Capítulo Nove

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Felipe Ribeiro

— Posso entrar? — bati na porta do nosso quarto.

Depois de sabermos que agora estávamos esperando uma pessoinha, eu batia nas portas que eu sabia que a Brenda estava atrás. Ela estava mais emotiva, chorosa, e estava mais envergonhada que o comum. Parecia que ela se envergonhava do que ela estava, ainda, cogitando fazer. Eu já havia conversado com ela que não a condenaria caso ela abortasse, que ficaria entre nós e que, principalmente, aquilo não seria usado em brigas pra culpabilizar quem quer que fosse. Mas pareceu que ela não acreditou muito em mim, eu percebia que ela se sentia sufocada e presa.

— Pode. — respondeu de forma leve.

Ao entrar, encontrei ela de frente pro espelho, olhando sua barriga com atenção, ainda de sutiã e calcinha.

— Felipe, cê acha que minha barriga cresceu? — perguntou enquanto se olhava.

— Sendo sincero? Não. — ri, me aproximando, a puxando pra um beijo.

— Deixa eu me vestir! — tentou fugir dos meus beijos, rindo — O exame é daqui a uma hora e a gente ainda tá em casa!

— Vai dar certo, calma, é perto daqui. — insistia em beijá-la enquanto ela se esquivava e ria.

— Para! — gritou, bem-humorada.

—Não paro, não! — a joguei na cama.

Enquanto ela ria e se debatia, sem forças, eu parei e a olhei com olhos de amor, a vendo vermelha igual um tomate. Não seria louco de deixar aquela menina sofrer, eu sabia o quão dolorido poderia ser pra nós dois caso fosse egoísta e a forçasse a ter aquela criança.

— A gente vai se atrasar. — disse rindo — Amor, o exame tem hora, deixa eu levantar. — ela ofegava.

— Eu sei, calma. — ri.

— Calma, não! É trinta minutos de casa pra clínica e pode estar tudo engarrafado. Você pode ir se arrumando que eu já tô quase pronta!

— Me dá cinco minutos. — beijei sua bochecha inesperadamente, a escutando rir.

Eu usei até menos tempo do que eu pedi. Como já estava de banho tomado, apenas pus uma calça jeans, um blusão preto e um tênis que já implorava pra ser aposentado o mais rápido possível. Me olhando no espelho, me orgulhei do que eu havia me tornado e ao mesmo tempo senti medo do nosso amanhã, do meu e o da Brenda. Talvez não fôssemos mais só nós e o Caio e isso me causava ansiedade.
A viagem não foi tão longa assim, a estrada não estava engarrafada e chegamos ao consultório às sete e cinquenta e cinco, cinco minutos adiantados. Ao chegarmos, o rosto de Brenda mudou, ela ficou visivelmente apreensiva, tensa, desconcertada.

— Ei, escuta. — a chamei.

— Oi. — me olhou, os olhos brilhavam de lágrimas.

— Lembra do que eu disse? Você não precisa ser mãe, se não quiser. A gente só está aqui pela sua segurança, pra saber as semanas e informações básicas da gestação.

— Eu sei. — cochichou — Não queria estar sentindo medo... Medo disso. — engoliu saliva — Eu sempre quis ser mãe. Eu quero. Mas... — suspirou — É difícil.

— Eu sei, mas eu tô contigo. Vamos? — sorri.

Ela olhou pra minha mão, piscou algumas vezes enquanto sentia uma agonia tão lacerante que conseguiu me passar por osmose, assentiu e abriu a porta do carro, saindo.

— Tô com medo. — disse secando as mãos no seu vestido longo.

— Eu também, mas vai ser rápido. — peguei sua mão.

ElãOnde histórias criam vida. Descubra agora