Capítulo Cinco

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Diogo Novais

No banheiro, pós banho, escutei a porta da sala abrindo. Liguei a tela do meu celular. Oito e cinco da noite. A Amanda ficou fora por muito tempo, quase seis horas. Aproveitei pra usar a piscina do condomínio pela primeira vez, queria estar pronto o quanto antes pra tomar posse do meu cargo. Mas naquele momento, ao escutar a porta da nossa casa abrindo, me senti pequeno. Voltei aos meus dezessete anos de idade, quando meus pais descobriram que eu usava maconha esporadicamente com meus colegas de escola. Uma sensação de vergonha, de ter falhado, de não ter o que falar. Me senti um adolescente indefeso e vulnerável.
Respirei fundo e enrolei a toalha na cintura, abrindo a porta do banheiro e vendo a Amanda passar rápido pro nosso quarto.

— Amanda? — a segui, a vendo pegar uma toalha seca no armário juntamente a uma muda de roupa.

— Já falo com você, deixa eu tomar um banho antes. — passou por mim rápido.

Mas no ar eu senti um cheiro estranho. Cheiro de fumaça, não qualquer fumaça, fumaça de defumador. Bom, eu sabia porque o Thiago, depois do término com a Lorena, começou a frequentar uma casa de candomblé e lá ele achou o conforto necessário que tanto procurava, conseguiu amenizar a falta que sua família completa o fazia. Ele não era iniciado, mas ia nas sessões quando sentia que devia ir e não nego, uma vez ele me levou junto dele porque ele queria que eu participasse da assistência, mas tudo isso foi segredo e eu jamais contei pra Amanda, não por vergonha, mas por preferir assim. Ela acharia estranho um homem tão cético quanto eu frequentando lugares religiosos e me faria milhares de perguntas que eu não estava disposto a responder.

— Calma aí. — peguei em seu braço, a parando — Que cheiro é esse?

Ela arregalou os olhos involuntariamente, pigarreando e engolindo a saliva, falando em seguida:

— Que cheiro? — puxou uma mecha do cabelo pro nariz, tentando sentir algo.

— Cheiro de casa de artigo religioso. — puxei o ar fundo, tendo certeza — Cê tava em algum terreiro? — não pude deixar de soltar um sorriso fraco, de surpresa e estranheza.

— Eu?

Sabia que estava só por essa resposta. A Amanda era objetiva, se eu perguntasse algo que ela não tinha feito, ela falava prontamente um "Não." bem claro e redondo. Mas, em contrapartida, quando ela se esquivava dessa forma, sabia que ela queria mais tempo pra pensar em uma resposta convincente, a mais convincente possível.

— Por qual motivo cê precisou ir num terreiro? —perguntei curioso.

— Fui só acompanhar a Rebeca, deixa eu tomar um banho. — puxou o braço, indo pro banheiro e fechando a porta.

— Cê não foi fazer nada pra me afetar não, né? — perguntei à porta do banheiro — Tipo me deixar brocha. — ri.

— No dia que eu gastar energia e dinheiro pra atrasar a vida de alguém, pode me internar. — disse ligando o chuveiro.

— Tá — abri a porta do mesmo —, mas você, pelo menos, pode me contar o motivo real de ter ido? Não foi só pra acompanhar a Rebeca e se você não contar, vou estar no meu direito de te tratar igual uma estranha assim como você tava e ainda tá fazendo comigo.

— Eu não... — parou de falar, respirando enquanto molhava apenas do pescoço pra baixo do seu corpo — Eu não estou te tratando feito um estranho, eu só tô tentando digerir a ideia de que você vai embora do Rio em alguns meses e eu vou ficar sozinha aqui, possivelmente irei de casada à divorciada.

— Porque você quer. — rebati.

— Não quero entrar nesse tópico novamente, a gente sabe quem tá com a razão e no fim, você também sabe que isso vai acontecer. — foi direta enquanto se ensaboava.

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