Capítulo Vinte e Dois

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Amanda Linhares

Apesar de termos conversado e termos sidos sinceros um com o outro, não sei, ainda me sentia meio mal. Era um desconforto e um incômodo gigantesco em relação às camisinhas, não conseguia dissipar aquilo dentro de mim. Só consegui me controlar ao máximo por causa do que havia saído nas cartas, quando joguei com a mãe Helena. O meu maior medo era fazer o Diogo se sentir negligenciado por mim a ponto dele perder o interesse em estar comigo aos poucos, a ponto dele desgostar de mim.
Não transamos após comermos no dia anterior. Assim que acabamos de lanchar, o Diogo foi pro quarto com a desculpa de que ia me esperar na cama e quando eu cheguei no quarto ele estava roncando, com a boca aberta, descoberto e com os pés tão gelados que eu não ousei tentar esquentar em mim igual eu sempre fazia. Apesar de um pouco frustrada, não consegui ficar chateada demais e nem manter minha frustração porque o dia dele tinha sido cansativo, longo, e eu também não era o tipo de mulher que exigia sexo dele. Ele estava cansado e eu aceitei, eu iria fazer o quê? O acordar, obrigar ele a transar comigo e o ver convulsionar de cansaço e estresse logo em seguida? Okay, não aconteceria isso, mas pra mim ele não era um objeto, um consolo, então o respeitei, era o mínimo.

— E aí, como tá sendo? — a Rebeca me enviou às seis da manhã.

— Acordou cedo por quê? — enviei às sete e vinte e oito.

Meu corpo rejeitou a cama a partir das seis e trinta da manhã, mas eu ainda tentei forçar o sono por alguns minutos. Sem sucesso, não consegui.
Me sentia elétrica, agitada. Eu não sabia bem o motivo, mas tudo me levava a crer que era por causa do dia anterior. Eu estava tão aficionada, obcecada em tentar normalizar o que tinha acontecido que meu neurônios não paravam um segundo sequer. Quer dizer, não que não fosse normal não querer ser pai, mas pra mim estava tão difícil de digerir o fato do Diogo ter comprado camisinhas escondido de mim. Tá bom, camisinhas, grande coisa... Mas puta que pariu, era grande coisa mesmo, pra mim era! E daí? No fim de tudo eu engoliria minha vontade de falar pra ele "Se você usar essa camisinha, a gente já era!". E o pior de tudo é que no fim era só uma camisinha, só.

— Vou te ligar. — anunciou e não demorou nem cinco segundos, eu a atendi sem cerimônias — Fui correr na orla com o Antônio. — respondeu minha pergunta por mensagem.

— Uau, ele tá te mudando mesmo. — ri.

— Eu sempre fui saudável, para de fofoca. Mas me conta, você acordou cedo por quê? Ou você nem dormiu ainda? — perguntou bem-humorada.

— Quem me dera, mas não, eu acordei cedo mesmo. E respondendo sua pergunta, não tá sendo tão bom assim, aconteceu uma coisa que me deixou meio desconcertada mas ainda estou no começo da viagem então... Tentando relevar.

— Brigaram de novo?

— Não foi bem uma briga, foi mais um desconforto desnecessário. Eu sabia que minha menstruação tinha sido uma questão pra ele. Ele comprou camisinha escondido de mim.

— Como assim? Ele achou que você não fosse escutar ele abrindo a embalagem ou não fosse sentir uma coisa lisa entrando em você? — zombou.

— Não sei o que ele pensou e nem quero saber. Eu só sei que ele comprou mas eu não consegui reagir da forma que eu me senti. Eu me segurei ao máximo porque no fim ele só não quer ser pai, não tem nada de errado nisso e se eu fosse explosiva, eu só estaria sendo uma maluca.

— E por que ele mentir sobre algo que deve ser conversado é... Normal?

— Eu não disse que era normal, mas eu fiquei contra a parede. É a mesma coisa de eu não querer ser mãe e ele tirar a camisinha sem eu perceber e gozar dentro de mim.

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