Capítulo Dez

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Amanda Linhares

Depois que saí com o Lucas, contei tudo pra Rebeca, cada detalhe e cada olhar diferente que notei. Não era burra, eu senti a intenção dele de forma sucinta e, apesar de ter gostado de ter sentido aquele frio na barriga e o anseio do novo, eu sabia que aquilo era uma forma de traição.
Não traí carnalmente e nem em pensamento, não senti desejo de fato pelo Lucas, mas sabia que gostar daquela adrenalina que ele me causava era errado de alguma forma, partindo da premissa que aquilo não estava dentro do combinado da minha relação. Pro Diogo era gravíssimo dar abertura pra alguém, dar a entender que aquela pessoa tinha um sinal verde pra avançar a qualquer momento.

— Pra começar — abriu uma latinha de cerveja —, por que você está sem a sua aliança? — se sentou no sofá de forma relaxada.

— Tira esse pé preto do meu sofá. — disse rindo, levando suas pernas e me sentando embaixo delas — E eu já disse, porque eu não queria olhar pra aliança e lembrar que o significado dela foi quebrado por causa de um distintivo e uma delegacia.

— Não, eu tô te perguntando o real motivo de você estar sem ela.

— Só teve esse motivo.

— Vai me dizer que o seu ego não cochichou no seu ouvido "Isso, trouxa, usa a aliança mesmo enquanto ele tá lá em Brasília, sem a aliança dele, bebendo em bar cheio de mulher, com um monte de homem que pensa igual homem e age igual homem."? — riu, dando um gole longo na cerveja.

— Ai, não me faz pensar isso. — ri, colocando as mãos no rosto.

— Pode falar, só tem a gente aqui. — riu.

— É, foi um pouco disso também, confesso. — ri, suspirando — É tão difícil ser racional nessas situações.

— Tá, pelo o que você me contou do que rolou ontem, deduzo que você só... Se sentiu útil e visível. Tátil, palpável, sabe? Pensa comigo. O Diogo foi embora, te deixou sozinha, fez você pensar que é completamente substituível, você internalizou isso e agora que ele te fez acreditar que você é opcional, um outro alguém te mostrou que não, que você é completamente fixa dentro de um núcleo do seu cotidiano e nada substituível. — deu mais três goles em sua latinha.

— Você é incrível e conseguiu tirar esse peso de mim. — expirei — Cê tinha que ser psicóloga, tem mais jeito do que pra ser dentista. — zombei.

— Você acha que eu sou uma má dentista? — fingiu estar ofendida.

— O Diogo disse que você é carrasca e não para a broca quando pede.

— Em minha defesa, no dia que ele foi na minha antiga clínica, ele pedia pra eu parar a cada dois minutos de procedimento, eu tinha hora e uma fila de pacientes. — riu — Era uma cariezinha de nada.

— Eu te conheço bem e sei como você é.

— Eu sou ótima! — gargalhou, convencida — E outra, para de pensar no que o Diogo pode estar fazendo em outro estado. Se ele estiver fazendo algo de errado, a consciência é dele e isso não diz nada sobre você. Coloca a aliança de novo, vai por mim. E para de dar abertura pra esse professor, ele é homem! Homem só pensa com o pinto, ele só quer te papar e depois acabou. Não cai nessa, me escuta.

A campainha tocou, interrompendo o que eu tinha em mente pra externar. A Rebeca fez um sinal com a mão que indicava que depois continuaríamos e fui atender quem estava previsto pra chegar. Havia chamado a Lorena e minha mãe pro apartamento, nada mais justo do que ela saber o que estava acontecendo com a minha relação. A Lorena eu havia chamado estrategicamente. Apesar dela não estar mais com o Thiago, eles tinham um elo eterno, o Hugo, então eu sabia que as informações chegariam pra mim de forma despretensiosa, sem que eu precisasse buscar por ela. Obviamente eu gostava da Lorena, não a mantinha por perto por conveniência, mas naquele momento era um pouco.

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