ele tinha te abandonado pra viver o sonho dele. — cochichou — Eu sou sua mãe, seu sangue! Amo ele, mas amo mais você. Não vou fingir que ele não me deixou desapontada, ele me deixou e te deixou também!
— Eu sei, eu sei. — admitir era horrível — Mas finge que está tudo bem, não deixa ele perceber que você sabe o que tá acontecendo. No final, é íntimo meu e dele e conhecendo ele, sei que se ele souber que você sabe o que tá acontecendo no nosso pessoal, ela vai ficar chateado pela exposição. Consegue fazer isso? — quase implorei — Só por hoje, mãe.
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Elã
RomanceA segunda parte do livro "Entre a Paz e o Caos", "Elã" retoma sua história oito anos após os eventos. Os personagens principais, Felipe e Brenda, agora moram em São Paulo, enquanto Amanda e Diogo permanecem no Rio de Janeiro. Felipe abandonou a vida...