Capítulo Quinze

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Felipe Ribeiro

— Não achei que fosse ficar tão... Simples. — A Brenda disse desapontada, olhando pra caixa revelação.

Ela passou dias da semana comprando coisas para que a caixa ficasse completa, programando a forma certa de surpreender seus familiares, sonhando com o momento da revelação e horas antes... Desanimou. Ela simplesmente desanimou e pareceu que a vontade de não ser mãe voltou, mas fingi não me importar, não queria dar margem pro tópico "Seu corpo, suas regras." porque apesar de ser literalmente isso, o corpo dela e as regras dela, eu queria ser pai, eu queria ver aquela criança saindo da Brenda, fazendo um ano de idade, vivendo, e eu queria tudo mais o que a paternidade poderia me ofertar. Eu queria ser pai e ponto.

— Amor, tem tudo o que uma caixa revelação precisa ter. — tentei amenizar o desânimo dela — Tem sapatinho, tem o teste digital, o teste de palitinho, a carta lúdica pra ajudar eles a entrar no clima, o body, a chupeta, o ultrassom. Tá perfeito! Tem até mais coisas do que o necessário. — ri — Não é, Caio? — estendi o braço para que ele viesse até nós na cama, assim ele fez.

— Eu sei, é que... — torceu os lábios — Mesmo estando lindo, parece que falta algo. E esse sapato poderia ser neutro, né? — pegou o Caio do meu braço, o beijando e o jogando no seu ombro — Conhecendo meus parentes, eles vão achar que é menina e nem a gente sabe.

— Eu sei que vai ser menina. — disse convencido.

— Sabe, é? — perguntou irônica — E quem te contou?

— Você sabe quem. — ela realmente sabia da história do terreiro.

— Quero só ver se esse malandro tá certo. — riu — Se tiver errado...

— Eles não erram nunca. Seguinte, vai pro banho que daqui a — olhei pro meu relógio de pulso — vinte minutos sua família chega, e em peso.

— Tá certo. — suspirou, sorrindo e levantando da cama — Amor, eu já estou indo, mas, antes de ir... — deixou o Caio na cama.

Sabia que depois dessa pausa dramática viria a pergunta mais difícil de responder, relacionada à paternidade, do mundo.

— Você tem certeza que quer ser pai? Quer dizer, você quer... Quer esse bebê?

— Brenda, eu...

— É que... — ela me interrompeu — Você já parou pra pensar que ser pai é você criar uma pessoa, não criar apenas um filho?

— Pra ser sincero, eu não entendi uma vírgula do que você disse. — disse pegando o Caio, o colocando no meu ombro.

— É que as pessoas querem ter um bebê, mas esquecem que esse bebê vai virar uma criança que vai fazer birra no meio do silêncio do cinema e que a gente não vai ter o que fazer perante os olhares de julgamento das pessoas achando que somos dois lesos de não saber controlar a situação. Logo após vai virar um adolescente que vai odiar a gente só por impormos limite e regras dentro da nossa casa. Depois vai virar um adulto que pode se tornar um neurocirurgião, mas que também pode se tornar um... — ela parou de falar por medo de pesar o clima, sabia o que ela diria.

— Não vai acontecer isso. Ela nunca vai precisar virar nada de ruim porque eu vou dar tudo o que eu não tive.

— Mas e...

— Ela não vai. — a interrompi — Eu só precisei ser o que eu fui pra não passar fome, pra não morrer.

— Eu não quis te ofender, Felipe, mas é que paternidade é pra sempre e isso está me deixando... — sua voz tremulou, ela parou de falar novamente.

ElãOnde histórias criam vida. Descubra agora