Capítulo Três

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Felipe Ribeiro

Estava extremamente atrasado. Era sete e meia da manhã e a Brenda havia me dito que estaria liberada às sete em ponto, eu precisava buscá-la logo, ela devia estar morrendo de cansaço.
Corri com o carro da forma mais dinâmica e prudente que eu consegui, cheguei ao BASP, Base Aérea de São Paulo, extremamente ofegante, parecia que eu tinha corrido com minhas próprias pernas tamanha era a fadiga presente mim. A Base Aérea da Brenda ficava localizada em Guarulhos.
Sim, havíamos saído de Minas Gerais assim que Brenda fez dois anos na Escola de Formação, decidimos em conjunto achar um lugar pra morar perto da AFA, seria bom pra ela e pra mim.
Enquanto permanecia em São Paulo, consegui alugar a casa de Minas que era minha e da Brenda por mil reais mensais, ninguém nunca contestou o valor do imóvel até porque ele era completamente completo e confortável, valia mais do que aquele preço e ainda estava localizado num lugar muito procurado por centenas de pessoas. São Tomé das Letras era uma cidade pequena mas turística, recebia milhares de visitantes mensalmente. Era um lugar muito visado por pessoas espiritualizadas, a nossa casa nunca ficava vazia por esse motivo. Eu alugava tanto pra moradia quanto pra temporada, admito que pra moradia foi locada apenas três vezes, mas pra temporada... Eu sempre estava recebendo dinheiro por causa da casa, e nunca era pouco dinheiro. Brenda nunca fez questão dessa grana, apesar dela ter direito por ser dona da casa também , ela entendia que eu não tinha fonte de renda nenhuma além do jiu-jitsu e da casa. Sim, eu era instrutor de jiu-jitsu, não desisti do esporte e tomei um gosto indescritível. Quando Brenda foi pra Pirassununga, admito, realmente me bateu um desânimo insuportável. No primeiro dia sem ela eu consegui ir pro treino, no segundo, no terceiro e no quarto também, mas no quinto dia... Não consegui sequer sair da cama. Eu criei uma dependência emocional fodida dela, não só por eu a amar, mas sim pela nossa história e pelo o que ela tinha feito por mim. Eu via nela um porto seguro, era como se ela fosse a continuação da minha mãe. Problemático eu dizer isso, sei bem, mas era a verdade. Eu via nela uma figura maternal que eu não tive por muito tempo. Tudo bem que a tia dela ainda era bem presente na minha vida e me tratava igual um filho, mas era diferente. A Brenda nunca desistiu de mim por eu ter sido quem eu fui, sempre esteve disposta a me ajudar sem desistir dos seus sonhos e foi isso que ela fez, com extremo louvor. Me tirou do tráfico e de quebra ainda virou Segundo Tenente Aviadora. Pois é, agora ela era oficialmente piloto de avião e militar de Força Aérea, o sonho dela havia se concretizado com maestria.

— Pensei que eu ia ter que montar acampamento aqui pra te esperar. — disse entrando no carro — Demorou hoje, hein! — disse jogando sua bolsa enorme no banco de trás.

— Desculpa, te juro que não foi por mal. Eu tava no C.T. e acabei me perdendo com a hora, quando vi tinha atrasado.

— Tá perdoado. — sorriu, inclinando na minha direção e me beijando.

Seu beijo estava com gosto de café. Sorri ao recebê-lo e ao ver seu rosto com olhos de amor pra mim. Seu olhar nunca mudava, era o mesmo desde quando eu a conheci.

— Sabe o que eu fiz nesse serviço? — perguntou animada.

— Pilotou avião? — olhei pra ela rindo ao dar uma resposta óbvia.

— Não só isso, pilotei pra transportar um órgão! — comemorou — Primeira vez que eu participei de uma operação assim, foi muito incrível!

—Transportou órgão? — perguntei incrédulo — Uau! Isso não é o trabalho pros médicos já que envolve órgão?

— Eles não sabem pilotar avião, né? — riu — O meu trabalho é transportar o órgão que, em terra, vai ser implantado na pessoa que precisa por algum médico.

— E foi qual órgão?

— Um rim. A equipe de saúde me acompanhou junto com os mecânicos, foi leve, foi ótimo!

ElãOnde histórias criam vida. Descubra agora