Capítulo Dois

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Diogo Novais

— E o resultado, sai quando? — Thiago perguntou.

— Dia doze, amanhã. — suspirei — Tô com medo.

— De quê? Se você não tiver conseguido, bora pro próximo plano! — disse otimista.

— E se eu não tiver conseguido nem o próximo plano? Sério, não tava sentindo a mínima falta desse nervosismo pós prova.

— Se você não tiver conseguido, não conseguiu! — riu — Bora pro próximo ano que abrir o concurso.

— Estudei pra caralho, fiquei sem dormir, se eu não tiver conseguido... Aí você vai no IML reconhecer meu corpo porque eu vou cair duro aonde eu estiver.

— Olha, Diogo... Eu confio em você, sendo bem sincero mesmo, mas a gente precisa ser realista. Tem gente que estuda há anos pra vaga de Delegado, você começou o quê? Na metade do seu bacharelado? — perguntou abrindo a geladeira — Quer alguma coisa?

— Quero não, valeu. E eu sei, mas sei lá, sinto que consigo, sabe? Ainda tem uma pontinha de esperança dentro de mim, bem lá no fundo.

— Eu espero que dê tudo certo, mas se não der... Não fica na merda, olha o tanto que você já tem. Major da PM, cê tem noção do que é isso?

— Tenho e eu sou feliz nessa minha realidade, mas é foda a frustração.

— A frustração existe, lide com isso. E a Amanda, cê já falou pra ela? — veio na minha direção com uma maçã, a mordendo.

— Não disse pra ela sobre a PF, só sobre a PRF e muito por alto, falei como se fosse uma vontade passageira, ela não sabe que eu fiz as provas. Se eu passar, não sei como eu vou falar que vamos precisar nos mudar, não quero ficar no Rio de jeito nenhum. Nunca quis, ainda mais depois daquele episódio. Tô com medo dela reagir mal, mas ela tá acostumada.

— Relaxa, ela vai te apoiar, ela sempre te apoia. — disse me confortando — E qualquer coisa, fala sobre o que aconteceu.

Uma coisa era fato, só não saí do Rio com a Amanda depois do que havia acontecido porque eu não consegui transferência, mas eu sempre tentei, só nunca tive êxito.
Nosso assunto foi interrompido por Hugo, meu afilhado e filho do Thiago com Lorena, que tinha acabado de acordar. Ele era a coisa mais preciosa da minha vida, a Amanda o amava também, mas só eu sabia o quão significativo era ver a continuação do Thiago depois de tantos anos de amizade.
Thiago e Lorena acabaram dando errado, mas ainda tinham muito contato por causa do Hugo. Confesso que eu vivi o luto do relacionamento deles junto com o Thiago, não conseguia ver ele com outra mulher que não fosse a Lorena e vice-versa, mas com o tempo eu fui me readaptando ao novo Thiago e à nova Lorena, afinal ela era amiga da Amanda e frequentava nossa casa assim como Thiago. Não podia prender meu cérebro a uma memória afetiva deles dois juntos.

— Pensei que não fosse acordar! — disse animado, pegando ele no colo apesar de pesado — Tá com bafinho. — zombei, rindo.

— Trouxe presente pra mim?

— Que isso? — ri — O presente é a minha presença, vim te ver, não tá bom?

Ele não disse uma palavra sequer, apenas saltou do meu colo e foi pro sofá, pegando o controle e ligando a televisão.

— Caralho, ele tá nem aí pra mim, só quis o presente. Puxou a Lorena. — sorri.

— A pior personalidade possível. Quer saber da nova?

— Me conta, que coisa besta você vai reclamar que ela fez dessa vez?

— Acredita que ela tá saindo com um cara do laboratório que ela trabalha? — me olhou — Descobri quando ela tava aqui, veio trazer o Hugo pra ficar comigo, aí peguei o celular dela pra ver o status do delivery, ela tinha pedido porque o Hugo cismou de comer japa, do nada desceu uma notificação do WhatsApp de um cara chamado "Vicenzo" falando "Tudo certo pra amanhã? Te busco às três da tarde.". — me contou desacreditado.

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