Capítulo Oito

193 13 9
                                    

Diogo Novais

— Hoje o dia foi bom, hein! — Samuel disse.

— Foi porque o Diogo foi o Xerife da turma! — Rômulo zombou, batendo no meu ombro.

Em um mês de incorporação na Academia, todos da turma já eram muito próximos. Não éramos melhores amigos, mas ao menos eu não era um estranho no ninho. Claro, eu não era próximo dos noventa e nove colegas de turma, mas era próximo de cinco colegas, em especial, e gostava bastante da companhia deles. Eles já valiam pelos outros noventa e quatro.

— Dia ótimo e meu ombro doendo. — Nicoly disse rindo, zombando da própria situação — Mais um pouco e hoje a cerveja ia ser na janela do meu quarto de hospital!

— Mas o erro foi seu, cê não encaixou a coronha na escápula. — disse convencido — E eu falei pra você, não foi falta de ajuda.

— Em mímica! — deu um tapa no meu braço — Eu não entendi nada!

— Aí eu falo alto e levo bandeira. — ri — Não! Tem que saber se comunicar em silêncio também, isso salva o tático. É regra de guerrilha urbana!

— Você é carioca, porra! — Matheus disse — Vai comprar pão e se depara com cinco fuzis e uma bazuca na esquina de casa!

— Ah, vai se foder! — gargalhei.

— Assim é fácil, a galera aqui da mesa nunca precisou fazer mímica pra se comunicar na hora do tiroteio. — reforçou.

— Pra falar a verdade, acho que a turma toda nunca precisou nem atirar com um fuzil. — Thales disse — Só você que veio do famoso Hell de Janeiro. — fez um trocadilho, me fazendo rir.

— O Rio não era tão assustador igual vocês pensam. A Bahia é mil vezes pior e ninguém zoa a Nicoly por isso. — impliquei com ela, a vendo rir.

— A Bahia é um mel!

— Você não é de Jequié? — Matheus zombou.

— Não enche, manauara. Manaus é horrível também, mais morre gente do que peixe lá!

— Santa Catarina é bom, não tem o que eu reclamar. — Samuel disse, virando seu copo de cerveja.

— É bom pra quem não é preto, né, Capitão América? — Thales zombou — Nasceu branco, loiro e olho verde. — riu.

— Nasceu com a skin lendária, seria fácil até pra mim. — Rômulo disse — Mas o único que mora bem aqui é o Samuel mesmo. Thales mora em Osasco, eu moro em Olinda. — riu.

— Pelo menos ninguém aqui mora em Belford Roxo. — Nicoly zombou.

— Sem falar do meu estado, por favor. — disse fingindo seriedade, a fazendo rir.

— Então voltemos ao brinde! Um brinde ao PM carioca do Choque! — Rômulo disse — O único ex Major de Polícia Militar da turma da Academia! Carioca e PM desde os dezenove, o puro suco do Rio!

— Puro suco por quê? — ri.

— Porque quem nasce no Rio vira bandido ou PM. — disse rindo — Um brinde a nós que passamos no pior concurso do Brasil. — disse, levantando a caneca de cerveja.

— Um brinde! — disse animado.

— A próxima rodada é sua! — Nicoly disse, me dando uma cotovelada fraca.

— Duvido. — ri.

Era bom estar com eles, minha nova família temporária. Duraria mais quatro meses até a formação acabar, teria mais quatro meses pra conviver com eles, e após a formatura, possivelmente, a nossa convivência duraria a vida toda. Eu estava ali, bebendo e comemorando com os meus, mas eu me sentia vazio, faltavam tantas pessoas ali comigo. Thiago, meus pais, meu cachorro, mas principalmente... A Amanda. Me sentia vazio, era um oco que estava instalado em mim. Tudo o que eu fazia não tirava esse mal-estar.

ElãOnde histórias criam vida. Descubra agora