Amanda Linhares
— Certo, Amanda. E tem quanto tempo exatamente que sua menstruação não desce desde o encerramento do uso do anticoncepcional?
Depois do que aconteceu quando eu ainda tinha dezoito anos, mesmo com o Diogo dizendo que poderíamos tentar novamente a vinda de um bebê, eu preferi não. Era bem óbvio que eu estava machucada emocionalmente depois daquele episódio traumático, um caco frágil pronto pra estilhaçar em mais dez pedaços, mas não me deixei guiar pela emoção e pela vontade de tampar aquele buraco emocional com um bebê que substituiria o bebê que não conseguiu vir. Me dei um tempo pra digerir tudo o que tinha acontecido e quando fiquei "bem", quis engolir o mundo em forma de conhecimento, quis evoluir sozinha, sem ter alguém pra cuidar.
Fiz licenciatura em Matemática, meu sonho era poder lecionar em sala de aula, ensinar como fui ensinada e exercer a profissão que dá início à todas as profissões. Após quatro anos de estudo, tive êxito no meu sonho.
Me priorizei cognitivamente e depois que eu consegui alcançar tudo o que eu quis, senti que estava pronta. Estava na hora de eu priorizar meu emocional, mental e meu instintivo. Eu queria ser mãe novamente e meu instinto maternal estava à flor da pele, implorando por uma criança.— Quinze meses. — revelei.
— Bastante tempo. — disse folheando o meu exame — Amanda, o seu caso está me parecendo FOP. Falência Ovariana Prematura. É a menopausa precoce. É comum que após suspender a contracepção, o corpo demore a perceber que a contracepção foi interrompida. A menstruação pode atrasar de dez a onze meses. Mais do que isso, não é mais efeito colateral do anticoncepcional, é algo além.
Escutar aquilo foi um baque. Novamente se passou um filme do dia vinte e seis de julho de dois mil e dezenove na minha cabeça, o dia em que eu quase morri... Sabia que aquele dia jamais deixaria de me assombrar, mas não dessa forma. Sabia também que minha infertilidade não tinha a ver com a agressão que sofri, mas juntou o que ocorreu no passado com o meu presente e meus olhos marejaram minimamente, não consegui esconder da médica.
— Então... Parei de ovular pra sempre? Não posso ter filhos? — perguntei com a voz embargada.
— Antes de te afirmar, vamos fazer mais alguns exames, nada está perdido e mesmo que pareça estar, existem diversos tratamentos. Não vamos nos dar por vencidas. — sorriu doce.
Meu sorriso quase não saiu, minha mente estava um turbilhão. Saí da clínica ainda aérea, não chorei, não tive nenhuma reação notável, estava apenas em silêncio. Meu celular tocou e me trouxe de volta à Terra, era a minha mãe.
— Oi, mãe! — tentei manter a voz leve, não queria ter que explicar o que estava acontecendo, não agora.
— Oi, bebê! Como você tá? Tô com saudades!
Eu e minha mãe não morávamos mais juntas, agora eu... Era casada e morava com o Diogo. Pois é, oficialmente uma Novais Mancini, mas só no sentindo figurado. Não quis adicionar o sobrenome do Diogo no meu nome porque eu achava desnecessário, era só um sobrenome e éramos literalmente casados, não seria um sobrenome que iria fazer nosso casamento falir. E em questões burocráticas foi mais fácil pra mim, não precisei emitir diversos documentos novos, e não sendo pessimista, mas caso divorciássemos em um futuro hipotético, não precisaríamos refazer todos os nossos documentos com nossos nomes de nascença. Eu sempre seria a Amanda Linhares de Sá e ele sempre seria o Diogo Novais Mancini.
— Estou bem, tô indo pra casa descansar. Amanhã eu começo na escola. — sorri fraco, estava feliz com minha conquista, mas minha saúde uterina estava me preocupando.
— Ai, que delícia, meu amor! Tô tão feliz por você! E você? Vem me ver quando?
— Olha, provavelmente fim de semana. Mas a senhora também pode vir, mãe. Tem tanto tempo que não vem, o Diogo tá achando que é pessoal com ele. — ri.
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Elã
RomanceA segunda parte do livro "Entre a Paz e o Caos", "Elã" retoma sua história oito anos após os eventos. Os personagens principais, Felipe e Brenda, agora moram em São Paulo, enquanto Amanda e Diogo permanecem no Rio de Janeiro. Felipe abandonou a vida...